O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou na terça-feira (25) que as contas públicas precisam estar equilibradas para que os juros não permaneçam em patamar tão elevado quanto o atual.
De acordo com ele, o crescimento da atividade econômica brasileira só conseguirá existir nos médio e longo prazos quando a inflação estiver controlada. No entanto, para isso, as contas públicas precisam estar arrumadas.
“É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal e, infelizmente, nem bala de prata. Se não tiver as contas em dia, em perspectiva a gente não consegue melhorar“, disse Campos Neto, no Senado Federal.
Em resumo, o presidente do Banco Central participou de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Durante o encontro, ele citou o polêmico pacote de medidas fiscais lançado pela Inglaterra, que resultou na renúncia da primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss.
A saber, Truss renunciou ao cargo em outubro do ano passado, após a apresentação de um plano econômico que consistia em:
A saber, a ação foi bastante criticada, pois o aumento dos gastos públicos pressiona a inflação e a Inglaterra já vinha tentando controlar a taxa inflacionária.
No caso do Brasil, a situação é ainda mais crítica, porque o país tem um baixo nível de recuperação de crédito, segundo o presidente do BC. A propósito, esse indicador se refere a quanto os bancos conseguem recuperar de inadimplentes. Além disso, o Brasil também tem um alto volume de crédito direcionado, com a maior parte tendo juros subsidiados.
No Senado, o presidente do BC também afirmou que o Brasil pode promover o equilíbrio fiscal e o social ao mesmo tempo. Ele citou que deve haver um aumento das despesas direcionadas à população mais carente do país.
“Não tem como ter equilíbrio no país sem ter equilíbrio social. É preciso atender aos que precisam. Mas tem um volume de recursos limitado, então é preciso fazer isso de tal forma que não passe a percepção que a trajetória de dívida é descoordenada. Pois se as pessoas não quiserem emprestar dinheiro para o governo, quem vai sentir é toda a sociedade“, disse Campos Neto.
Vale destacar que, desde dezembro do ano passado, o mercado financeiro está de olho nos gastos realizados pelo Governo Federal. Em síntese, o Congresso Nacional aprovou o aumento dos gastos através de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para recomposição do orçamento.
Desde então, o governo Lula está sendo cobrado por esse aumento significativo dos gastos. O mercado financeiro quer saber quais medidas o governo adotará para evitar o aumento da dívida pública, e uma das ações adotadas é a retomada da cobrança de impostos federais para aumentar a arrecadação.
No Senado Federal, Campos Neto também falou sobre as recorrentes críticas feitas pelo presidente Lula sobre a taxa elevada de juros do país. Em resumo, o presidente do BC destacou que a entidade financeira é autônoma e que busca alcançar as metas de inflação.
“Acho que o presidente [Lula] tem direito de falar sobre os juros, em nenhum momento reclamei sobre isso. Minha função é explicar de forma técnica como o BC vê isso“, disse Campos Neto.
“O Banco Central não é culpado pelas mazelas que o país passa, o BC é ator, esta no mesmo barco que o governo sempre. E tem de buscar harmonia com o governo e buscar achar solução para os problemas do país“, acrescentou.
Na semana passada, o presidente Lula voltou a fazer críticas a Campos Neto. Durante um fórum com investidores em Matosinhos, cidade localizada ao norte de Portugal, o presidente fez declarações sobre a taxa elevada de juros no Brasil.
“Nós temos um problema no Brasil, primeiro-ministro, que Portugal não sei se tem. É que a nossa taxa de juros é muito alta. No Brasil, a taxa Selic, que é referencial, está em 13,75%. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém. E não existe dinheiro mais barato“, disse Lula.
“E a verdade é que um país capitalista precisa de dinheiro, e esse dinheiro tem que circular. Não na mão de poucos, mas na mão de todos“, acrescentou o petista.