Um fenômeno atmosférico não tropical se formou durante a noite da quinta-feira (15) e a madrugada de sexta-feira (16) próximo à costa do Norte do Rio Grande do Sul e ao Sul de Santa Catarina. A região de menor pressão se intensificará rapidamente próximo ao litoral, resultando em um ciclone com aumento significativo da velocidade do vento e da precipitação.
A MetSul Meteorologia alerta para uma situação extremamente perigosa, com risco meteorológico muito alto (alerta vermelho) devido às chuvas excessivas a extremas, bem como ventos que podem causar danos significativos. Este fenômeno será o mais intenso a ocorrer no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Diz-se isso desde que a tempestade subtropical Yakecan passou em maio de 2022.
Ao contrário de Yakecan, que foi um fenômeno atmosférico atípico (subtropical), esse fenômeno é mais comum durante o inverno no Rio Grande do Sul. Ele se originará da área com menor pressão que vem do Sudeste. No entanto, a sua trajetória, tal como a de Yakecan, é incomum, pois será um deslocamento do leste para o oeste em direção ao continente.
Modelos numéricos informam uma área com menor pressão central com 1003 hPa próxima à costa gaúcha na sexta-feira. Portanto, não será uma área de menor pressão profunda, mas estará muito próxima da costa, praticamente com o centro localizado sobre a faixa litorânea. Haverá uma área de maior pressão com 1025 hPa no Nordeste da Argentina, gerando um gradiente de pressão que favorecerá a ocorrência de ventos fortes a intensos.
Alerta do vento por ciclone muito intenso
A MetSul Meteorologia faz um alerta para o alto perigo de ventos fortes a intensos entre o Nordeste gaúcho e o Sul de Santa Catarina nesta sexta-feira. Algumas áreas podem ser afetadas por ventos destrutivos.
É esperada uma velocidade do vento de 80 km/h a 100 km/h no Litoral Norte gaúcho, com rajadas que podem ser ainda mais intensas. Isso aumenta o potencial de danos. O risco é maior em:
- Pinhal;
- Quintão;
- Cidreira;
- Imbé;
- Tramandaí;
- Xangri-lá;
- Osório;
- Três Cachoeiras;
- Capão da Canoa;
- Palmares do Sul;
- Torres;
- Arroio do Sal;
- Terra de Areia.
No Leste dos Aparados da Serra e no Planalto Sul Catarinense, são esperadas rajadas de 80 km/h a 100 km/h. Mas, isso acontecerá em áreas de maior elevação, como montanhas e encostas próximas ao litoral acima de 1000 metros de altitude, as rajadas podem atingir de 120 km/h a 140 km/h.
Na região Sul e Leste da Grande Porto Alegre, incluindo cidades como Guaíba, Gravataí, Eldorado do Sul e Viamão, espera-se uma média de rajadas de vento de 60 km/h a 80 km/h. No Litoral Sul de Santa Catarina, as rajadas podem chegar a 80 km/h a 100 km/h, e em algumas áreas isoladas, podem atingir de 110 km/h a 120 km/h.
De acordo com os modelos numéricos, o período de maior risco de ventos fortes a intensos será durante a madrugada e manhã de sexta-feira. A partir da tarde até a noite, espera-se que o vento diminua gradualmente à medida que o ciclone extratropical se afasta da costa.
Ventos farão estragos
Existe a possibilidade de quedas de árvores, postes, danos em telhados e colapso de estruturas. Isso acontecerá especialmente no Litoral Norte do Rio Grande do Sul e em balneários mais ao sul de Santa Catarina. No Planalto Sul Catarinense e no Litoral Norte gaúcho, não é recomendado o tráfego em rodovias, principalmente para caminhões, desde a noite de hoje até o meio-dia desta sexta-feira. Tal ocorrência será devido aos ventos muito fortes que podem até virar veículos maiores.
Há um risco extremamente alto para a navegação, que deve ser evitada nas regiões costeiras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, bem como na Lagoa dos Patos e no Lago Guaíba, devido ao perigo de naufrágio de pequenas embarcações. Também é importante destacar o alto risco de aumento na elevação da maré (maré de tempestade), com ressacas no Litoral Norte do Rio Grande do Sul e na costa catarinense.
