Vanessa (nome fictício), 18 anos, foi uma dos 18 milhões de estudantes brasileiros que participaram no ano de 2019 da 1ª fase da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. A jovem não prestou a prova na escola. O teste foi feito em uma sala com lousa, carteiras, mas com grades nas janelas e uma porta que fica trancada a cadeado.
O seu uniforme é composto por chinelos e o conjunto cáqui obrigatório para crianças e adolescentes infratores internados na Fundação Casa, instituição em São Paulo, onde Vanessa está desde o ano passado.
Quando a professora deu parabéns à jovem, ela achou que tinha confundido o mês de seu aniversário. “Eu não achei que ia passar. Para mim foi difícil, porque eu não lembrava muito das matérias”, conta à reportagem da BBC News. Apesar de gostar de matemática, Vanessa sempre teve seus estudos interrompidos. Ela chegou a morar na rua e em abrigos.
Aos 12 anos, Vanessa começou a usar drogas e abandonou a escola. No abrigo ela conheceu alguns meninos que a chamaram para roubar. “Fui roubar e fui presa”, diz ela que tinha 17 anos na época. Foi no centro de detenção que ela retornou às aulas. O sucesso na primeira fase da Olimpíada a incentivou a continuar os estudos.
Na unidade, Vanessa não recebe muitas visitas, o que é bem comum entre as 103 adolescentes internadas ali. Assim como nos presídios para mulheres adultas, as meninas internadas na Fundação Casa recebem menos visitas que os meninos.
Aurélio (também nome fictício), de 17 anos, também é outro adolescente que se preparou para a segunda fase da olimpíada de 2019, como diz a reportagem da BBC News. Quando fez a primeira fase, ele conta que achou que era só mais um exame bimestral do 7º ano do Ensino Fundamental, que voltou a cursar desde que foi internado na instituição.
O jovem vem de uma família humilde e, mesmo trabalhando desde os 15 como ajudante de pedreiro, o seu salário não era suficiente para comprar uma moto, seu sonho de criança. Um dia, na companhia de um amigo, os dois viram uma moto e resolveram roubá-la.
Para ele, passar na primeira fase da olimpíada também significa um grande incentivo para continuar os estudos.
Por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a organização da Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) decidiu adiar a sua 16ª edição para setembro. Agora, a primeira e segunda fases da disputa serão, respectivamente, nos dias 22 de setembro deste ano e 27 de março de 2021.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), realizador da olimpíada com o apoio da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), a alteração no calendário visa permitir que todas as escolas, professores e estudantes possam participar do evento com segurança.