Educação

Enem e vestibulares: Pressão pode prejudicar saúde física e mental dos estudantes

Uma das fases mais complexas da vida ocorre entre o fim da adolescência ao início da fase adulta. Esse período é de escolhas importantes que poderão definir os rumos de uma vida toda. 

Tudo começa pela escolha da profissão, e para chegar lá é preciso estudar e muito. Os períodos que antecedem o vestibular e o Enem são cruciais para dar início ao tão sonhado diploma. 

Mas a pressão interna, familiar e social para essa vitória, associada à pandemia da Covid-19, podem desencadear transtornos mentais como ansiedade, angústia e até a Síndrome de Burnout.  

Para Eliziane Jacqueline dos Santos, doutora em Saúde Coletiva, psicóloga, pesquisadora com ênfase em Políticas Públicas e Direitos Sociais e coordenadora do curso de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Faculdade Santa Marcelina, essa transição exige muita conversa e uma rede de apoio com familiares e amigos, organização em relação ao tempo dedicado aos estudos, sem deixar de lado cuidados com a alimentação, sono e atividades culturais e esportivas. 

“Esse entendimento é importante para lidar com a ansiedade e a autocobrança, e a sensação de amparo é crucial nessa fase de preparação” afirma a doutora. 

A busca pela aprovação nos vestibulares pode se tornar um problema quando passa a ser exagerada como destaca a psicóloga: 

“A cobrança vem no sentido de dar satisfação aos demais atores sociais. E é nessa pressão que acabam por adoecer. Além disso, temos os pesos das provas por áreas, que indicam o quanto esses jovens precisam se dedicar para uma aprovação imediata entre outras rotinas que não gerenciadas consomem o tempo e levam o indivíduo ao esgotamento mental”. 

Geralmente, as provas exigem solução de problemas e diálogo com a realidade, cálculos, capacidade de organização das ideias e síntese, boa escrita, interpretação de textos, leitura cuidadosa, que de certa forma, envolvem o bom uso das funções mentais superiores, que são atenção, sensação, percepção, memória, pensamento, linguagem, emoção e orientação: 

“Organizar todas essas funções para atender num espaço de tempo é um grande desafio e o jovem, na maioria dos casos, sentirá ansiedade, reações psicossomáticas, alterações de sono e humor, além do receio voltado ao desempenho abaixo do esperado, uma vez que ele precisa dar essa satisfação social”, exemplifica a especialista. 

Além de enfrentar horas de estudo, ansiedade e organização para a conquista de uma vaga numa renomada universidade, os estudantes precisam agora lidar com as consequências da pandemia da Covid-19.

“Ela tirou o contato do jovem com o seu grupo social e a interação por plataformas virtuais em excesso contribui para o confinamento e quebra dos laços sociais. Em alguns casos, os jovens não veem outras alternativas do que ficarem 24 horas dentro da sua casa, somado aos demais fatores que precisa se adaptar para se concentrar, como barulhos, convivência com demais pessoas, falta de espaço para estudar, e conseguir o desempenho esperado nos exames”, ressalta. 

Lazer e cultura antes das provas

Primeiro, pelo menos, dois dias antes da prova pode ser importante parar e dar um tempo. Aquilo que se aprendeu e assimilou em longos períodos de estudo não deverá mudar com uma memória temporária, no sentido de decorar.

Então, ir ao cinema, realizar um esporte, participar de eventos sociais para “desligar” contribuem para amenizar a ansiedade e o cansaço: “As atividades de lazer são essenciais para oxigenar essa pressão e ajudam a preparar o corpo para atender às exigências das provas. Dormir e se alimentar adequadamente também faz parte do controle do corpo e da mente, para que se sinta psicologicamente e fisicamente preparado”. 

Pressão mental x estresse mental

A profissional de saúde explica que a pressão mental é um alerta que envolve os aspectos relacionados aos excessos de exigência externos e a forma como os indivíduos lidam com tais exigências, ocasionando a chamada fadiga psicológica e que alteram as funções cognitivas importantes, bem como o estado emocional dos indivíduos, de modo que passa a sentir cansaço e dificuldades na realização de tarefas cotidianas: 

“A pressão mental é também confundida com o estresse mental, quese relaciona a estados emocionais provenientes da reação pessoal dos indivíduos frente a mudanças significativas em suas vidas. Como estamos falando dos jovens, tal mudança é o vestibular e a escolha da profissão”.

Eliziane aponta que o esgotamento mental é decorrente da sobrecarga de funções e pela dificuldade em executá-las por conta da pressão em atingir metas em curto prazo, falta de autonomia e de reconhecimento dos esforços, excesso de competição, desconfiança, insatisfação, infelicidade, relacionamento com pessoas exigentes e controladoras, somadas às características do acúmulo de tarefas que o indivíduo não consegue gerenciar.  

No caso dos estudantes, ele se associa ao excesso de tempo que se dedica aos estudos e a cobrança interna, os quais, se não administrados, podem desencadear a Síndrome de Burnout. 

“De acordo com dados da American Psychiatric Association (2018) os transtornos mentais são caracterizados como condições de saúde que envolvem mudanças na emoção, pensamento e comportamento (ou a combinação destes), sendo associados ao sofrimento e/ou problemas na realização de atividades sociais, familiares e no trabalho”.  

Quando procurar ajuda médica

Para o jovem estudante, a vida social e familiar fica comprometida quando tem que conciliar extensos períodos de estímulo intelectual, como estudo e pesquisas escolares/universitárias, falta de exercícios, problemas no sono e alimentação e ausência de lazer e outras atividades que o façam desligar desses fatores.  

Na ocorrência de sintomas como ansiedade, humor deprimido, tristeza, irritabilidade, cansaço excessivo, problemas com sono, dificuldade de concentração e memória, pressão no peito, o correto é procurar ajuda médica e psicológica, a fim de tratar o mais rápido possível esses sintomas. 

A observação das mudanças de comportamento dos filhos é um auxílio muito importante por parte dos pais, pois contribui para a manutenção da qualidade de vida e da saúde mental do adolescente e jovem. 

Dar tempo ao tempo é uma forma de compreender quando o resultado não foi o esperado, ou seja, a tal vaga não foi conquistada afirma a especialista: 

“O jovem precisa entender que nem sempre será 100% em tudo e que tal reconhecimento faz parte da natureza humana. Entender que o resultado esperado não era satisfatório e aprender com os erros. Uma nova retomada é um processo que envolve também o apoio familiar. Procurar ajuda psicoterápica para analisar suas questões pessoais e as exigências do meio é o caminho que permite essa revisão de valores e ressignificação das experiências”, finaliza a doutora.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Faculdade Santa Marcelina.

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