O presidente do Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Manuel Palácio, esteve no Congresso Nacional na manhã desta quarta-feira (8), para dar explicações sobre a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A polêmica segue a mesma: as questões que tratam sobre o agronegócio no Brasil.
Deputados de direita disseram que a prova teria um cunho ideológico, e voltaram a pedir pela anulação de três questões que tratam diretamente ou indiretamente sobre o tema. Palácios, no entanto, negou que esta seja a função da prova, e sinalizou que as questões não deverão ser anuladas.
“Estudante não tinha que concordar”
Entre outros pontos, o presidente do Inep disse que os textos publicados no Enem não tomam como base a necessidade de o candidato concordar ou não com o enunciado. De acordo com ele, os candidatos apenas precisariam mostrar que entenderam o que aqueles documentos diziam na prática.
“A resposta correta não depende de opinião e tem relação com a avaliação de habilidades cognitivas”, disse ele. “Ciências humanas lidam com problemas da sociedade, então tendem a ser mais provocadores do que outros temas. [Há] trechos que são claramente liberais e estão presentes na prova, mas também não é questão que importe”, seguiu o presidente do Inep
“Enem não é contra o agronegócio”
Durante a reunião no Congresso, Palácios também negou as acusações de que o Inep estaria atuando para demonizar o agronegócio no Brasil.
“É claro que o Enem não demoniza o agronegócio, é claro o Inep não demoniza o agronegócio, é claro que todos reconhecemos a imensa importância do agronegócio para o país. Mas isso não precisa ser dito, é um tanto óbvio e não parece ser um tema relevante nessa discussão”, disse o presidente do Inep.
As perguntas polêmicas do Enem
- Questão 70
“No Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio. De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado. Assim, as águas, as sementes, os minerais, as terras (bens comuns) tornam-se propriedade privada. Além do mais, há outros fatores negativos, como a mecanização pesada, a “pragatização” dos seres humanos e não humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”.
Os elementos descritos no texto, a respeito territorialização da produção, demonstram que há um:
a) cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida.
b) descaso aos latifundiários, impactando a plantação de alimentos para a exportação.
c) desprezo ao assalariado, afetando o engajamento dos sindicatos para com o trabalhador.
d) desrespeito aos governantes, comprometendo a criação de empregos para o lavrador.
e) assédio ao empresariado, dificultando o investimento de maquinários para a produção.”
Segundo o gabarito não oficial, a resposta para esta questão é a letra A.
- Questão 89
“Alternativas logísticas estão servindo de instrumentos que ativam os mercados espetaculares de terras nas diferentes regiões da Amazônia e constituem em indicadores utilizados por diferentes atores para defender ou denuciar o avanço da cultura da soja na região e, com ela, a retomada do desmatamento. É evidente que o crescimento do desmatamento tem a ver também com a expansão da soja, porém atribui a ela o fator principal parece não totalmente correto. Parto da compreensão central de que a lógica que gera o desmatamento está articulada pelo tripé grileiros, madeireiros e pecuaristas.
A questão pede ao estudante que identifique qual problema central é desencadeado na situação descrita, na visão do autor, por uma das seguintes opções:
– apropriação de áreas devolutas;
– sonegração de impostos federais;
– incorporação de exportação ilegal;
– desoneração de setores produtivos;
– flexibilização de legislação ambiental.”
O gabarito não oficial indica que a resposta para esta questão é a letra A.
- Questão 71
“Por hora, apenas os mais abastados poderão sonhar em viajar ao espaço, seja por um foguete ou por um avião híbrido, mas toda a população global poderá sentir os efeitos dessas viagens e avanços tecnológicos. Para uma aventura dessas, as empresas tiveram que criar novas tecnologias que podem, em algum momento, voltar para a sociedade. A câmera fotográfica, hoje comum no mundo, antes foi uma invenção para ser usada em telescópios, e o titânio, usado até na medicina, foi desenvolvido para a construção de foguetes
Os textos apresentam perspectivas da nova corrida espacial que revelam, respectivamente: a) Dependência e progresso.
b) Expectativa e desconfiança.
c) Angústia e adaptação.
d) Pioneirismo e retrocesso.
e) Receio e civilidade.”
O gabarito não oficial indica que a resposta para esta questão é a letra B.