Golpe sobre uma suposta "menina com câncer" roubou mais de meio milhão de dólares

Golpe sobre uma suposta “menina com câncer” roubou mais de meio milhão de dólares

Vídeos no YouTube usam imagem de criança para pedir ajuda financeira em tratamento médico, mas tudo não passa de encenação

Recentemente, a equipe do Laboratório de Ameaças da Avast identificou um novo golpe circulando na plataforma do YouTube. Em um anúncio com um vídeo angustiante, uma garotinha está sentada, com um vestido de hospital. Ela tem o cabelo raspado e chora, enquanto fala para a câmera. É a própria menina quem informa ao espectador que está com câncer e que a sua família não pode arcar com o tratamento.

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O golpe visa explorar o sistema de crowdfunding – vaquinhas virtuais – que vem crescendo na última década. Através dele, as pessoas conseguem arrecadar dinheiro na internet para diversas causas, desde materiais escolares até contas médicas e despesas funerárias. Os apelos são feitos através das redes sociais, implorando a ajuda de amigos, familiares e conhecidos. E, como tantas outras coisas na internet, algumas dessas ações são, na verdade, fraudes. 

No vídeo mencionado acima, a garotinha explica, entre lágrimas, o seu drama. “O tratamento custa muito dinheiro e os meus pais não podem pagá-lo. Por favor, me ajudem a ficar boa. Por favor. Eu não quero morrer.” 

O vídeo impacta quem o assiste, por seu conteúdo emocional. E, em seguida, oferece a opção de doar através de uma página vinculada de angariação de fundos. Desta forma, os visitantes podem ajudar a salvar “Alexandra” (ou Ariela, Ksenia ou Barbara, dependendo do vídeo). 

Vídeo é uma farsa  

A Avast não é capaz de dizer quem realmente essa garota é ou qual é a sua situação, mas afirma de que é uma farsa. Os mais de US$ 640 mil já arrecadados também não serão usados para o tratamento. A empresa identificou uma seleção de vídeos da mesma garota, com apelos em árabe, francês, português, espanhol e hebraico. Vídeos com apelos semelhantes, mas com garotas diferentes, também foram detectados.

No geral, os vídeos sobre o golpe da “menina com câncer” foram vistos mais de 10 milhões de vezes. E, além dos fatos acima, a equipe do Laboratório de Ameaças da Avast descobriu as seguintes indicações de que os vídeos da “menina com câncer” são uma farsa: 

  • Todos os domínios foram registrados muito recentemente. 
  • Os vídeos usam endereços de e-mail anônimos, como 6554997@gmail.com, asd1010850@gmail.com. 
  • “Alexandra” e “Ariela” têm os mesmos endereços de e-mail de contato, apesar de serem vídeos de duas garotas diferentes, para os quais pode supor serem de localidades muito diferentes.   
  • O endereço pode ser rastreado até um complexo residencial em Jerusalém. 

Os vídeos também usam alegações hiperbólicas, incluindo o fato de que o câncer da menina se espalhou por todo o corpo. Eles pedem doações para tratar o referido câncer, mas se um câncer se espalhou tanto, provavelmente será tarde demais para uma intervenção médica. 

Golpe já está sendo combatido 

A Avast lembra que a falta de especificidade é um sinal vermelho em golpes online. Esse golpe, como tantos, aproveita os impulsos altruístas que os humanos têm para ajudar uns aos outros. A empresa destaca que é especialmente malicioso e antiético, porque está potencialmente se aproveitando de uma criança real, doente ou não, cujo vídeo foi roubado para o golpe ou, então, ela está sendo forçada a encenar. 

Outro problema é que corrói a confiança das pessoas no crowdfunding pessoal e na caridade, e desvia o dinheiro de causas e instituições reais. 

Desde que souberam do golpe da “menina com câncer”, os pesquisadores da Avast bloquearam todos os domínios relacionados que conseguiram encontrar e protegeram quase 1 mil usuários em apenas 48 horas. Eles também relataram os vídeos para o YouTube e o golpe à Equipe de Resposta a Emergências Cibernéticas de Israel (CERT), onde os domínios parecem estar registrados. 

Por fim, existem golpes semelhantes sendo espalhados por e-mail, embora os pesquisadores da Avast suspeitem que as duas campanhas não estejam relacionadas, apesar de usarem o mesmo cenário. Garantir a segurança online é uma tarefa complexa que, em última análise, cabe a cada indivíduo, que deve tratar tudo o que vê na internet com um olhar crítico e fazer uma pausa antes de apertar o botão “doar”. 

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