Alerta é dado para chuvas volumosas
A MetSul faz um alerta de que o ciclone não apenas manterá as condições climáticas instáveis, mas também intensificará significativamente a ocorrência de chuvas no Nordeste gaúcho no final desta quinta-feira e ao longo da sexta-feira. São esperados volumes extremamente altos de chuva no Nordeste do Rio Grande do Sul (Serra, Aparados da Serra, Grande Porto Alegre e Litoral Norte) e em partes do Sul de Santa Catarina.
Nessas regiões, é previsto um grande número de municípios com chuvas próximas ou acima de 100 mm em poucas horas. Em áreas mais a leste da Serra e do Litoral Norte gaúcho, os acumulados podem ser extremos, alcançando valores entre 150 mm e 300 mm em um curto período de tempo, ou seja, uma a duas vezes a média mensal.
Então, o modelo de previsão de alta resolução, WRF, indica até mesmo marcas de 300 mm a 500 mm em pontos isolados entre o Leste da Serra, Aparados e o Litoral Norte gaúcho. Isso representa volumes extraordinários de chuva. Essa previsão exige uma atenção especial para áreas próximas à Itati, Serra de Maquiné, bem como Três Cachoeiras, Três Forquilhas, Terra de Areia, Torres e Morrinhos do Sul. Além disso, os volumes podem ser muito elevados, acima de 200 mm, em setores da orla, como de Tramandaí e Arroio do Sal.
Chuva causará inundações
São esperados grandes volumes de chuva para a região Nordeste do Rio Grande do Sul. A ocorrência resultará em alagamentos e inundações na sexta-feira. O risco é mais elevado no Leste da Serra e Litoral Norte, embora a chuva também possa causar transtornos em outras áreas, como vales e a Grande Porto Alegre.
Em alguns momentos, a chuva será intensa, com acumulados significativos em um curto período de tempo, o que aumenta o potencial de alagamentos. Alerta-se para o alto risco de deslizamentos de terra e quedas de barreiras em rodovias da Serra e Litoral Norte, como a BR-101 e a Rota do Sol.
A chuva orográfica, resultante da interação com o relevo, trará volumes extremos. A umidade vinda do oceano, transportada pelo vento devido ao ciclone, encontra a barreira representada pelo relevo da Serra do Mar. Conquanto, conforme ascendem na atmosfera, encontram camadas mais frias, o que leva à condensação e à formação de chuva induzida pelo relevo.
Um exemplo simples e didático para entender esse fenômeno é o efeito de soltar ar da boca em frente a um espelho. Dessa forma, o espelho, com sua superfície mais fria, fica embaçado e molhado devido à umidade.
O mesmo ocorre com a chuva orográfica: o ar úmido e quente encontra o obstáculo físico representado pelo relevo e sobe na atmosfera. Assim, ao encontrar temperaturas mais baixas, ocorre a condensação do vapor de água, formando chuva.
Os episódios de chuva orográfica apresentam alto risco. Ademais, porque geralmente resultam em acumulados de precipitação localmente elevados, frequentemente superando as projeções dos modelos numéricos.
Impactos acontecerão em Porto Alegre
Os efeitos do ciclone extratropical serão sentidos em Porto Alegre e na região metropolitana, juntamente com o Litoral Norte. Então, as condições atmosféricas deteriorarão significativamente nas próximas horas, especialmente a partir da madrugada desta sexta-feira, com ocorrência de chuvas por vezes intensas e ventos.
Ademais, os volumes de precipitação na capital ao longo desta sexta-feira, especialmente durante a madrugada e a manhã, podem atingir níveis suficientemente altos. Isso causará alagamentos e o rápido aumento do nível de córregos. De acordo com as projeções dos modelos, os acumulados em poucas horas podem se aproximar ou até mesmo ultrapassar 100 mm em algumas áreas da região metropolitana.
Existe a possibilidade de transtornos causados pelo vento em Porto Alegre. Por exemplo: queda de árvores e interrupção de energia em diferentes pontos, embora não se espere ventos tão fortes quanto na costa. A grande quantidade de chuva deixará o solo instável e, juntamente com os ventos, aumenta a probabilidade de quedas de árvores.