O ano de 2022 ficou marcado pelo endividamento elevado no Brasil. A saber, o ano passado chegou ao fim com 77,9% das famílias do país com alguma dívida. E esse resultado foi impulsionado, em parte, pelos mais ricos.
Em síntese, as famílias que ganhavam mais de dez salários mínimos por mês tiveram o maior percentual de endividamento já registrado no país. No ano passado, 74,3% dos mais ricos tinham alguma dívida.
Estes dados fazem parte da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Já em relação às famílias que recebem menos de dez salários mínimos por mês, a proporção de endividados chegou a 78,9%, taxa superior à registrada pelos mais ricos do país.
Vale destacar que a proporção de endividamento entre os mais pobres ficou mais próxima à média nacional. Isso mostra que esse grupo de brasileiros exerceram uma influência bem mais forte na taxa nacional que os mais ricos.
De acordo com o levantamento, a proporção de endividados entre os mais pobres cresceu 6,8 pontos percentuais (p.p.) em relação a 2021. Já em relação aos mais ricos, o crescimento foi ainda maior, de 8,3 p.p.
A CNC destacou que a proporção de endividados cresceu de maneira mais significativa entre os mais ricos, em comparação às famílias de menor renda. A propósito, a série histórica teve início em 2013.
Em resumo, a menor de endividados entre os mais ricos foi registrada em 2017 (51,7%). Já entre os mais pobres, a menor proporção foi observada em 2018 (61,6%).
A título de comparação, a maior diferença percentual entre os grupos aconteceu em 2017 (10,9 p.p.). No entanto, como o endividamento cresceu bastante entre as famílias de maior renda, a diferença percentual caiu para 4,6 p.p. no ano passado.
“Pela primeira vez na história da Peic, a proporção de endividados entre os mais ricos alcançou mais de 70% de consumidores desse grupo, que essencialmente utilizaram o cartão de crédito para financiar despesas com a retomada do consumo de serviços, viagens e entretenimento fora de casa a partir de 2021”, ressaltou a CNC.
Segundo a CNC, o aumento percentual no número de brasileiros endividados aconteceu devido a três principais fatores.
O primeiro deles, relacionado às famílias de menor renda, foi a utilização do crédito para recomposição da renda. Além disso, o crédito foi fundamental para que estas pessoas mantivessem o consumo de itens de primeira necessidade.
Tudo isso foi muito importante, porque a pandemia da covid-19 provocou diversos impactos negativos em várias áreas do país. Algumas das mais atingidas foram o mercado de trabalho, com muita gente perdendo suas ocupações, e a inflação, que disparou em 2021, mantendo-se elevada em 2022.
O segundo fator que impulsionou o endividamento no Brasil, relacionado às famílias mais ricas, foi a repressão do consumo devido ao lockdown. Em suma, o distanciamento social e o desaquecimento econômico levaram essas famílias a contraírem mais dívidas no país.
Já o terceiro fator, referente a todos os consumidores do país, tinha relação com as inovações tecnológicas nos serviços financeiros. Isso incentivou o uso do crédito pela população na aquisição de bens e serviços, no geral. E o resultado foi o aumento do endividamento no país, já que muitos não tinham condições de pagar suas dívidas.
O levantamento também revelou que as dívidas comprometeram 30,2% da renda média dos brasileiros em 2022. A saber, este é o mesmo percentual que o registrado em 2021, maiores taxas desde 2016.
“O maior nível de endividamento e o encarecimento do crédito pressionaram negativamente os orçamentos e contribuíram para a manutenção do comprometimento da renda acima dos 30%. Na última década, apenas entre 2015 e 2016 a proporção da renda comprometida esteve mais alta do que o indicador atual”, explicou a CNC.
Além disso, o levantamento revelou que 21,5% dos endividados tiveram que gastar mais da metade dos seus rendimentos para pagar dívidas no ano passado no país. Em resumo, esse foi o maior percentual desde 2015, quando a taxa chegou a 23%. Aliás, “esse é um dos elementos que sinalizam a condição de superendividamento”, segundo a entidade.
Por fim, a pesquisa trouxe uma notícia positiva. Desde 2020, os brasileiros estão conseguindo reduzir o prazo médio em que estão comprometidos com dívidas. No ano passado, o tempo foi de sete meses, abaixo das taxas de 2020 (7,2 meses) e 2021 (7,1 meses).