Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), mostrou que manter um veículo no Brasil ficou mais caro, isso porque os preços dos itens relacionados à obtenção e manutenção de veículos aumentaram quase o dobro da inflação geral nos últimos 12 meses.
Para os motoristas no Brasil, a inflação bateu 18,46% levando em conta esse período, ao mesmo tempo que a inflação global teve alta de 9,57%, isso segundo dados do IPC-10 (Índice de Preços ao Consumidor, da FGV). O maior culpado por esse cenário é o combustível.
Desde novembro de 2020, a gasolina já sofreu uma alta de 40,46%. O etanol sofreu uma alta ainda maior dessa forma pesando mais ainda no bolso do consumidor, o derivado da cana de açúcar registrou uma alta de 64,45%.
Uma das alternativas que os consumidores encontraram para tentar driblar os altos preços do combustível foi o carro a gás, no entanto os que optaram por esse combustível observaram o GNV sofrer uma alta de 37,11%. Matheus Peçanha, pesquisador da FGV, afirmou que o preço da gasolina e do gás veicular seguem as cotações do petróleo e do câmbio que é realizadas em dólar.
“O valor do barril tem subido consecutivamente por causa da política da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de restrição na produção, enquanto o câmbio sofreu muita desvalorização desde o início da pandemia. Já o etanol seguiu a conjuntura da cana-de-açúcar, que teve a produção afetada com a estiagem que já dura mais de um ano e as geadas do inverno passado”, explica o pesquisador
A pressão sobre a inflação vai além dos altos preços do combustível, tem a ver também com a linha de produção de veículos. Os valores para a aquisição de um carro novo subiram em média 11,27%. Já para o caso das motos, o valor de uma nova subiu em média 7,85%. Matheus Peçanha ressalta que o motivo do aumento de preços ao consumidor final é a escassez de matéria-prima.
“A indústria automotiva teve um grave problema ao longo desse ano com escassez de matéria-prima para fabricação de chapas, peças e acessórios, o que causou praticamente uma ausência de automóvel e motocicleta novos e encareceu o processo de produção”, diz o pesquisador.
Os automóveis usados também não registram um cenário muito favorável, tendo em vista que já acumulam alta de 8,44% no período de 12 meses. Para completar o preço das peças e acessórios automotivos também sofreram um aumento de cerca de 12,06%.
“As peças e acessórios no mercado secundário seguiram obviamente a mesma tendência derivada do mesmo problema de matéria-prima. E os automóveis usados tiveram um aumento de demanda, como consequência dos automóveis novos em menor número e mais caros no mercado”, explica Peçanha.
O levantamento da FGV também analisou os preços de estacionamentos, que registraram alta de 2,41% e do aluguel de veículos, que registrou alta de 2,31%. O único item analisado que registrou redução de preço, mesmo que pequena, foi o seguro facultativo para carros. O serviço apresentou uma queda de 0,23% desde novembro de 2020.
Para Peçanha, em 2022, o preço da gasolina deve seguir pressionado tendo em vista que não há nenhum indicativo de que a Opep deseja aumentar a produção para cobrir a demanda, o que caso ocorresse poderia levar a uma queda na cotação do petróleo.
O preço dos combustíveis também pode ser pressionado por conta do câmbio. Isso porque, 2022 é um ano eleitoral, e anos eleitorais costumam ser muito turbulentos para o mercado financeiro. Sendo assim, não existe nenhum indicativo que a alta inflação para os motoristas vá diminuir no próximo ano.