A Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgou nesta terça-feira (6) mais uma pesquisa sobre o nível de endividamento dos brasileiros. Segundo o levantamento, o número de famílias endividadas caiu pelo segundo mês consecutivo, passando de 79,2% em outubro para 78,9% em novembro.
Embora a queda tenha se esticado por dois meses, o fato é que o número de famílias endividadas ainda chega perto dos 80% no Brasil. Isto significa que a cada 10 famílias brasileiras, quase 8 possuem alguma conta ou despesa ainda sem pagamento, antes ou depois do prazo de vencimento.
A proporção de inadimplentes, quando o prazo de vencimento da dívida já passou, segue na casa dos 30,3%. Ainda é a máxima histórica para o país. Em novembro de 2021, por exemplo, esta taxa estava na casa dos 26%.
“A desaceleração da proporção de endividados é explicada pela evolução positiva do mercado de trabalho, pelas políticas de transferência de renda mais robustas e pela queda da inflação nos últimos meses. Na prática, esse conjunto de fatores significou aumento da renda disponível. Ainda assim, a combinação de endividamento e juros altos está deixando os consumidores mais cautelosos”, diz a pesquisa.
Mesmo diante desta leve queda no número de endividados, o fato é que a taxa percentual de famílias que já sabem que não terão condições de pagar as suas dívidas oscilou para cima. Em novembro do ano passado eram 10,1%, em outubro deste ano 10,6% e agora em novembro de 2022 está em 10,9%.
A Confederação também captou nesta pesquisa um aumento no número de famílias que estão muito endividadas. Em novembro do ano passado, 14,8% estavam nesta situação. Agora, esta taxa é de 17,5%. Estamos falando de um aumento de quase 3 pontos percentuais entre os dois anos.
Ainda tomando como base as informações da pesquisa da CNC, é possível dizer que o trabalhador brasileiro comprometeu 34% da sua renda mensal para pagar estas dívidas em novembro. Nesta equação não entram os gastos básicos como energia e água.
O número de famílias que possuem mais de 50% da renda comprometida com dívidas subiu de 20,8% em novembro do ano passado para 21,6% agora. Trata-se de mais um indicativo da estagnação do problema.
“Os orçamentos das famílias de menor renda seguem apertados, pois os juros altos aumentam as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento”, destaca a CNC no texto de divulgação da pesquisa.
É justamente neste contexto de alto endividamento que há uma preocupação com a liberação do consignado do Auxílio Brasil. Algumas organizações da sociedade civil dizem que a liberação deste empréstimo para um público mais humilde pode piorar a situação.
No último dia 30 de novembro, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu um documento com propostas de mudanças para o consignado a partir do próximo ano.
“Pelo lado dos beneficiários, considerando um já elevado endividamento do povo brasileiro, constata-se um incentivo ao endividamento exacerbado das famílias vulneráveis, cujo risco é agravado pela taxa de juros muito superior àquelas de empréstimos consignados similares”, diz o documento.