O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou nesta quinta-feira (4) a decisão do Banco Central (BC) em manter a taxa básica de juro da economia brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano. Essa foi a sexta vez consecutiva que a entidade financeira optou pela manutenção da taxa Selic.
De acordo com o ministro, essa decisão o deixou “bastante preocupado”, visto que os juros elevados afetam toda a população do país. Aliás, as pessoas de renda mais baixa acabam sofrendo impactos mais intensos, algo criticado por Haddad.
Em diálogo com ministros e conselheiros no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, no Palácio do Itamaraty, o ministro da Fazenda afirmou não concordar com a decisão do BC em manter “a maior taxa de juros do mundo em uma economia que tem as menores taxa de inflação”.
Para quem não sabe, o Brasil possui a maior taxa de juros reais do mundo. Esse levantamento compilado , realizado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management, analisa 40 países, incluindo as maiores economias do planeta. A lista desconta a inflação projetada para os próximos 12 meses e, então, informa a taxa de juros reais.
Na verdade, o Brasil está na liderança global do ranking de juros reais desde maio de 2022, ou seja, há um ano. Cabe salientar que a taxa Selic está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022. De lá para cá, a taxa vem se mantendo estável nesse patamar, e a expectativa é que siga assim por mais algum tempo.
Segundo Fernando Haddad, a intenção do governo é “perseverar no diálogo com o Banco Central e com a politica monetária”. Ele afirmou que a redução dos juros “é um tema muito importante, que não opõe o político ao técnico”.
Embora o ministro tenha feito essas declarações, sobre o desejo do governo em ver a redução dos juros o quanto antes, ele descartou “qualquer tipo de pressão política sobre um órgão que tem a mesma legitimidade que eu tenho”, referindo-se ao BC.
No entanto, Haddad disse que a redução dos juros, apesar de se tratar da política monetária do país, afeta a política fiscal. Em suma, a política monetária se refere ao controle sobre a emissão do dinheiro, ou seja, a oferta de moeda. Por sua vez, a política fiscal administra a receita e os gastos do governo, controlando o orçamento.
O ministro afirmou que os juros mais baixos ajudam no “planejamento de longo prazo” do país. Além disso, incentiva empresários a investirem nos mais diversos setores econômicos, bem como ajuda a impulsionar a reindustrialização do Brasil.
As críticas não vieram apenas de Haddad. Após o anúncio da manutenção dos juros pelo BC, a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) criticou a decisão, classificando as taxas de juros como “genocidas”.
“Quanto já custou ao país o negacionismo econômico de Campos Neto? Qtos empregos, empresas falidas, famílias destruídas? A vacina sempre esteve ao alcance do Copom, mas insistem nos juros genocidas. Até qdo ficarão impunes?’, disse ela no Twitter.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também criticou o BC pela decisão. Nesta quarta-feira (4), ele se disse contrário ao patamar elevado em que os juros se encontram no Brasil e aproveitou para criticar também o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
“O povo mais pobre sofre as consequências dos juros, mas ele não reclama, porque para ele o que interessa é se a prestação do bem que vai comprar cabe no bolso. Não adianta comprar uma coisa de juros zero e não poder pagar a prestação. Eu não estou dizendo isso, Roberto Campos, porque concordo com você, não”, disse Lula.
As declarações do presidente também ocorrerão no Palácio do Itamaraty, na sessão inaugural do Conselhão. Aliás, ele também disse que “todo mundo sabe que esse conselho pode até discutir taxa de juros, se quiser”.
Entretanto, Lula reclamou que “todo mundo aqui pode falar sobre tudo, mas não pode falar de juros, né?”. Em síntese, o presidente citou entidades representantes das indústrias em relação ao fato de não poderem comentar as taxas de juros.
“Como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas”, continuou o presidente, referindo-se à população do Brasil.