Direitos do Trabalhador

Fome cresce e supera a taxa do início do Programa Bolsa Família

Atualmente, mais pessoas estão em estado de fome do que na época em que o programa foi criado.

A pandemia do novo Coronavírus vem deixando cada vez mais marcas em todo território Nacional, através de graves mudanças sociais e econômicas. Nesse sentido, os índices relacionados à fome no país cresceram rapidamente e ficaram acima dos números encontrados na década passada, que deu início ao Programa Bolsa Família.

Tal programa, por sua vez, se destina a auxiliar famílias que estejam em estado de pobreza ou extrema pobreza. Sendo assim, sua concessão gera diversos impactos em fatores como a fome que, recentemente, cresceu nos lares brasileiros.

Pesquisa aponta estado de insegurança alimentar

O grupo Alimento para Justiça da Universidade Livre de Berlim, juntamente com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade de Brasília (UnB), realizou uma pesquisa para investigar a fome no Brasil.

A pesquisa contou com cerca de 2 mil pessoas, durante os meses de novembro e dezembro de 2020. Como resultado, observou-se que 15% dos participantes estavam em estado de insegurança alimentar grave e 12,7% em situação moderada. Ou seja, corriam certo risco de deixar de comer devido à escassez de dinheiro. Tais dados, portanto, geram a estimativa de que cerca de 58 milhões de cidadãos brasileiros estão incluídos na mesma situação.

Além disso, 31,7% estariam em insegurança leve. Isso significa que existe a preocupação de que os alimentos acabem antes de se obter a quantia necessária para a compra de novos.

Ademais, a pesquisa também relatou que 59,4% de toda a população enfrentava, durante o final de 2020, um grau de insegurança alimentar, o que totaliza em 125 milhões de pessoas.

O resultado encontrado demonstra uma forte aceleração da Fome no Brasil, que tinha voltado a subir durante o ano passado. Certamente, as condições geradas pela crise econômica e pela falta de políticas públicas influenciaram no resultado de todas as demandas básicas dos mais necessitados.

Principais resultados da pesquisa

O estudo demonstra que cerca de 59,4% dos brasileiros se depararam com algum grau de insegurança alimentar durante 2020. Tal nível está quase 23 pontos percentuais acima dos números que a última POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), encontrou. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 36,7% da população brasileira enfrentou dificuldades no provimento de sua alimentação básica durante os anos de 2017 e 2018.

O melhor resultado já apresentado pelo Brasil foi durante o ano de 2013, em que 22,6% da população enfrentava as mesmas dificuldades. Já em 2009, este valor era de aproximadamente 30,2%.

Desigualdade regional de cor e gênero

 O estudo também demonstra que o conjunto de problemas relacionados à alimentação se distribui de maneira irregular pelo país. Então, afirma ainda mais a má distribuição de recursos e o alto índice de desigualdade social presente no Brasil.

Assim, na região Nordeste, 73,1% da população geral enfrenta atualmente problemas para conseguir comida para seus lares e no Norte a taxa é de 67,7%. Já na região Sul, 51,6% e 53,5% no Sudeste.

Outro fator importante é que a grande maioria das pessoas que apresentam algum grau de insegurança alimentar são pardas e negras. Além disso, o problema também é comumente encontrado em lares chefiados por mulheres, em que cerca de 73,8% apresentam instabilidades referentes à alimentação.

Renata Motta, líder da pesquisa e professora de sociologia da Universidade Livre de Berlim, diz que a insegurança alimentar é um retrato do nível de desigualdade do Brasil.

Ademais, o conjunto de dificuldades que o cenário pandêmico intensificou também restringiu a alimentação dos brasileiros em um nível nutricional. Dessa maneira, houve, também, a diminuição do grau de diversidade dos alimentos encontrados nos lares destes cidadãos. Entre os participantes, 41% relataram a diminuição no consumo de frutas e, 44% o de carnes. Já para os que se encaixam na situação mais grave, a redução da alimentação saudável foi brusca, acometendo 85% dos entrevistados.

Os impactos positivos do Auxílio Emergencial

Durante este período, portanto, o Auxílio Emergencial fez a diferença e alentou um pouco do sofrimento de alguns brasileiros. Assim, estima-se que sem sua presença os resultados encontrados pelo estudo seriam muito piores e que o nível de fome poderia ter alcançado números ainda mais catastróficos em todo país. Nesse sentido, aproximadamente 63% dos participantes entrevistados utilizaram a verba do programa para compra de comida.

Inclusive, exatamente por ser peça fundamental no combate à fome e à pobreza, a redução de suas parcelas no final de 2020 também contribuiu para o aumento dos níveis de pobreza presentes no estudo.

Dessa forma, o pagamento do Auxílio Emergencial voltou a ser pago em abril de 2021. Porém, infelizmente, com um novo reajuste de parcelas e um conjunto de novos quesitos para a continuação do beneficiário no programa.

Gestões governamentais e o índice da fome

O Brasil ganhou holofotes durante a década passada e acabou chamando atenção de diversos países por ter conseguido redução dos níveis relacionados à fome entre a população. Pela primeira vez, inclusive, no ano de 2014, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) excluiu o país do Mapa da Fome, com base na pesquisa realizada pelo IBGE durante o ano de 2013.

Contudo, nos últimos anos, a crise econômica fez com que a insegurança alimentar voltasse a assolar os lares brasileiros.

Segundo Renata Motta, ainda, a redução dos níveis de fome de 2003 a 2014 possui influência direta do Programa Bolsa Família e do aumento do salário mínimo. Entretanto, ela relata que, durante este período, o país apresentou uma série de políticas públicas que sustentavam e davam força ao combate à fome. Portanto, essa postura fortaleceu o programa de alimentação.

Após tal período, durante o governo Dilma Rousseff em 2014, a grande crise econômica e a limitação orçamentária contribuíram para seu enfraquecimento, o que diminuiu a renda das pessoas. Em 2016, inclusive, durante a gestão de Michel Temer, ocorreu o crescimento da parte agrícola voltada à exportação. Consequentemente, tal medida acarretou na perda de força da agricultura familiar, que exerce forte papel no fornecimento de alimentos voltados ao mercado doméstico.

Por fim, com o endurecimento da pandemia da Covid-19 em conjunto com algumas decisões políticas, houve novamente a piora da situação. Nessa sentido, ocorreu a queda da renda da maioria dos cidadãos e o aumento da inflação, a qual superou a marca de 15% durante o ano de 2020. Tal fator dificultou ainda mais o acesso a alimentação adequada para muitas famílias brasileiras.