O Simbolismo no Brasil foi um movimento literário que ocorreu no século XIX e opôs-se a outros movimentos da mesma época como o Realismo e Naturalismo.
Esse estilo surgiu como uma forma de negar a realidade subjetiva, em um momento marcado pela frustração e medo. Assim, foi uma opção de fuga aos escritores, que buscaram obedecer a uma tendência que ia ao encontro dos ideais espiritualistas.
O movimento simbolista no Brasil surgiu após esse movimento começar na França, em uma época em que os artistas franceses estavam reflexivos acerca das suas produções. Na Europa, o responsável pelo início do Simbolismo foi o poeta francês Charles Baudelaire, com a sua obra “As Flores do Mal” (1857). Esse movimento foi adotado pelos autores brasileiros, porém não teve tanta força como teve o Parnasianismo no Brasil.
O Simbolismo no Brasil surgiu como influência para o teatro e as artes plásticas, além da literatura. Seu marco no país foi em 1893, quando o poeta Cruz e Souza publicou as obras “Missal” e “Broquéis”.
Foi em 1886 que o Simbolismo recebeu esse nome, ficando conhecido anteriormente como “Decadentismo”, em referência à inferioridade da estética simbolista em comparação aos valores estéticos de movimentos anteriores como o Parnasianismo.
Os autores do Simbolismo não seguiam a estrutura de versos perfeitos, que era uma das principais características do movimento parnasiano. Eles desenvolveram um modelo que ironizava a objetividade do movimento anterior.
O Simbolismo no Brasil e no mundo chegou a ser considerado como o movimento inimigo da sensibilidade, instrução e da descrição objetiva. Para os adeptos desse movimento a arte deveria focar nas verdades absolutas.
O declínio do Simbolismo no Brasil deu-se com o surgimento do movimento modernista, no começo da década de 1920. O Modernismo de 1922 foi um movimento cultural de grande repercussão, que influenciou a classe artística brasileira, cujo motim desencadeou-se a partir de novas tendências das vanguardas europeias. Sobressaiu-se ao Simbolismo no Brasil e aos demais movimentos anteriores apresentando novas linguagens modernas com enfoque em elementos da cultura brasileira.
Uma das principais características do movimento simbolista é o antagonismo ao parnasianismo. Assim, as obras desse estilo não tinham a preocupação estética e com a perfeição dos parágrafos como as obras parnasianas.
A literatura simbolista possuía uma abordagem entre o mistério e o misticismo, com um estilo que baseava nas rimas. Os autores dessa época priorizavam a intuição ao invés da razão ou lógica, utilizavam recursos do imaginário e da fantasia e preferiam usar artifícios imprecisos para interpretar a realidade. Assim, os simbolistas davam ênfase a temas imaginários, místicos e subjetivos. Eles desconsideravam as questões sociais abordadas por outros movimentos e as obras tinham caráter individualista sem preocupação com a verossimilhança.
Outra característica comum e facilmente percebida no simbolismo é o fato dos simbolistas demonstrarem uma preferência pela cor branca, sendo muitas vezes subentendida pelos termos “névoa”, “neblina” e similares.
A estética simbolista era marcada pela musicalidade, em que a poesia aproximava-se da música, exprimindo uma relação entre ambas. O recurso linguístico muito utilizado para essa estética era a aliteração, uma das figuras de linguagem representada pela repetição de um mesmo fonema consonantal.
Os autores do simbolismo procuravam escrever sobre o inconsciente humano, como os sonhos. Também era comum que focassem o ponto de vista da obra em um único indivíduo.
Em 1893, o poeta brasileiro catarinense João da Cruz e Sousa (1861 – 1898), conhecido como Cruz e Sousa, Dante Negro ou Cisne Negro, publicou duas obras que foram consideradas o marco do Simbolismo no Brasil. Foram elas: Broquéis (1893, poesia) e Missal (1893, poemas em prosa). Escreveu, ainda, Tropos e Fantasias (1885, poemas em prosa, junto a Virgílio Várzea).
Os poemas apresentados por Cruz e Sousa têm como características a tendência à sensualidade do indivíduo, o individualismo, um certo desespero e a preferência pela cor branca.
Esse autor militou pela escravidão, retratando o assunto em alguns dos seus poemas, por meio de metáforas. Após o falecimento de Cruz e Sousa surgiram as obras póstumas Últimos Sonetos (1905); Evocações (1898, poemas em prosa); Faróis (1900, poesia); Outras evocações (1961, poema em prosa); O livro Derradeiro (1961, poesia) e Dispersos (1961, poemas em prosa).
Veja, abaixo, o poema Antífona, do livro de poesias Broqueis, de Cruz e Sousa.
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas…
Incensos dos turíbulos das aras
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas…
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas …
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume…
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume…
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes…
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes …
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente…
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas…
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas…
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos…
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios…
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios…
Tudo! Vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte…
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