A Linguística Textual, disciplina que aborda os estudos sobre o texto, tem se dedicado bastante à análise de um de seus grandes temas: a intertextualidade.
A intertextualidade ocorre quando um texto está inserido em outro texto, podendo acontecer de maneira implícita (sem citação expressa da fonte) ou explícita (quando há citação da fonte do intertexto). Muitos compositores e escritores brasileiros utilizaram-se desse recurso, elaborando um texto novo a partir de um texto já existente, os chamados textos fontes, considerados fundamentais em uma determinada cultura por fazerem parte da memória coletiva de uma sociedade.
Pensemos na estrutura da palavra intertextualidade: o sufixo inter, de origem latina, refere-se a uma noção de relação, dependência. Dessa forma, podemos dizer que a intertextualidade acontece quando os textos conversam entre si, estabelecendo assim uma relação dialógica, representada em citações, paródias ou paráfrases. Sua importância é inquestionável para a leitura e a produção de sentidos, pois realça o estudo da coerência através do conhecimento declarativo ou através do conhecimento construído a partir de nossas vivências.
Intertextualidade é o nome dado à relação que é feita quando em um texto é citado outro texto que já existe.
Esse fenômeno se trata do “diálogo” de um texto com um ou mais textos, que podem ser verbais, não-verbais ou mistos. Isto quer dizer que, a intertextualidade não precisa ser necessariamente em gêneros iguais.
Entende-se aqui como texto qualquer tipo de gêneros textuais, pintura, cartum, charge, poesia, poema, publicidade, livro, novela, filme, etc.
A intertextualidade acontecerá quando um determinado texto fizer referência a outro, ou a situação e/ou acontecimento pré-existente. Essa referência pode ser implícita ou explícita.
Há várias maneiras de usar a intertextualidade. Os mais utilizados são: paródia, paráfrase, epígrafe, tradução, alusão, citação e crossover.
A paródia é um tipo de intertextualidade usada com o objetivo de retorcer o texto original, através da ironia ou da crítica. Contudo, o texto fonte não sofre alteração na sua estrutura. A paródia irá modificar apenas o conteúdo.
Isto é, a estrutura do texto base é mantida, mas o conteúdo recebe uma nova “roupagem”. Normalmente, as paródias são usadas em programas humorísticos, músicas e cinema.
Exemplo: Trecho da paródia da música “Namorar pra que?” do Mc Kekel, feita pelo youtuber Whindesson Nunes.
Namorar pra que?
Depois que eu conheci o Mandela
Depois que eu vi como ela dança
Depois que eu vi como ela zoa
Depois que eu vi como ela se assanha
Só agora que eu fui perceber
Namorar pra quê?
Se amarrar pra quê?
Prefiro tá solteiro que eu sei
Que elas vão querer (4X)
Dieta pra que?
Comi um pão com mortadela
Depois um quilo de picanha
Comi uma carne de panela
E um pedacinho de lasanha
Só Agora que vim perceber
Vou malhar pra quê?
Dieta Pra quê?
Se eu vejo uma coxinha
Eu sei que vou comer (4x)
A paráfrase ocorre quando um texto é reproduzido com as próprias palavras daquele que está reproduzindo, ou seja, as ideias do texto original são mantidas, mas é contada de outra forma.
Na paráfrase, o objetivo é reafirmar as ideias do texto fonte, mas escrevendo com um estilo diferente. A estrutura e o conteúdo são mantidos, mas é recontando de forma diferente.
Exemplo: Carlos Drummond de Andrade (Europa, França e Bahia) parafraseando com Gonçalves Dias (Canção do Exílio).
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Canção do Exílio
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a “Canção do exílio”.
Como era mesmo a “Canção do exílio”?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá.
Europa, França e Bahia
A epígrafe é um tipo de intertextualidade usado quando um determinado texto quer introduzir o tema que será discutido, ou seja, a epígrafe serve para dá apoio a um tema, e normalmente são utilizados em artigos científicos, monografias, etc.
Na epígrafe ocorre o uso de frases, trechos, provérbios e ditados que são retratados como um vínculo com o texto.
Um dos mais conhecimentos, mas que muitos não sabem que é um tipo de intertextualidade encontrado muito em dublagens e tradução de livros.
A tradução é o ato de traduzir, passar um texto de uma língua para outra. Contudo, pode acontecer de não ser uma tradução literal, pois o tradutor faz uma interpretação.
Quando o tradutor usa um texto para traduzir, ele interpreta aquele texto e depois o transcreve no idioma desejado. Então, com a tradução, às vezes pode vir interpretação do tradutor.
Exemplo: Trecho da música “Shallow”, de Lady Gaga.
Inglês – Shallow
Tell me something, girl
Are you happy in this modern world?
Or do you need more?
Is there something else you’re searching for?
I’m falling
In all the good times
I find myself longing for change
And in the bad times I fear myself
Tell me something, boy
Aren’t you tired trying to fill that void?
Or do you need more?
Ain’t it hard keeping it so hardcore?
Português – Superfície
Me diga uma coisa, garota
Você está feliz neste mundo moderno? Ou você precisa de mais?
Existe algo mais que você está procurando?
Estou caindo
Em todos os bons momentos
Eu me vejo almejando uma mudança
E nos momentos ruins, eu tenho medo de mim mesmo
Me diga uma coisa, garoto
Você não está cansado de tentar preencher esse vazio?
Ou você precisa de mais?
Não é difícil manter toda essa energia?
Citação é quando há a transcrição literal de um texto, ou seja, é pegar aquele texto e copiar para o outro. Contudo, é importante conter a indicação do autor original e estar entre aspas.
Mas por que isso? Acontece que se não seguir essas regras são consideradas plágio, que é passível de processo na justiça. O plágio é pegar algo que pertence a outro e usar como se fosse seu.
A citação é bem comum em textos acadêmicos como dissertações e monografias. Além disso, o plágio é uma falta grave no mundo acadêmico.
Alusão é quando um texto faz referência a uma determinada obra, personagem ou situação que já foram retratadas em outros textos.
Exemplos:
(A expressão faz alusão ao cavalo de madeira repleto de soldados escondidos, que os gregos enviaram aos troianos, como se fosse um presente, por ocasião da Guerra de Tróia).
(Esta expressão também reporta ao presente que os troianos receberam. Refere-se a um malware que entra em seu computador através de um download, mas esconde vírus maléficos a seu sistema).
Ainda pouco conhecido como um tipo de intertextualidade, mas bastante usando em produções cinematográficas e séries.
Crossover é quando um personagem pertencente a um universo fictício e aparece em outro universo pertencente a outro personagem, ou seja, é o encontro entre personagens que pertencem a produções fictícias distintas.
Exemplo: quando em uma cena do filme “Wifi Ralph: quebrando a internet” aparecem todas princesas da Disney.
A intertextualidade é um dos assuntos que costuma cair em questões de prova de vestibulares e concursos. Então, estudar os tipos de intertextualidade é o primeiro passo.
O segundo e se não for o mais importante, é o conhecimento. Pois a intertextualidade está muito ligada ao “conhecimento de mundo”.
Ou seja, para que seja identificado esse fenômeno é necessário que o contexto e o conteúdo usado sejam conhecimento em comum entre o leitor e o produtor.
Por isso, mantenha-se sempre informando dos acontecimentos: