O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, pediu “boa vontade” ao mercado financeiro em relação ao governo Lula. Ele afirmou a investidores, durante um evento promovido pelo banco BTG Pactual, em São Paulo, que é possível fazer política fiscal com política social.
“Dá pra fazer [uma política] fiscal responsável com uma parte social. O Brasil já tinha problemas sociais, a pandemia agravou muito, gerou muita desigualdade. Acho que dá pra casar as duas coisas”, disse o presidente do BC.
No evento, ele também afirmou que o governo “tem que ter uma priorização de gastos”. Aliás, ele revelou ter conversado com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e que “ela falou muito sobre isso, sobre melhorar a qualidade de gastos com uma avaliação de programas existentes”.
De acordo com o presidente do BC, o mercado financeiro mostrou “nervosismo” com a transição do governo federal. Em resumo, a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de aumentar os gastos públicos com programas sociais não agradou o mercado.
Esse fator foi bastante criticado porque poderia prejudicar ainda mais a saúde fiscal do Brasil. Até porque as contas públicas do país não estão equilibradas devido à pandemia da covid-19, que pressionou o governo federal a aumentar os gastos nos últimos anos.
“O investidor é muito apressado, muito afoito. A gente tem que ter um pouco mais de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo”, ressaltou Campos Neto. Vale destacar que o governo Lula teve início em janeiro, e pouco tempo se passou desde a sua posse.
“Acho que tem tido uma boa vontade enorme do ministro Haddad de falar: ‘temos aqui um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina, tem um arcabouço que está sendo trabalhado, já foram elaborados alguns objetivos”, disse o presidente do BC.
A saber, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deverá enviar ao Congresso Nacional proposta de lei complementar que estabelece um novo marco fiscal para o Brasil. Em suma, isso será muito importante, porque o governo acredita que esta ação promoverá um ambiente de atração de investimentos.
Além disso, o governo Lula também acredita que o debate da reforma tributária poderá atrair investimentos, isso sem contar com os esforços que a equipe econômica vem tomando para equilibrar as contas públicas do país.
Em meio a tudo isso, o presidente do BC afirma que a agenda ambiental é um ponto que merece atenção do governo. Segundo Campos Neto, a recuperação da atividade econômica brasileira deverá acontecer de maneira inclusiva e sustentável.
Aliás, a eleição de Lula à presidência do país deverá ajudar a atrair mais investimentos globais ao país. Em primeiro lugar por causa da agenda ambiental, algo bastante deteriorado no governo de Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, o questionamento institucional das eleições também foi superado no país.
“Levantei muito essa bandeira em 2019 [sobre a questão ambiental], que era um tema que definiria se o dinheiro vai voltar ou não. Depois o ângulo institucional teve uma percepção e incerteza em relação a isso. Mas tem a boa vontade, o Brasil fez várias reformas que, no efeito cumulativo, vão trazer capital e acho que precisamos entender que o papel do mercado é muito importante”, afirmou o presidente do BC.
Durante o evento, Campos Neto também falou sobre as críticas do presidente Lula sobre a taxa de juros no Brasil. De acordo com ele, “é importante ter alguém que faça esse papel no governo sempre, faz parte do jogo do equilíbrio natural”, afirmando que o questionamento sobre os juros elevados é justo e legítimo.
O presidente do BC disse que o crescimento econômico sustentável poderá acontecer no Brasil caso haja uma política monetária e uma política fiscal de longo prazo.
“Acho que o governo está na direção certa, tem tido um debate bom, a gente precisa ter boa vontade, falar de juros e ter a crítica [isso] é natural. Quanto mais fortes são as instituições, mais esse debate pode ser intenso sem afetar preços de mercado e expectativas porque as pessoas entendem que esse é um debate natural”, afirmou Campos Neto, defendendo a autonomia do BC.
Por fim, ele afirmou que o Banco Central é uma instituição do estado e que auxilia em vários tipos de políticas. Isso inclui a prestação de opiniões técnicas, que sempre serão explanadas.