No decorrer do mês de julho, matérias jornalísticas divulgaram anúncios enganosos relacionados ao programa Desenrola Brasil. Estas se propagaram nas redes sociais, usando de forma indevida a imagem de instituições públicas, do Serasa e de veículos de imprensa para transmitir confiança e, assim, aplicar golpes nos cidadãos.
Ao examinar a biblioteca de anúncios da empresa Meta, onde são arquivadas as peças promovidas nas plataformas da empresa, como Facebook, Instagram e Messenger, o Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu 1.048 anúncios fraudulentos com menção ao Desenrola Brasil. Eles circularam entre os dias 19 e 21 de julho. Muitos desses anúncios foram veiculados de forma discreta, escapando da detecção tradicional e da moderação da Meta.
A Publicidade a Favor do Endividamento no Desenrola Brasil
Conforme o relatório intitulado “A Publicidade a Favor do Endividamento”, os anúncios identificados neste estudo prejudicam potenciais beneficiários do programa. E diz-se isso especialmente pelo uso indevido da imagem do Governo Federal e do Serasa. Infelizmente, eles permaneceram ativos mesmo após as primeiras denúncias feitas por jornais e emissoras de TV alertando sobre esses golpes.
“Os golpes através das redes sociais causam prejuízos financeiros aos consumidores, principalmente aos mais vulneráveis, que são alvo dessas plataformas. Os lucros das empresas com anúncios fraudulentos, mesmo quando retirados do ar, as tornam beneficiárias diretas desses golpes”, destaca o estudo.
De acordo com o relatório, é possível criar páginas falsas nas plataformas da Meta em nome do Governo Federal. Assim, para isso, não há a necessidade de verificação dos anunciantes, o que deixa o consumidor sem informações para discernir sua autenticidade.
Em comunicado, a empresa Meta informou que não permite atividades fraudulentas em suas plataformas. “Não permitimos atividades fraudulentas em nossos serviços e temos removido anúncios enganosos sobre o programa Desenrola Brasil de nossas plataformas, assim que identificados por meio de uma combinação de uso de tecnologia, denúncias de usuários e revisão humana”, afirmou.
Regulamentação mais detalhada é necessária
Para os pesquisadores da UFRJ, as regras de transparência da publicidade não podem ser estabelecidas apenas pelas plataformas. Ademais, deve ser primordialmente voltadas para o interesse público.
“Nossos estudos têm revelado que a autorregulação das plataformas não tem surtido efeito, o que indica a urgência de uma regulamentação das plataformas digitais que incorpore transparência e responsabilidade por seus serviços, além de respeitar o Código de Defesa do Consumidor”, destaca o relatório.
Em maio deste ano, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) publicou um estudo apontando que cerca de 78% das famílias brasileiras estavam endividadas. Nesse contexto, o Governo Federal lançou em 17 de julho a primeira etapa do programa Desenrola Brasil, permitindo que 70 milhões de brasileiros inadimplentes possam renegociar suas dívidas com instituições financeiras.
Vítima paga um curso ao invés de limpar seu nome no Desenrola Brasil
Informações do anunciante estavam presentes no endereço eletrônico da propaganda. A página falsa, que simulava ser do Serasa, exibiu detalhes como o nome completo do publicitário, seu CPF e o montante das dívidas. Somente após efetuar o pagamento é que ele percebeu que algo estava errado.
O golpe ocorreu no dia 23 de julho. A dívida de R$ 8.000 foi originada a partir do cheque especial e de despesas no cartão de crédito desde 2019.
“A oferta era quitar a dívida por R$ 94,44. Eu nem hesitei. Efetuei o pagamento e, posteriormente, notei que o nome da conta não estava relacionado ao Serasa. Copiei e colei o CNPJ, e apareceu a tal Pepper Tecnologia. Logo após, recebi um e-mail na minha conta informando que eu havia comprado um curso, mas eu não comprei curso algum”, disse a vítima do golpe. “Estava extremamente feliz aqui, mas logo veio a desilusão, a frustração e a sensação desagradável de ter sido enganado”.
Resolução do problema
Apesar disso, ele estava disposto a deixar o assunto de lado, porém, no dia seguinte, decidiu registrar um boletim de ocorrência e denunciar o ocorrido. O propósito dele com a denúncia era evitar que mais pessoas fossem alvo do mesmo golpe.
Após fazer uma queixa no Reclame Aqui, ele obteve o reembolso do pagamento. Embora o valor tenha sido baixo, ele afirmou que ficou contente por ter recuperado o dinheiro.