O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, informou nesta quarta-feira (20) a sua decisão sobre os novos rumos da política monetária adotada no país. A entidade financeira manteve estável a taxa de juros de referência do país, no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano.
“À medida que nos aproximamos da taxa […] que consideramos apropriada para reduzir a inflação para 2% ao longo do tempo, os riscos tornam-se bilaterais […] e o bom senso natural a fazer é se mover um pouco mais devagar e é o que estamos fazendo“, informou o presidente do Fed, Jerome Powell, após o anúncio da entidade sobre os juros.
Em comunicado divulgado hoje (20), o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), informou que o Fed poderá voltar a elevar os juros até o final do ano. Contudo, o cenário atual permitiu ao banco central manter a taxa estável nos EUA.
De acordo com o Fomc, os indicadores recentes refletem um crescimento “a um ritmo sólido” da atividade econômica dos EUA. Além disso, os dados também mostram que a inflação norte-americana ainda continua elevada.
A entidade também ressalta que a taxa de desemprego nos Estados Unidos continua em nível baixo, apesar do enfraquecimento na criação do número de vagas nos últimos meses.
“O comitê procura atingir o nível máximo de emprego e levar a inflação à taxa de 2% a longo prazo“, disse o Fomc no comunicado. Aliás, a entidade afirmou que o Fed poderá colocar em prática algumas ações para atingir seus objetivos, levando em consideração os seguintes pontos:
“Além disso, o Comité continuará a reduzir as suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas de agências, conforme descrito nos seus planos anunciados anteriormente“, acrescentou o Fomc.
Nas últimas 12 reuniões, o Federal Reserve decidiu elevar a taxa de juros nos EUA em dez ocasiões. A primeira alta aconteceu em maio do ano passado, e o ciclo de avanços seguiu até maio deste ano, totalizando nove altas consecutivas.
No entanto, em junho, o Fed decidiu manter os juros estáveis, algo que não aconteceu na reunião seguinte, em julho, quando os juros voltaram a subir. Agora, em setembro, a entidade optou pela manutenção da taxa, mas isso não quer dizer que não haverá novos aumentos nas próximas reuniões.
Vale destacar que o Fed promoveu quatro altas consecutivas de 0,75 p.p. na taxa de juros entre junho e novembro de 2022. Após essa sequência, a entidade financeira desacelerou as altas, elevando os juros em 0,50 p.p. na reunião seguinte.
Posteriormente, o Fed promoveu mais uma desaceleração, anunciando um reajuste ainda mais leve, de 0,25 p.p. E isso se repetiu nos dois encontros seguintes da entidade, até maio.
Em todo o planeta, os bancos centrais elevam os juros com o objetivo de segurar a inflação nos países. Em síntese, política monetária apertada é sinal de juros elevados em diversos setores, ou seja, a população sofre com o seu poder de compra reduzido.
Esse cenário não é positivo para a economia, que sofre para se manter aquecida, já que a redução do consumo prejudica a atividade econômica dos países.
Apesar de negativa, a ação é vista como um “remédio amargo” para conter a taxa inflacionária. Por isso que os bancos centrais elevam os juros em períodos de inflação elevada, e isso explica as altas promovidas pelo Fed no ano passado, fazendo a taxa inflacionária perder força nos EUA.
Na verdade, isso acontece porque o aumento dos juros limita o avanço da chamada “inflação por demanda”, caracteriza pela alta dos preços de bens e serviços devido à procura elevada dos consumidores.
Embora tenha mantido os juros estáveis, a taxa continua muito elevada nos EUA, e isso deverá afetar todo o planeta. No caso do Brasil, o que mais deverá impactar a vida da população é o aumento dos preços dos produtos importados.
Em resumo, quanto mais altos estiverem os juros nos EUA, mais rentáveis ficam os ativos relacionados ao governo norte-americano. Dessa forma, os investimentos estrangeiros tendem a crescer no país, fortalecendo o dólar em detrimento de outras moedas.
Como a cotação internacional de bens e serviços é feita em dólar, tudo que vier de fora do Brasil deverá ficar mais caro. Nem todos sabem, mas diversos produtos consumidos diariamente vêm do exterior, como o trigo, usado em pães, bolos, massas e biscoitos. A saber, entre 50% e 60% do trigo consumido no Brasil vem do exterior.
Também não há como esquecer os combustíveis. Em síntese, a política de preços da Petrobras leva em consideração a cotação internacional do barril de petróleo e as oscilações do dólar. Assim, quanto mais cara estiver a moeda americana, maiores os riscos de alta dos combustíveis no país.
Além disso, o dólar mais elevado encarece a dívida pública do Brasil e pressiona o BC brasileiro a também manter os juros elevados no Brasil. Isso porque, mesmo com uma inflação mais baixa, uma redução nos juros brasileiros pode fortalecer o dólar e impulsionar novamente a inflação no país.