O avanço da tecnologia tem transformado a forma como as instituições públicas operam, e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não é exceção. Nos últimos anos, o INSS tem adotado medidas para automatizar o processo de concessão de aposentadorias, utilizando o chamado “INSS robot“. Essa mudança tem gerado impactos significativos, tanto positivos quanto negativos, no sistema previdenciário brasileiro.
A transição para o uso do INSS robot teve início em 2017, com a implementação do aplicativo Central de Serviços, posteriormente substituído pelo Meu INSS, que se tornou o principal canal de atendimento. Antes, todo o processo de solicitação de aposentadorias era feito de forma manual, com análise de documentos em papel e etapas executadas por sistemas diferentes.
Com a automatização, as diferentes plataformas foram integradas e o CPF passou a ser utilizado como identificador único para reunir as informações dos contribuintes. Essa mudança trouxe mais agilidade ao processo, mas também trouxe desafios, como a necessidade da correção de erros de cadastro e a falta de digitalização completa dos registros de beneficiários.
A utilização do INSS robot tem proporcionado uma maior eficiência na concessão de aposentadorias. Segundo o INSS, o robô concede metade dos pedidos feitos na fase inicial, mantendo uma taxa histórica. No entanto, especialistas argumentam que o processo poderia ser ainda mais eficiente.
Um dos principais desafios enfrentados é a alta taxa de indeferimentos devido a erros de cadastro. Muitas vezes, o sistema rejeita o benefício sem margem para correção, colocando os solicitantes em uma longa fila de recursos. Estima-se que a fila da aposentadoria conte com 1,7 milhão de pessoas, enquanto a de análise de tarefas pendentes chegue a 7,6 milhões.
Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), ressalta a importância de um processo mais humanizado. Ela argumenta que o sistema deveria identificar os erros nos processos, encaminhar exigências aos segurados e permitir a correção antes de negar o benefício. Assim, uma parcela significativa dos pedidos indeferidos poderia ser corrigida e concedida.
A automação foi adotada como uma tentativa de suprir o déficit de servidores do INSS, que enfrentou a perda de mais da metade do seu efetivo nos últimos anos. A digitalização dos processos era discutida desde 2015, quando já se previa a aposentadoria de muitos servidores. Entre 2015 e 2020, cerca de 20% do efetivo se aposentou, resultando em 23 mil cargos vagos no órgão.
Apesar dos esforços do INSS em melhorar os processos e investir em infraestrutura, a falta de pessoal tem afetado diretamente o atendimento. Com a migração dos pedidos de aposentadoria para o Meu INSS, as agências passaram a atender apenas para tirar dúvidas e realizar perícias. Isso tem gerado dificuldades para os beneficiários, especialmente aqueles que possuem baixo acesso à tecnologia e ao mundo digital.
Além dos desafios de pessoal, o sistema do INSS tem enfrentado constantes indisponibilidades. Desde o início do ano, foram registradas 51 instabilidades nos sistemas, conforme informações divulgadas pelo próprio INSS. Essas instabilidades afetam tanto os servidores quanto os beneficiários, impedindo o acompanhamento e a realização de alterações nos pedidos.
O INSS reconhece a necessidade de melhorias e tem investido em infraestrutura para modernizar os sistemas. Uma das ações tomadas foi a absorção das operações assíncronas, em que as informações são inseridas em um sistema e processadas fora do horário comercial. Isso tem contribuído para evitar sobrecargas e garantir a continuidade das operações mais importantes.
A automatização do processo de concessão de aposentadorias pelo INSS tem trazido benefícios e desafios para os beneficiários. Por um lado, a utilização do INSS robot tem agilizado o processo e possibilitado a concessão de metade dos benefícios na fase inicial. Por outro lado, a alta taxa de indeferimentos e a falta de pessoal têm gerado longas filas de recursos e dificuldades no atendimento.
Para garantir um processo mais eficiente e humanizado, é necessário investir em melhorias contínuas nos sistemas do INSS, além de contratar mais servidores. A tecnologia pode simplificar o processo, mas o trabalho humano ainda é fundamental para analisar casos complexos e corrigir erros de cadastro.
O INSS está em constante evolução, buscando aprimorar seus processos e oferecer um atendimento de qualidade aos beneficiários. A automatização é uma realidade que veio para ficar, mas é importante encontrar o equilíbrio entre a tecnologia e o atendimento humanizado, garantindo que todos os brasileiros tenham acesso ao benefício da aposentadoria de forma justa e eficiente.