O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta semana que a taxa Selic pode começar a cair no futuro. Ele citou a “queda relevante” da curva futura de juros como fator para o corte da taxa Selic, mas não disse quando isso irá acontecer de fato.
“A curva de juros futuros tem tido queda relevante. Isso significa que o mercado está dando credibilidade ao que está sendo feito, o que abre espaço para atuação de política monetária à frente“, disse Campos Neto em um evento do setor do varejo em São Paulo na última segunda-feira (12).
Essa declaração foi suficiente para aumentar as expectativas sobre uma redução nos juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que ocorrerá na próxima semana. Embora Campos Neto não tenha afirmado que isso acontecerá, muitos analistas veem a declaração como um indício de corte da taxa Selic.
No entanto, vale destacar que o presidente do BC disse que a autarquia precisa agir com “parcimônia”. Em resumo, ele ressaltou que o BC não pode reduzir os juros de maneira artificial, ou seja, sem analisar criteriosamente o cenário atual e as projeções para o futuro do país. Caso isso aconteça, o BC poderá não alcançar o resultado almejado, que se refere ao controle da inflação no Brasil.
“As inflações de mercado ainda estão acima da meta, mas estão caindo“, afirmou Campos Neto. Por falar nisso, a taxa inflacionária no Brasil continua elevada, mesmo com as recentes desacelerações. Aliás, a expectativa dos analistas do mercado financeiro indica que a inflação em 2023 deverá estourar a meta pelo terceiro ano consecutivo.
Apesar da declaração de Campos Neto indicar um corte na taxa de juros em breve, os analistas ainda acreditam na manutenção da taxa. Na próxima semana, o Copom se reunirá mais uma vez para definir os rumos da política monetária do país.
Em suma, a expectativa é que a taxa continue em 13,75% ao ano. A saber, esse é o maior patamar desde novembro de 2016, ou seja, em seis anos e meio. À época, a taxa Selic estava em 14,00% ao ano, levemente acima do nível atual.
Cabe salientar que o BC vem mantendo a taxa nesse nível desde agosto de 2020, quando promoveu o 12º aumento consecutivo nos juros. Esse foi o maior ciclo de altas já realizado pelo Copom no país.
Para quem não sabe, a taxa Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. Como a taxa inflacionária continua elevada no país, acima da meta, a entidade financeira optou por mantê-la estável nas últimas reuniões.
Isso já causou muitos comentários negativos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nos últimos meses, as críticas do presidente à taxa de juros no Brasil preocuparam o mercado, que temia pela perda da autonomia do BC. Contudo, o próprio governo disse que a autonomia da entidade não corre perigo.
A propósito, o presidente Lula fez questão de afirmar que o BC possui autonomia, mas não é intocável. No início de maio, o petista também disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, “não tem compromisso com o Brasil“. Segundo Lula, Campos Neto tem compromisso com “aqueles que gostam de taxa de juros alta“.
No mês passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender com mais intensidade a redução dos juros no Brasil. Em síntese, o ministro afirmou que a decisão da Petrobras em reduzir os preços dos combustíveis ajudará a desacelerar a inflação no país.
Aliás, os combustíveis exercem uma grande influência na taxa inflacionária do Brasil. Com a queda nos seus preços, a expectativa é que a inflação perca força, o que pressionaria o BC a reduzir os juros no país. Isso porque o principal objetivo de uma taxa de juros elevada é controlar a inflação do país.
Em meados de maio, a Petrobras surpreendeu o Brasil ao anunciar o fim da política de preço de paridade de importação (PPI). Essa política tinha as variações do petróleo e do dólar como principais fatores para a definição dos reajustes dos preços dos combustíveis.
Contudo, com o fim do PPI, a Petrobras passou a adotar uma nova política, que também levava em consideração fatores internos. Assim, os consumidores do Brasil não sofreriam com a alta volatilidade dos preços, uma vez que os reajustes aconteciam conforme as oscilações dos valores do barril de petróleo e da cotação do dólar.
O anúncio da nova política de preços não foi a única novidade da Petrobras. A companhia também reduziu em 12,6% o preço da gasolina vendida para as distribuidoras. A companhia também reduziu o preço do diesel e do gás de cozinha, e tudo isso passou a ser exaltado pelo governo, que defende ainda mais a redução da taxa de juros no país.