Publicado em 1881, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é um dos livros mais icônicas da literatura brasileira. Trata-se de uma das principais obras de Machado de Assis. Nela, o protagonista, Brás Cubas, narra sua própria história após sua morte, o que proporciona uma perspectiva singular e irônica sobre a sociedade brasileira do século XIX.
Para entender o significado desta obra é essencial contextualizá-las dentro do cenário histórico do Brasil daquele período. O país estava passando por profundas mudanças políticas, sociais e econômicas após a independência de Portugal em 1822. Desse modo, a escravidão, a elite agrária e a urbanização eram questões centrais da época.
Machado de Assis, um observador atento desses desenvolvimentos, utilizou sua literatura para questionar e criticar a sociedade.
O livro apresenta uma narrativa não linear e fragmentada, o que é uma característica marcante da obra. A história começa com a morte de Brás Cubas e seu desejo de contar sua vida “depois da morte” como uma espécie de revisão irônica de sua própria existência.
Ao longo do livro, Brás Cubas narra suas experiências desde a infância até a idade adulta. Ele relata sua educação, seu relacionamento com Virgília e Marcela, sua tentativa frustrada de ingressar na política, suas reflexões filosóficas e suas observações sobre a sociedade.
Uma das características marcantes da obra é o uso do anti-herói como protagonista. Brás Cubas não é um herói tradicional; é um homem egoísta, cínico e desiludido. Sua decisão de narrar sua própria história após a morte, enquanto flutua sobre seu túmulo, simboliza a quebra das convenções literárias tradicionais.
Assim, o personagem, ao longo da narrativa, faz uma análise crítica da sociedade em que viveu. Ele se apresenta como um observador perspicaz das falhas humanas e da hipocrisia social. Através de sua voz narrativa direta e sem rodeios, Machado de Assis expõe a superficialidade das relações sociais, a ambição desenfreada, a corrupção e a apatia da elite brasileira.
Brás Cubas, como narrador, utiliza o sarcasmo e a ironia principalmente para destacar as contradições da elite e da classe dominante. Ao descrever o médico, o filósofo e o poeta em seu círculo social, por exemplo, Brás Cubas expõe a futilidade de suas atividades e a falta de preocupação com questões reais. A sátira também é empregada.
Outro aspecto importante do texto é a crítica implícita à escravidão no Brasil que, embora seja raramente abordada diretamente na narrativa, está presente em toda obra. A elite brasileira da época era profundamente dependente da escravidão para manter seu estilo de vida extravagante, e Machado de Assis denuncia essa dependência de forma indireta.
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