O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, surpreendeu nesta quinta-feira (10) ao falar sobre o rotativo do cartão de crédito. De acordo com o banqueiro central, a instituição pensa em extinguir a modalidade para reduzir a inadimplência dos consumidores.
“Reconheço que cartão de crédito é um grande problema. Temos 90 dias para apresentar uma solução, e a solução é que não tenha mais rotativo, que vá direto para o parcelamento“, disse o presidente do BC.
A declaração ocorreu durante a sua participação em audiência no Senado Federal. Campos Neto explicou que o BC está analisando algumas alternativas para reduzir a quantidade pessoas inadimplentes com o rotativo do cartão de crédito.
Em síntese, o rotativo do cartão de crédito é a linha pré-aprovada no cartão. Embora seja a linha de crédito mais cara do mercado, sua procura sempre se mostra bem elevada porque o crédito pode ser contratado por pessoas que não têm condições de pagar o valor total da fatura na data do vencimento.
Assim, o consumidor tem a possibilidade de pagar a fatura em dia, contando com o empréstimo. Apesar de parecer positiva, a linha de crédito pode causar ainda mais dor de cabeça aos consumidores devido à cobrança dos juros mais elevados do mercado financeiro. Aliás, os juros chegaram a 440% ao ano em junho, e os especialistas consideram essas taxas abusivas.
As pessoas que contratam essa linha de crédito ainda podem fazer saques na função crédito do meio de pagamento. Em outras palavras, as vantagens oferecidas são bastante atraentes, mas os consumidores devem recorrer a alternativas com juros menores, que irão afetar de maneira menos intensa a renda familiar.
Vale destacar que, em caso de inadimplência do cliente, ou seja, quando a pessoa não paga a dívida, o banco deverá parcelar o saldo devedor. Além disso, a entidade financeira também poderá oferecer outra maneira para que o cliente quite a dívida, com condições mais vantajosas, no prazo de 30 dias.
Segundo dados do próprio Banco Central (BC), cerca de 50% das operações com o rotativo do cartão de crédito estão inadimplentes. Isto é, metade dos consumidores que optam por essa modalidade está com dívidas atrasadas no país.
Na audiência, Campos Neto afirmou que o BC pretende excluir o rotativo do cartão. Dessa forma, seria enviado diretamente ao devedor a opção de parcelamento do saldo. Nesse caso, os juros seriam de 9% ao mês, taxa quase duas vezes menor que a atual, de 15%.
“A solução está se encaminhando para que não tenha mais rotativo, que o crédito vá direto para o parcelamento. Que seja uma taxa ao redor de 9% [ao mês]. Você extingue o rotativo. Quem não paga o cartão, vai direto para o parcelamento ao redor de 9% [ao mês]“, afirmou Campos Neto.
Apesar de Campos Neto ter afirmado que o Banco Central (BC) pode extinguir o rotativo do cartão de crédito, o banqueiro central revelou que a autarquia pode agir de uma maneira diferente, reduzindo os juros da modalidade, em vez de acabar de vez com a operação.
O problemas é que os bancos poderiam parar de oferecer a modalidade às pessoas com “maior risco”, ou seja, que estão inadimplentes recorrentemente. Isso seria ruim para o Brasil, pois iria prejudicar o consumo e o varejo, afirmou o presidente do BC.
Em síntese, Campos Neto revelou que, nas próprias semanas, o Banco Central deverá apresentar uma proposta sobre o rotativo do cartão de crédito. Inclusive, ele revelou que há um projeto ligado ao Desenrola, que consiste no refinanciamento das dívidas de inadimplentes.
O presidente do BC ainda revelou que a autarquia não está feliz com as possibilidades de compras parcelas em até 13 parcelas sem juros. “É como se fosse um financiamento de longo prazo sem juros“, disse Campos Neto. A saber, esse sistema não existe em outros países, apenas no Brasil, segundo o banqueiro central.
Para desincentivar o uso desses parcelamentos, o BC planeja criar algum tipo de “tarifa” para que os consumidores parem de fazer tantas compras dessa maneira. Campos Neto explicou que esse sistema de parcelamento em até 13 vezes acaba levando as pessoas a perderem o controle da própria fatura.
“Não é proibir o parcelamento sem juros. É simplesmente tentar que fique um pouco mais disciplinado. Não vai afetar o consumo. Lembrando que cartão de crédito é 40% do consumo no Brasil“, afirmou.