A seca prolongada nos rios da Amazônia tem castigado moradores da região e atrapalhado o transporte de produtos da Zona Franca de Manaus para outras áreas do país. Essa dificuldade logística pode ter um impacto direto nos descontos oferecidos durante a Black Friday deste ano.
Com a estiagem, os níveis dos rios diminuíram significativamente, tornando mais difícil, ou até mesmo impossível, para embarcações de grande porte, como barcaças, transportar produtos para dentro e fora do polo.
Os baixos níveis dos rios da Amazônia estão causando atrasos e custos adicionais no transporte de mercadorias para a Black Friday. Rodrigo Bandeira, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), explica que existem alternativas de transporte, como o rodoviário, que garantem o abastecimento das lojas, mas com um custo mais elevado. Esses custos adicionais podem ser repassados ao consumidor final, impactando os descontos oferecidos.
No entanto, mesmo com os desafios logísticos, Bandeira destaca que não há risco de desabastecimento. As empresas já tomaram as providências necessárias para garantir o abastecimento de produtos para a Black Friday. Ainda assim, os problemas não se limitam apenas aos preços dos produtos, mas também afetam o cenário macroeconômico.
A dificuldade no transporte e logística pode impactar outras empresas, levando a demissões e afetando a economia como um todo.
A Zona Franca de Manaus é conhecida por fabricar diversos produtos “queridinhos” da Black Friday, como eletrodomésticos, veículos, celulares, entre outros. A seca na Amazônia afeta diretamente o transporte desses produtos, o que pode resultar em menor oferta de descontos, principalmente para os produtos da chamada “linha branca”, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupas.
Ulysses Reis, professor de varejo da Strong Business School, explica que além do transporte rodoviário, a entrega de produtos em períodos de seca muitas vezes é feita com o auxílio de um prático, um profissional que auxilia navios a passarem por águas restritas.
No entanto, o preço desse serviço aumentou consideravelmente, o que impacta diretamente os custos de transporte. O tempo de transporte também é afetado, podendo se multiplicar por cinco vezes em comparação com períodos normais.
Apesar desses desafios, Ulysses afirma que a maior parte dos produtos que devem ser vendidos na Black Friday já foram comprados pelos varejistas e estão em posse das transportadoras ou em depósitos. Portanto, não deve haver desabastecimento total de produtos, mas a segunda leva de produtos, destinada ao Natal, pode ser comprometida.
Devido aos altos custos de logística e transporte, especialmente para os produtos vindos da Zona Franca de Manaus, é provável que os descontos oferecidos durante a Black Friday não sejam tão atrativos como em anos anteriores. Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, concorda que a seca afetará o fluxo para o varejo, mas não enxerga a possibilidade de desabastecimento.
Felisoni explica que o varejo tem mantido negociações com os fabricantes para garantir a disponibilidade dos produtos mais procurados, mas consciente de que a disponibilidade não será plenamente atendida. As relações entre varejistas e fornecedores podem ficar mais tensas, pois a prioridade será dada aos parceiros mais próximos. No entanto, não há uma expectativa exagerada de vendas nesta próxima Black Friday.
A Black Friday tem crescido ano após ano desde sua estreia no Brasil, em 2011. Esse crescimento se deve a uma série de fatores. Primeiramente, o hábito dos brasileiros em relação à Black Friday mudou ao longo do tempo. O evento deixou de ser apenas uma liquidação e se tornou uma antecipação das compras de Natal. Em média, a cada quatro produtos comprados no período de Natal, um é um presente que o próprio consumidor compra para si mesmo.
Esse comportamento reflete uma espécie de “teoria do eu mereço”, ou seja, uma recompensa pessoal após um ano de trabalho árduo. A Black Friday se tornou uma oportunidade para adquirir produtos desejados com descontos significativos, mesmo que eles não sejam necessariamente utilizados como presentes de Natal.
Ademais, a seca prolongada na Amazônia tem impactado o transporte de produtos da Zona Franca de Manaus e pode afetar os descontos oferecidos durante a Black Friday. Embora não haja risco de desabastecimento, os custos adicionais de logística e transporte podem resultar em descontos menos atrativos, especialmente para os produtos da “linha branca”.
No entanto, o varejo tem se preparado para garantir a disponibilidade dos produtos mais procurados, mesmo que em quantidades limitadas. A Black Friday no Brasil evoluiu ao longo dos anos e se tornou uma oportunidade para os consumidores se presentearem após um ano de trabalho.