Segundo um estudo realizado pela BlinkLearning, especializada no desenvolvimento de soluções para educação, a falta de dispositivos eletrônicos e problemas de conectividade são os principais desafios para a digitalização do ensino. A pesquisa, que ouviu mais de 4 mil professores na Espanha e de dezenove países da América Latina, incluindo o Brasil, destaca que a ausência de uma estrutura tecnológica adequada para a aprendizagem impede um aprofundamento dos conhecimentos.
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O levantamento revela ainda que 63% dos alunos no Brasil contam apenas com seus próprios telefones como apoio para o aprendizado. Assim como na Argentina (64%), Colômbia (56%) e Chile (50%). Na Espanha e no México o índice é menor, 29% e 35% respectivamente. Segundo os docentes brasileiros ouvidos no estudo da BlinkLearning, somente 11% dos alunos podem contar com laptops/computadores portáteis, 9% com desktop, 1% com tablets e 2% com classes que tenham lousas digitais.
A falta de estrutura tecnológica impede que as aulas sejam mais “digitais”. A pesquisa da BlinkLearning mostra que os professores brasileiros foram os que declararam o menor uso da tecnologia em suas aulas antes da pandemia. Metade nunca a usou ou a usou apenas uma vez por mês.
A situação mudou com o início das aulas remotas – por conta da pandemia – e o número caiu para 14%, sendo que o grupo que lança mão da tecnologia diariamente subiu de 9% para 52%. Apesar do avanço significativo, o Brasil ficou atrás dos demais: México (79%), Chile (77%), Peru (74%), Colômbia (64%), Espanha (58%) e Argentina (54%).
Para Gabriel Meirelles, gerente nacional da BlinkLearning para o Brasil, a falta de estrutura tecnológica limita as possibilidades de os alunos buscarem complementar e praticar os temas em pauta. Já para os professores, eles deixam de explorar equipamentos que podem aumentar a participação das crianças e adolescentes nas atividades.
De acordo com o executivo, existe uma relação entre o interesse dos estudantes no conteúdo proposto e na adoção de ferramentas tecnológicas que possibilitam a interatividade online. Entretanto, dentre os países analisados no estudo, os professores do Brasil são os que percebem a menor relação entre o uso da tecnologia e o aumento da motivação dos estudantes, 44%. Vale notar que, no México e Peru, o índice é de 61%, Chile e Espanha 59%, Argentina 53% e Colômbia 50%.
“O quadro é de ausência de estrutura tecnológica adequada para que a aprendizagem e a tecnologia componham um mesmo processo para os estudantes, através de softwares e programas que ofereçam maior autonomia aos alunos e novas possibilidades aos professores, de forma que haja, de fato, um aprofundamento dos conhecimentos, inclusive daqueles requeridos atualmente”, destaca
Meirelles defende que é preciso olhar para a educação com urgência e realizar as mudanças e investimentos necessários para que este segmento, que é o alicerce de um país, caminhe alinhado com os avanços conquistados pela sociedade contemporânea.
De acordo com a pesquisa TIC Educação 2020 (Edição Covid-19 – Metodologia Adaptada), realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), grande parte das escolas possuem computadores de mesa (91%) ou computadores portáteis (79%) em funcionamento. Mas a presença de tablets nas escolas é menor: 21% das escolas contam com este tipo de dispositivo em funcionamento.
Para Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, o grande desafio é garantir a disponibilidade de dispositivos digitais para uso pedagógico, tanto no que diz respeito à presença de equipamentos quanto à quantidade e condição de conectividade desses dispositivos.
Em questão de conectividade, 82% das escolas possuem acesso à Internet, percentual que sobe a 98% entre as escolas localizadas em áreas urbanas e fica em 52% entre as escolas localizadas em áreas rurais. Por dependência administrativa, as escolas particulares (98%) e estaduais (94%) apresentam maiores proporções em comparação com as escolas municipais (71%).
Escolas com menor número de alunos matriculados também apresentam menores proporções de acesso à rede: 69% entre aquelas que possuem de 51 a 150 matrículas e 55% entre as escolas com até 50 matrículas.