Um dos assuntos de Língua Portuguesa que mais gera dúvida nos estudantes em provas de concursos e vestibulares diz respeito ao uso da crase [à]. Portanto, é necessário o estudo mais atento quanto aos contextos em que o acento grave, sinalizador da crase, deve aparecer.
Além disso, a prática é fundamental para consolidar esse conhecimento. Por isso, apresentamos abaixo uma questão comentada sobre o uso da crase para facilitar a compreensão desse assunto.
Os descaminhos do lixo
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos 2018/2019, produzido pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), em 2018 foram gerados no Brasil 79 milhões de toneladas de resíduos. Desse total, 92% foram coletados. Isso significa uma pequena melhora em relação ao ano anterior, já que, se a produção de lixo aumentou 1%, a coleta aumentou 1,66%. Essa expansão foi comum a todas as regiões, com exceção do Nordeste. Dos resíduos coletados em 2018, 59,5% receberam destinação adequada nos aterros sanitários, uma melhora de 2,4% em relação a 2017.
Mas esses relativos avanços não deveriam disfarçar a precariedade crônica do setor. A média nacional é bastante inferior à dos países na mesma faixa de renda, onde 70% do lixo recebe a destinação correta. Em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu que até agosto de 2014 o País deveria estar livre dos lixões. Mas, hoje, cerca de 8% do lixo produzido no Brasil (6,3 milhões de toneladas) ainda não é sequer coletado e 40% do lixo que é coletado é descarregado em lixões ou aterros que não contam com medidas necessárias para garantir a integridade do meio ambiente e a da população local.
(https://opiniao.estadao.com.br. Adaptado)
O uso do acento indicativo da crase atende à norma-padrão no enunciado:
Em 2018, a coleta de lixo no país chegou à 1,66%, segundo dados da Abrelpe.
(C) Em relação à existência dos lixões, eles deveriam ter acabado até agosto de 2014 no país.
(D) De ponta à ponta do Brasil, viu-se um aumento na coleta de lixo, em 2018.
(E) Em países na mesma faixa de renda do Brasil, é dada a destinação correta à todo lixo produzido.
De acordo com a gramática normativa, a crase é a fusão da preposição a com o artigo feminino a. Desse modo, a crase só deve ser sinalizada diante da presença desses dois elementos: preposição + artigo. Nesse sentido, não há crase diante de pronomes, de substantivos masculinos ou de verbos. Assim, o uso da crase nas alternativas B e E está incorreto.
Além disso, não cabe a crase em expressões com palavras que se repetem, como frente a frente, por exemplo. As regras estabelecem ainda que o uso da crase diante de números só é possível para indicar horas: Chegarei às 13h. Por isso, as alternativa A e D também estão incorretas.
A única alternativa em que o uso da crase está de acordo com a norma-padrão é a C, devido à regência da palavra relação, que exige o emprego da preposição a. A palavra existência, por sua vez, é um substantivo feminino, que exige o artigo a. Assim, há uma fusão: Em relação [a +a = à] existência dos lixões.
E aí? Gostou do texto? Então deixe aqui o seu comentário!