O mercado financeiro do Brasil fechou em baixa nesta quinta-feira (10). Dados oficiais apontam que o dólar disparou e fechou em quase R$ 5,40. Já a Bolsa de valores teve a maior queda diária desde setembro de 2021. Analistas afirmam que as quedas estariam diretamente relacionadas com as mais recentes declarações do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mas afinal de contas, qual foi a declaração de Lula e por que ela repercutiu tão mal no mercado financeiro? Para entender esta história, é preciso voltar ainda para o período eleitoral. Durante as eleições, o então candidato do PT optou por não antecipar o nome que comandaria o Ministério da Economia, caso ele vencesse as eleições.
Depois de eleito, Lula segue optando por não revelar o nome do indivíduo que vai comandar o Ministério da Economia. E qual é o problema? O mercado teme que o nome indicado por Lula não seja comprometido com a chamada responsabilidade fiscal, que nada mais é do que o ato de ter responsabilidade na hora de gastar o dinheiro público.
No final da manhã desta quinta-feira (10), Lula participou de um evento em Brasília e disse as seguintes palavras: “Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social deste país?”, questionou ele.
Logo depois desta declaração, o mercado entendeu que Lula estaria sinalizando que não vai dar importância ao processo de responsabilidade fiscal durante o seu governo. No final da tarde, já sabendo de toda a repercussão, o presidente eleito emendou: “O mercado fica nervoso à toa. Eu nunca vi um mercado tão sensível como o nosso”, disse ele.
“É engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos do Bolsonaro”, completou Lula.
O teto de gastos é uma espécie de lei aprovada durante a gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) em 2016. A regra em questão consiste em impedir que o governo, seja ele qual for, gaste mais do que aquilo que arrecada.
O PT não governou o Brasil depois da criação do teto de gastos. Com Bolsonaro, o sistema foi quebrado algumas vezes. O episódio mais recente aconteceu em julho deste ano, quando o Congresso Nacional liberou alguns bilhões para uso do presidente às vésperas do início da campanha eleitoral.
Sobre o futuro governo Lula ainda não é possível dizer o que vai acontecer. Durante a campanha, o candidato do PT chegou a prometer que poderia acabar com o teto de gastos, mas também já disse que poderá criar novos artifícios.
Toda a discussão em torno do teto de gastos e da bolsa de valores tem um motivo: o Auxílio Brasil. O plano de orçamento original prevê que o benefício vai ter uma queda de valor a partir do próximo ano.
O plano do governo de transição é encontrar uma maneira de bancar o Auxílio de R$ 600 em 2023. Mas para tanto, será necessário encontrar novos fundos. Esta é a grande discussão do momento.