O governo federal brasileiro deu um passo significativo em direção à modernização dos concursos públicos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou recentemente a Lei 14.965/2024, que permite a realização de provas de concurso público federais de forma online, total ou parcialmente.
Embora a nova legislação só comece a vigorar daqui a quatro anos, as principais bancas organizadoras já estão se mobilizando para se adaptar a essa mudança transformadora.
Um aspecto fundamental da nova lei é a previsão de garantia de acesso a ferramentas e dispositivos virtuais para os candidatos. Essa medida visa assegurar a igualdade de oportunidades e a isonomia no concurso público, evitando que a falta de recursos tecnológicos se torne uma barreira para a participação.
Diante dessa nova realidade, algumas das principais bancas organizadoras de concursos públicos no Brasil já estão se preparando para a transição para o formato online. Entre elas, destacam-se a Cesgranrio, o Ibade (Instituto Brasileiro de Apoio e Desenvolvimento), o Cebraspe (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos) e a FGV (Fundação Getulio Vargas) Conhecimento.
A Cesgranrio se destaca por sua ampla experiência na organização de avaliações e exames, tanto no formato tradicional quanto digital. A fundação está alinhada com as iniciativas governamentais de incluir provas digitais em concursos públicos.
Embora nenhuma das provas online realizadas até o momento pela Cesgranrio tenha a mesma magnitude de concursos públicos nacionais, a banca já organizou exames similares de grande porte, como o Enem Digital teve aproximadamente 120 mil participantes em três edições.
A experiência com provas online tem sido desafiadora, mas produtiva para a Cesgranrio. Entre as principais dificuldades enfrentadas pela organização estão a garantia de segurança e integridade, o amplo acesso à internet e a avaliação do ambiente de prova.
Para superar esses desafios, a Cesgranrio utiliza mecanismos específicos, como o monitoramento remoto via webcam e microfone, softwares de detecção de fraude, criptografia e rigoroso controle de acesso às plataformas de exames. Além disso, a implementação de plataformas acessíveis garante a inclusão de pessoas com deficiência.
Um aspecto importante destacado pela Cesgranrio é a preparação psicológica e técnica dos candidatos para realizar provas digitais. Muitos ainda não estão acostumados com o formato digital, o que pode causar ansiedade ou dificuldades de adaptação.
Para enfrentar esse desafio, a fundação enfatiza a importância da implementação de testes preparatórios e simulados, a fim de familiarizar os candidatos com o novo formato.
O Ibade está prestes a realizar seu primeiro processo seletivo totalmente online no dia 29 do próximo mês, com cerca de 700 inscritos. Até agora, a banca já conduziu algumas etapas nesse formato, incluindo avaliações psicológicas, provas de títulos e cursos de formação.
Segundo Marina Lutz, presidente do Ibade, os processos online devem ser analisados para garantir a participação de todos. Ela destaca que as provas online são beneficiais para a participação de um número maior de candidatos, uma vez que muitos concursos estaduais costumam ser realizados somente nas capitais.
“Isso diminui o custo para o candidato participar do processo de seleção, ampliando as oportunidades”, afirma Marina.
A Cebraspe foi uma das primeiras bancas a adotar o formato online, realizando suas primeiras provas dessa modalidade em 2010 com a aplicação de exames de proficiência em espanhol. Desde então, a banca tem aumentado gradativamente a presença dessa modalidade.
“Sem isonomia, não há concurso público. Entretanto, avanços são essenciais para a modernização do processo”, afirma.
A FGV Conhecimento já realiza provas de processos seletivos no formato online há algum tempo. De acordo com Carlos Augusto Costa, diretor-adjunto da instituição, a conectividade e os requisitos mínimos são aspectos importantes a serem considerados ao utilizar a prova online em larga escala.
Além disso, o especialista destaca que a prova online oferece uma avaliação mais abrangente, pois verifica se o candidato possui habilidades para utilizar o computador. A redução do uso de papel, colaborando com a preservação do meio ambiente, também é um ponto destacado pela instituição.
Apesar do entusiasmo das bancas organizadoras, alguns professores e especialistas expressam preocupações em relação à garantia de isonomia entre os candidatos nos concursos com provas online.
O advogado e professor do Brabo Concursos, Ivan Neto, considera positiva a realização de concursos com etapas online, como já acontece na maioria dos processos atualmente. No entanto, ele identifica riscos relacionados a fraudes e aponta desafios logísticos.
Neto questiona como as bancas lidariam com situações específicas, como a falta de internet na casa do candidato ou a necessidade de usar o banheiro durante o exame.
“A gente também precisa esperar a regulamentação para ver como o governo vai operacionalizar esse novo modelo”, destaca.
O professsor Eduardo Cambuy, destaca a importância de estabelecer regras claras que garantam a economicidade e a agilidade do processo.
A transição para provas online em concursos públicos federais representa um desafio significativo, mas também abre oportunidades para modernizar e democratizar o acesso a essas seleções.
Um dos principais desafios a serem superados é a garantia de acesso equitativo à tecnologia necessária para realizar as provas online. Isso envolve não apenas a disponibilidade de equipamentos e conexão de internet, mas também a capacitação dos candidatos para lidar com o formato digital.
Além disso, é fundamental assegurar a isonomia e a segurança do processo, evitando fraudes e garantindo condições justas para todos os participantes, independentemente de sua localização ou contexto socioeconômico.
Por outro lado, a adoção de provas online oferece benefícios significativos, como a redução de custos para os candidatos, que não precisarão se deslocar para centros de aplicação distantes. Além disso, o formato digital pode contribuir para a agilidade e eficiência do processo seletivo, bem como para a preservação do meio ambiente, com a redução do uso de papel.