Há menos de quinze dias, um real brasileiro permitia a compra de cerca de 58 pesos argentinos. Para quem observa a economia, esse valor era elevado, principalmente quando contrastado aos 35 pesos de janeiro do mesmo ano. No entanto, apenas três dias depois, a situação mudou drasticamente, com um real permitindo a compra de mais de 70 pesos argentinos.
Com a desvalorização de 20% do peso argentino, resultado da decisão do banco central argentino após a vitória do direitista Javier Milei nas primárias presidenciais, cada real vale agora 72 pesos. Isso criou uma sensação entre os brasileiros de que eles têm “uma pequena fortuna nas mãos” ao viajar para a Argentina.
“Nos últimos meses, a desvalorização do peso foi drástica. A escalada dos preços atingiu um nível de hiperinflação lá, mas, mesmo assim, a perda de valor da moeda consegue ser mais rápida do que a mudança dos preços, o que faz com o real tenha vantagem frente à moeda local“, comenta André Galhardo, economista e consultor da Remessa Online.
Apesar do real ter mais valor do que o peso no país vizinho, isso não significa uma abundância infinita para os brasileiros que viajam para a Argentina. A desvalorização inesperada da moeda, juntamente com a inflação descontrolada dos meses anteriores, fez com que os argentinos perdessem a referência de preços internos.
Um bom parâmetro para entender se os produtos e serviços estão caros em um país é o índice Big Mac, criado pela revista britânica The Economist. Segundo esse índice, o peso argentino está 7,4% acima do seu valor “justo” em relação ao dólar. No Brasil, o real está 13,7% abaixo da taxa de câmbio adequada, segundo a mesma fonte.
Há uma diferença significativa entre o que é precificado em pesos e o que é precificado em dólares na Argentina, como aponta João Victor Simões, especialista em operações internacionais da Blue3.
No melhor dos cenários, é bom ter as três moedas (real, dólar e pesos) para negociar e avaliar as melhores opções locais. Antes de viajar, a dica é converter o menor valor possível para dólares ou pesos, apenas para as despesas iniciais de quando se chega ao país.
Outro problema é a escassez de dólares no país, que resulta em filas grandes e falta de disponibilidade na hora de trocar nas casas de câmbio. Uma alternativa é o “dólar blue“, um câmbio paralelo e ilegal, que paga mais do que o câmbio oficial.
Outra opção é o dólar MEP, uma cotação exclusiva para turistas, para transações com cartões de débito ou crédito internacionais.
É importante ter quantias em papel-moeda também, principalmente se a viagem for para outras cidades que não a capital Buenos Aires.
“É trabalhoso, exige pesquisa e planejamento, mas, para o turista, o timing é indiferente. Porque não existe nenhuma perspectiva de melhorias significativas no país nos próximos meses“, conclui Galhardo, da Remessa Online.