Qual foi o último livro que você leu? Com a tecnologia cada vez mais presente nas tarefas mais básicas do dia a dia, talvez você tenha dificuldades para se lembrar do título mais recente da sua lista, mas isso não significa que você não esteja lendo – o tempo todo, em todo lugar.
Gostar de ler hoje em dia não diz respeito apenas às páginas aglutinadas em obras literárias, mas segue sendo uma vantagem – seja para estudantes ou profissionais que já estão no mercado de trabalho.
E segue sendo o tipo de “habilidade” que se adquire com mais facilidade na infância.
Para a membro da Rede de Leitura Unesco & PUC-Rio e vice-presidente da Academia Paranaense de Letras, Marta Morais da Costa, é preciso entender que “não há uma oposição entre um livro impresso e um e-book, um jornal on-line, ou mesmo um panfleto ou vídeo do YouTube. Todos esses são atos leitores, formas diferentes de ler”.
Ela explica que todos esses materiais são importantes para que as crianças exercitem a interpretação e que tratar o livro como algo sagrado, com características extremamente profundas, tira a possibilidade de interessar crianças que estão pensando no tablet, em uma série de TV ou em um jogo, por exemplo.
“Precisamos andar na corda bamba. Pensar de que forma podemos apresentar um livro para esses jovens, independentemente da questão digital. O que o livro pode trazer que capte o interesse da criança, que prenda a sua atenção?”, pontua.
Responsável por dez volumes do Almanaque do Leitor, Marta destaca que os meios digitais não podem mais ser encarados como atividades secundárias.
“No entanto, precisamos trazer estímulos, chamarizes, atividades criativas que levem a criança a se interessar também pelo livro. É essa diferença que os professores precisam tratar com seriedade, mas sem muita angústia”.
Ao longo da pandemia de covid-19, as plataformas digitais se tornaram ainda mais fundamentais na vida e na rotina escolar de estudantes de todo o mundo. Ignorar essa codependência é, para especialistas, um contrasenso.
A Consultora Pedagógica do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Patrícia Martinelli, relata a importância desse tipo de recurso nos últimos dois anos.
“Enquanto as crianças não podiam estar na escola, celulares, tablets e notebooks eram indispensáveis para que elas pudessem acompanhar os conteúdos propostos pelos professores. E esse hábito deve se fortalecer nos próximos anos, já que o ensino ora remoto, ora presencial, poderá estar presente durante algum tempo no processo de ensino e aprendizagem do mundo todo devido à presença da pandemia”, afirma.
O Sistema de Ensino Aprende Brasil atende a rede pública de ensino de mais de 200 municípios de todo o país.
Ler não pode ser obrigação, diz Marta. “Não gosto muito da palavra hábito porque a leitura tem que ser tudo, menos uma rotina obrigatória. Ela tem que ser algo que me interessa fazer, que eu gostaria de estar fazendo, algo de que eu sinta falta”.
Uma das dicas para que isso aconteça é conversar com as crianças, entender os interesses delas e o que elas gostam de fazer quando não estão na escola.
“Posso pensar em atividades semelhantes às que eles praticam fora da escola. As crianças comem, por exemplo. Então, posso tratar de gastronomia baseada em livros, em textos escritos, em receitas. Se elas gostam de jogos de mistério, posso fazer um jogo em relação a um determinado livro ou notícia, sempre em formato de mistério”, detalha a especialista.
Aprender a interpretar textos é importante para todas as áreas da vida. E esse é, na verdade, o grande desafio na hora de ensinar a gostar de ler.
“A questão da interpretação é a mais difícil, especialmente para o professor, que precisa criar com seus alunos modos de entender os textos da vida. Como interpretamos um desenho animado, uma história em quadrinhos, um fato histórico? Como podemos interpretar do ponto de vista infantil esses dois anos de pandemia?”, exemplifica Marta.
Aprender a interpretar envolve aprender certos signos da realidade, assim como se aprendem as palavras. Para isso, é indispensável estabelecer diálogos com as crianças sobre o que elas estão vivendo no dia a dia.
“Quando uma criança se depara com um mural que tem palavras que ela ainda não conhece, ela é capaz de dar um sentido para o que está vendo. E ela precisa aprender na escola a aprofundar isso pelos sinônimos, pelas igualdades ou pelas diferenças, ouvindo o que os outros dizem sobre o mesmo fato e entendendo que todos têm algo a dizer.”
Por fim, Marta ressalta que as histórias são mais significativas quanto mais próximas elas estiverem das pessoas.
“Para ensinar a gostar de ler, eu não preciso do hábito, mas da paixão, do interesse, da falta. As crianças precisam sentir falta e vontade de ler uma história ou de pesquisar mais a respeito dos assuntos sobre os quais se interessam”, finaliza.
Fonte: Assessoria de Imprensa – Sistema Aprende Brasil.
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