No setor agropecuário, é comum que as oscilações nos preços do gado gordo tenham reflexos diretos nos preços da carne. Recentemente, temos visto uma forte queda nos preços de negociação do boi gordo, o que naturalmente levanta a questão: a carne ficará mais barata para o consumidor final? Neste artigo, vamos explorar os motivos por trás dessa queda nos preços, analisar a relação entre os preços do gado e da carne, e discutir se essa redução será refletida nas prateleiras dos supermercados.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), tanto a oferta quanto a demanda têm afetado os preços do boi gordo, que recuaram mais de 11% no último mês. Essa queda é significativa e representa a menor média desde julho de 2018. Mas por que os preços do gado gordo estão caindo?
No campo, observamos um aumento no volume de boi gordo e de fêmeas prontos para o abate. Os pecuaristas, preocupados com possíveis desvalorizações futuras, têm ofertado mais lotes de animais no mercado nacional. Essa maior oferta de gado gordo tem pressionado os preços para baixo.
Do lado da demanda, muitos agentes de frigoríficos têm reduzido o ritmo de aquisição de novos lotes de boi gordo. Isso ocorre devido ao alongamento das escalas de abate e aos menores preços pagos pelos chineses pela carne brasileira. Os frigoríficos estão enfrentando dificuldades em repassar os aumentos de custos aos consumidores finais, o que tem impactado no ritmo de aquisição de novos lotes.
É importante entender a relação entre os preços do gado gordo e da carne para compreender por que a redução nos preços do gado não está sendo totalmente refletida nos preços da carne. Enquanto o boi gordo teve uma queda de mais de 20% nos últimos meses, a carne apresentou uma redução de apenas 4% no mesmo período. Essa diferença pode ser explicada por alguns fatores.
Entre 2019 e 2021, o preço do boi gordo praticamente dobrou em termos nominais. Esse aumento expressivo não foi acompanhado pelos preços da carne no varejo, o que levou muitos consumidores a optarem por outras proteínas mais acessíveis, como frango, suíno e ovos. Essa mudança no comportamento de consumo impactou diretamente os preços da carne.
Durante o período de alta nos preços do boi gordo, os frigoríficos, açougues e supermercados enfrentaram dificuldades em repassar esses aumentos ao consumidor final. Muitos consumidores optaram por substituir a carne bovina por outras opções mais baratas, o que levou a uma perda de margem para o varejo. Os supermercados conseguiram diluir um pouco mais esse problema devido ao seu mix de produtos diversificado, mas os açougues foram mais prejudicados.
Agora que entendemos os motivos por trás da queda nos preços do gado gordo e da relação entre os preços do gado e da carne, é importante analisar se essa redução será refletida nos preços da carne para o consumidor final.
Atualmente, os agentes do varejo estão tentando recuperar as margens perdidas durante o período de alta nos preços do boi gordo. Eles estão controlando a oferta de carne ao consumidor final, já que o varejo também está enfrentando dificuldades em absorver os aumentos de custos. Essa estratégia visa reaver parte das margens perdidas ao longo da fase de alta dos preços.
Embora a queda nos preços do gado gordo seja um fator importante, é importante ressaltar que outros custos, como transporte, embalagem e mão de obra, também influenciam nos preços finais da carne. Portanto, mesmo com a redução nos preços do gado gordo, é possível que os preços da carne para o consumidor final não caiam significativamente.
A queda nos preços do gado gordo tem impactado o setor agropecuário, mas a redução não está sendo totalmente refletida nos preços da carne. A relação entre os preços do gado e da carne é complexa, e outros fatores, como margens perdidas pelo varejo e custos adicionais, influenciam nos preços finais para o consumidor. Portanto, é importante acompanhar de perto os movimentos do mercado para entender como essa dinâmica irá evoluir e se os preços da carne serão afetados de forma significativa.