Estudo da crença, verdade e justificativa na formação do conhecimento
Epistemologia é o nome dado ao estudo do conhecimento e suas formas. Tenta descobrir como o conhecimento é adquirido pelas pessoas a partir dos princípios da crença, verdade e justificativa. Atualmente é compreendida como a Teoria do Conhecimento, mas nem sempre foi assim.
O filósofo escocês James Frederick Ferrier atribuiu a Epistemologia como parte da Gnosiologia, visando estudar somente o conhecimento científico. A palavra Epistemologia é de origem grega, em que Episteme significa conhecimento e, logia, estudo. Seu conceito foi usado durante o neoclassicismo, perpetuando-se durante a História Moderna.
A oposição crítica entre o empirismo e o racionalismo deu origem à Epistemologia. O estudo sobre o conhecimento apoia-se nas teorias de filósofos como Platão, Sócrates, Aristóteles, Thomas Kuhn, Karl Popper dentre outros questionadores da época. Cada um deles criou um método, com base em seus pontos de vistas, para explicar os seus pensamentos.
Subáreas do conhecimento na Epistemologia
Existem várias definições para o conhecimento. No dicionário Aurélio, por exemplo, significa como o “entendimento sobre algo; saber”. Para a epistemologia o conhecimento é entendido como um conjunto de crenças, sendo necessário compreender as suas razões. Acredita-se que é a união de códigos e informações. Para Platão, todas as informações descrevem e explicam o mundo natural e social que rodeia a humanidade.
Assim, o conhecimento poder ser classificado em:
- Científico: análises baseadas em provas.
- Intelectual: raciocínio, o pensamento do ser humano.
- Filosófico: ligado à construção de ideias e conceitos.
- Popular: conhecimento de uma determinada cultura.
- Sensorial: conhecimento comum entre seres humanos e animais.
- Teológico: conhecimento adquirido a partir da fé.
Epistemologia de Piaget
Em paralelo às classificações gerais da epistemologia, destaca-se, também, a Teoria do Conhecimento elaborada pelo psicólogo Jean Piaget, da Suíça. Ele ganhou notoriedade ao expô-la em sua obra “Epistemologia da Genética”, de 1970.
Piaget dividiu o conhecimento em quatro fases, partindo do pressuposto de que isto não é algo inato do ser humano, contrariando a ideia do apriorismo. Também confronta o empirismo, quando afirma que o conhecimento não é exclusivamente alcançado pela observação do meio.
Na crença de Piaget, o conhecimento é adquirido na interação do ser humano com as estruturas internas de cada indivíduo. Ele defendeu que esses estágios não são alcançados de forma padrão ou linear.
Em sua teoria, Piaget descreve as fases de conhecimento como:
- Sensorial (0 a 2 anos): acredita-se que nesta fase o conhecimento dá-se por estímulos externos e internos.
- Pré-Operatória (3 a 5 anos): momento que a criança começa a falar e o conhecimento é estimulado a partir da brincadeira com outras crianças, da criação de histórias e quando ouve sobre contos de fada.
- Operatório Concreto (6 a 12 anos): fase em que adquire-se o conhecimento por meio de resoluções de problemas, da escrita e de cálculos associados a símbolos concretos.
- Operatório Abstrato (12 a 16 anos): conhece o mundo a partir da compreensão de conceitos abstratos como a sociedade, o amor, o Estado e a cidadania.
Piaget afirmava que cada criança tem o seu ritmo de aprendizagem e que nem todas alcançam a última etapa. Na sua teoria, mais importante do que a criança passar de fase é observar como ela passa de uma etapa para outra. Para caracterizar este fenômeno, ele cunhou os termos assimilação e acomodação.
- Assimilação: quando a criança é apresentada a um brinquedo novo, ela faz “testes” para entender como funciona.
- Acomodação: através do conhecimento adquirido, a criança entende a aplicação para o novo brinquedo e realiza a transferência da aprendizagem para outras áreas.
Diretrizes da epistemologia
Crença
A crença é algo tido como verdadeiro para um indivíduo, encontrada na mente. Se uma pessoa acredita que irá ser feliz se ganhar muito dinheiro na loteria, isso é uma crença dela, enraizada na mente, podendo ou não ser uma verdade.
A epistemologia preocupa-se com o que a humanidade acredita, incluindo a verdade e tudo que é aceito como verídico. Assim, a crença implica em um pensamento. Para algumas pessoas ganhar na loteria trará felicidade, já para outras isso pode não fazer sentido algum. Portanto, crença pode ser sinônimo de convicção ou proposição.
Verdade
Definir verdade é algo complexo, visto que é inerente à percepção e vivência de cada pessoa. O que pode ser verdade para uma comunidade, para outra, pode não fazer sentido. Trata-se de um sistema de valores que passa, necessariamente, pelo conjunto ético e moral da sociedade.
Para o filósofo Husserl uma verdade se dá através dos fenômenos que são observáveis, perceptíveis e sensíveis. Chama-se de fenomenologia. Para Sartre, uma verdade está na essência do indivíduo, sendo o resultado dos valores de uma sociedade.
Já para Foucault, uma verdade precisa ser livre, não podendo estar vinculada a uma institucionalização porque, desta forma, será manipulada, gerando constrangimentos e formas de comportamento. E para Nietzsche, a verdade simplesmente não existe.
Justificativa
A justificação na visão da epistemologia se constitui das razões ou provas apresentadas em apoio à verdade de uma crença ou de uma afirmação. Portanto, defende que precisa-se compreender as razões de uma crença e se tais razões têm um fundamento lógico.
Diferentes saberes
Além dos conceitos de crença, verdade, justificativa e conhecimento, a epistemologia traz o “saber que” como diferente de “saber como”. Como exemplo, cita-se uma pessoa que sabe que 2 + 2 = 4. Para a Epistemologia isto é diferente de saber como dirigir ou tocar um instrumento, que também é diferente estar “familiarizado” com algo.
Para o polímata Michael Polanyi o saber científico não substitui o conhecimento empírico. Quem também pensa assim é Gilbert Ryle, que defende que se desprezar a diferença entre os saberes a humanidade fica na impossibilidade de adquirir conhecimento.
Por fim, o filósofo Russell diferencia o “conhecimento por descrição” de “conhecimento por familiaridade”, em seu ensaio intitulado “Os Problemas da Filosofia”. Ele afirma que o conhecimento é adquirido por uma interação causal sem interferência por meio de experiência sem mediação. Para Russell a não-mediação ocorre quando não há conhecimento prévio dos dados dos sentidos acerca do objeto observado. Partindo desse pressuposto, abrir os olhos pela manhã e saber que é dia é um conhecimento adquirido por familiaridade.