Economia

Inflação e consumo: entenda a relação conflituosa e como os fabricantes veem mascarando os preços altos

Sem entrar na área acadêmica – seja por expansão monetária, demanda, custos ou simples exploração – todos sabem que a inflação é um aumento de preços. Pela mesma quantia de dinheiro, não se compra hoje o que se comprava há alguns meses.

Contudo, se fosse só o fato de a inflação oficial estar acima de dois dígitos, tudo certo. O problema é que os itens das categorias básicas de alimentos, combustíveis, energia elétrica, transporte, materiais de limpeza cresceram muito mais do que os 12,04% acumulados no índice oficial nos últimos 12 meses. Quer entender essa relação? Continue com a leitura da matéria desta sexta-feira (29) do Notícias Concursos.

Mascarando a inflação

Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria, 95% da população já sentiu o reflexo inflacionário. As famílias percebem esse crescimento de forma diferente, aumentando mais ou menos dependendo da proporção do orçamento que cada indivíduo destina à compra de diferentes produtos.

A pesquisa também mostrou que 76% dos brasileiros disseram que sua situação financeira foi afetada pela inflação. Os mais atingidos são os que não frequentaram a escola, os que ganham até um salário-mínimo e os moradores do Nordeste.

Mas, os índices inflacionários nem sempre são percebidos pelo aumento dos preços. Em alguns casos, o produto mantém o mesmo valor, mas a embalagem contém menos unidades ou é menor em peso e tamanho do que no formato anterior.

Essa prática também existe em outros países, antes que alguém pense que essa é mais uma “maneira brasileira” exclusiva de aumentar os preços. É chamado de “shrinkflation” em inglês e pode ser traduzido como “redução”. É uma estratégia da indústria reduzir o peso, tamanho ou quantidade dos itens para não aumentar o preço. Na prática, porém, é mais caro para o consumidor porque ele ganha menos pelo mesmo dinheiro.

De qualquer forma, essa estratégia mascara a inflação. Além disso, quaisquer alterações na quantidade e peso precisam ser relatadas, não apenas onde os dados foram declarados anteriormente, mas também destacados.

Mais formas de “enganar” os índices

Outra maneira de mascarar a inflação é colocar no mercado, produtos similares que custam cerca de 30% menos que o original, embora em algumas situações custem quase o mesmo. É o caso, por exemplo, do soro de leite, subproduto feito a partir de sobras de queijo e laticínios, vendido pela metade do preço do leite comum.

Também chama a atenção para ofertas de produtos similares, onde às vezes a embalagem é realmente a mesma, e há defeitos no rótulo. Nesse sentido, podemos encontrar baixa qualidade de impressão, dificuldade de leitura e informações pouco claras sobre o tipo de produto que está sendo vendido.

O que a lei diz sobre isso

De acordo com a Seção 37 da Lei de Defesa do Consumidor, os fabricantes envolvidos nas práticas descritas acima, em parte, incorrem em publicidade enganosa. Isso porque, mesmo que a marca escreva na embalagem que é uma variação, é preciso colocar o produto no mercado com uma configuração visual completamente diferente.

Inflação e consumo: entenda a relação conflituosa e como os fabricantes veem mascarando os preços altos – Canva Pro

Como o governo age diante da inflação

A ação é raramente comentada, mas os governos, em três áreas, se beneficiaram da inflação enquanto os trabalhadores pobres e o público em geral sofrem. À medida que o valor dos produtos e serviços aumenta, a base de cálculo é maior e mais impostos são gerados.

Quanto ao Imposto de Renda, por exemplo, o limite de isenção para pessoas físicas está congelado em R$ 1.903,00 desde 2015, o que faz com que os contribuintes paguem mais. Claro que esse desequilíbrio começou antes de 2015, mas, atualmente, se o governo atualizasse o limite para compensar a inflação acumulada desde 1996, o teto de isenção seria de R$ 4.465,34.

Assim, além das várias formas de inflação oficial e disfarçada, existe a real. Esse índice costuma ser alto, depende da faixa de renda e dos itens de consumo, e precisa ser calculado por pessoa ou por domicílio. As famílias com renda mais baixa gastam a maior parte de seu dinheiro em itens mais caros, como comida, gás, transporte, eletricidade, etc. Na verdade, o principal vilão das finanças da população é a inflação real sem índice oficial.

Então, agora é a hora de repensar os hábitos de consumo, principalmente aqueles relacionados aos itens que mais cresceram. A recomendação é iniciar um diagnóstico aprofundado da sua vida financeira pessoal ou familiar. Assim, independente da inflação, será possível minimizar os impactos dos preços altos.