Sempre que a taxa de juros sofre alterações, os reflexos no mercado financeiro são prontamente sentidos. Investidores de todos os tipos ficam atentos às mudanças, especialmente quando se trata da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.
A recente queda da Selic suscitou debates sobre como essa mudança afeta investimentos de renda fixa, como Tesouro Selic, Tesouro IPCA+ e CDBs, além de repercutir na Bolsa de Valores.
A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de 13,75% para 13,25% ao ano, marcou um acontecimento significativo no cenário econômico.
Contudo, essa queda não era observada desde agosto de 2020. Essa mudança, no entanto, não é isolada; ela está interligada a um conjunto de fatores e indicadores econômicos.
Uma das principais justificativas para essa redução é a desaceleração da inflação nos últimos meses. No mês de junho de 2023, o IPCA, o índice oficial de preços ao consumidor que avalia a inflação do país, apresentou uma diminuição de 0,08%.
Desse modo, esse foi o primeiro resultado negativo em nove meses. No acumulado dos últimos 12 meses até junho, os preços aumentaram 3,16%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De forma sucinta, o Banco Central utiliza a taxa Selic como uma ferramenta para controlar a inflação. Quando os juros são elevados, o crédito torna-se mais caro, desestimulando o consumo e consequentemente contribuindo para a queda dos preços. Nos últimos anos, a inflação tem sido um desafio, com aumentos contínuos que culminaram em um aumento de mais de 12% nos últimos 12 meses até abril de 2022.
Entretanto, além da questão inflacionária, o cenário internacional também exerceu influência sobre a decisão de redução da Selic. Desse modo, fatores como variações nos preços de commodities, a crise entre Rússia e Ucrânia, turbulências no mercado financeiro dos Estados Unidos e o aumento das taxas de juros em economias robustas tiveram impactos na confiança e nos preços no Brasil.
A pandemia de COVID-19 também trouxe impactos econômicos significativos. A ruptura na cadeia produtiva resultou em aumentos nos preços, adicionando pressão inflacionária. Esses fatores, somados, explicam a manutenção da taxa Selic sem alterações desde setembro de 2022.
Apesar da recente queda, a inflação ainda é motivo de preocupação. Projeções indicam que ela permanecerá acima da meta em 2023 e 2024, com expectativas de encerrar 2023 em 4,84% e 2024 em 3,89%, em relação às metas de 3,25% e 3%, respectivamente.
Apesar de os efeitos no mercado financeiro serem imediatos, os impactos da queda da taxa Selic levam tempo para se manifestar na economia real. De acordo com Murilo Breder, analista da NuInvest, há um processo gradual que envolve uma “cadeia de efeitos”. Em suma, isso significa que os brasileiros levarão meses para perceber as mudanças em seu dia a dia.
Embora essa seja a primeira redução da Selic em mais de dois anos, as taxas de juros no Brasil ainda estão entre as mais altas do mundo. Isso faz com que investimentos de renda fixa permaneçam atrativos.
José Falcão Castro, analista de investimentos da NuInvest, ressalta que a redução gradual da Selic tem efeitos variados em diferentes tipos de investimentos.
Em suma, a perspectiva de uma queda contínua da taxa Selic nos meses subsequentes tem impacto sobre os investimentos pós-fixados, como é o caso do Tesouro Selic. À medida que as reduções ocorrem, esses investimentos tendem a oferecer rendimentos menores.
Porém, mesmo com essa perspectiva, eles ainda continuam vantajosos, oferecendo retornos na casa dos dois dígitos. No caso do Tesouro Selic, a rentabilidade atual de 13,25% ao ano permanece, e ele é uma opção atraente para a reserva de emergência devido à sua liquidez diária e baixo risco.