O horário de verão pode voltar a vigorar no Brasil em 2023. O assunto parecia ter sido superado, com a área técnica do Ministério de Minas e Energia informando que não havia necessidade do retorno da regra. Contudo, a suspensão do horário de verão parece estar cada vez menos certa no país.
Nesta sexta-feira (17), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse defender um debate sobre a volta do horário de verão no Brasil. Além disso, ele afirmou que esse retorno não deve considerar apenas a economia de energia, mas também os impactos que as mudanças nos hábitos da população poderão causar. As declarações foram feitas durante entrevista à GloboNews.
“Eu vejo a discussão sem nenhum tabu. Eu defendo isso no governo, o horário de verão deve ser desatrelado da questão exclusivamente energética. O horário de verão tem outras repercussões“, disse o ministro.
O horário de verão foi implementado de forma constante em 1985, visando a preservação do sistema elétrico e a economia de energia através do adiantamento dos relógios em uma hora. Portanto, a regra tem como objetivo fazer com que a população aproveite de uma maneira mais proveitosa a luz natural.
A regra foi instituída pela primeira vez em 1931, durante o governo de Getúlio Vargas, ou seja, há mais de 90 anos. No entanto, apenas em 1985 que a regra se tornou constante, sendo adotada todos os anos.
Como os dias são mais longos no verão, enquanto as noites duram um pouco menos, o governo instituiu o horário de verão. Assim, a população poderia aproveitar a luz natural, já que demora mais para anoitecer, enquanto a manhã chega mais cedo. Assim, reduz-se o gasto de energia elétrica e, consequentemente, evita-se o risco de apagões.
Contudo, em 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, optou-se por suspender o horário de verão no país, e isso também deverá se manter neste ano.
O principal motivo para a suspensão da regra foi a mudança dos hábitos de consumo de energia elétrica dos brasileiros nos últimos tempos. O cenário atual vem mostrando que o horário de verão não se mostra mais tão eficaz quanto anteriormente, e o governo poderá optar por manter a regra suspensa em 2023.
Em setembro, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo o retorno do horário de verão. A saber, a Abrasel também enviou o documento ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e ao ministro do Turismo, Celso Sabino.
De acordo com a entidade, o horário de verão é muito vantajoso para o setor de bares e restaurantes do Brasil. A Abrasel estimou que a regra provocará um impacto direto no faturamento do setor, aumentando o faturamento de 10% a 15%.
“No momento em que o setor ainda se recupera dos prejuízos causados pela pandemia, a implementação da medida beneficiaria um setor que gera renda direta para mais de 7 milhões de brasileiros e tem cerca de 1,5 milhão de empreendimentos no país“, informou a Abrasel.
A carta enviada pela Abrasel ainda ressaltou que a volta do horário de verão movimentará a economia do país, impactando não só o setor de bares e restaurantes, mas também outros setores, com destaque para o comércio e o turismo, “uma vez que os turistas tendem a aproveitar melhor os destinos, estendendo suas atividades até mais tarde“.
“O retorno do horário de verão proporcionaria mais tempo de luz natural durante os dias, o que favorece o consumo e a frequência de clientes nos estabelecimentos, além de trazer mais movimento e segurança às cidades de um modo geral“, avaliou Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
Embora a área técnica do Ministério de Minas e Energia tenha informado meses atrás que não haveria necessidade do retorno do horário de verão, não cabe à pasta essa decisão. Na verdade, cabe ao governo federal decidir se a regra voltará ou se continuará suspensa no país.
Em suma, o Planalto reúne as informações técnicas, mas também considera as pressões políticas. Caso decida retomar o horário de verão, o presidente irá editar um decreto estabelecendo a adoção da regra em 2023.
Vale destacar que, nesta semana, a demanda por energia elétrica no Brasil bateu recorde por dois dias seguidos. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que a demanda de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN) superou 100 GW (gigawatts) na segunda e na terça-feira, dias 13 e 14. Antes disso, a demanda nunca havia alcançado essa marca no país.
A saber, a demanda por energia disparou 16,8% no Brasil desde o início de novembro. Em suma, os primeiros dias deste mês estavam com uma demanda de 86,8 GW, mas o número superou 100 GW nesta semana.
O consumo recorde de energia elétrica no Brasil está acontecendo por causa de uma massa de ar quente que vem cobrindo parte do país. Com isso, as temperaturas estão ficando acima do normal, dificultando a vida das pessoas, que veem na energia elétrica uma forma de acabar com o calor e o desgaste que as temperaturas elevadas causam.