A Câmara dos Deputados aprovou uma proposta de Emenda à Constituição (PEC) que traz alterações ao abono salarial do PIS/Pasep. Essas mudanças fazem parte de um pacote fiscal mais amplo apresentado pelo governo federal, visando ajustar as contas públicas e promover uma série de reformas econômicas. As novas regras afetarão milhões de trabalhadores brasileiros que contam com esse benefício anual.
O abono salarial do PIS/Pasep é um benefício pago anualmente aos trabalhadores que atendem a determinados critérios, funcionando como uma espécie de 14º salário. Com as alterações aprovadas, o acesso a esse benefício sofrerá mudanças graduais nos próximos anos, impactando diretamente quem recebe até dois salários mínimos.
Novas regras para o abono do PIS/Pasep
As alterações aprovadas pela Câmara dos Deputados estabelecem um novo critério para o pagamento do abono salarial do PIS/Pasep. A partir de 2025, o benefício continuará sendo pago para quem recebe até dois salários mínimos, mantendo o padrão atual. No entanto, a partir de 2026, esse valor de referência será corrigido anualmente pela inflação.
Esta mudança tem como objetivo criar um teto fixo para o recebimento do abono, que se tornará permanente quando corresponder a um salário mínimo e meio. Como o salário mínimo tende a crescer acima da inflação, a expectativa é que, com o passar dos anos, o número de trabalhadores elegíveis ao benefício diminua gradualmente.
Impacto gradual nas próximas décadas
O governo estima que, por volta de 2035, apenas os trabalhadores que recebem até um salário mínimo e meio terão direito ao abono salarial. Essa projeção leva em conta o crescimento esperado do salário mínimo acima da inflação nos próximos anos.
Objetivo da mudança
A alteração nas regras do abono do PIS/Pasep faz parte de um conjunto de medidas que visam equilibrar as contas públicas e direcionar recursos para outras áreas consideradas prioritárias pelo governo. Ao reduzir gradualmente o número de beneficiários, espera-se gerar uma economia para os cofres públicos no longo prazo.
Flexibilização do teto salarial do servidor público
Além das mudanças no abono do PIS/Pasep, a PEC aprovada pela Câmara também traz alterações importantes no que diz respeito ao limite salarial dos servidores públicos. Atualmente, o teto é estabelecido com base na remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que hoje está em torno de R$ 44 mil.
Novas exceções ao teto
O texto aprovado flexibiliza as regras que determinam quais parcelas ficam fora do teto salarial. Anteriormente, o projeto original do governo previa que apenas parcelas indenizatórias fixadas em lei complementar de caráter nacional, aplicada a todos os Poderes e órgãos autônomos, ficariam fora do teto.
Mudança para lei ordinária
O relator da PEC, no entanto, alterou essa disposição, substituindo a exigência de lei complementar por lei ordinária. Essa mudança é significativa, pois a aprovação de uma lei ordinária requer um processo de votação mais simples no Congresso Nacional.
Regra transitória
Enquanto a lei ordinária não for aprovada, o texto estabelece que não serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios, as parcelas de caráter indenizatório previstas na legislação vigente. Isso pode resultar em um aumento temporário nos rendimentos de alguns servidores públicos que recebem parcelas indenizatórias além do teto.
Alterações no Fundeb
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) também sofreu alterações com a aprovação da PEC. O texto original previa uma mudança significativa na forma como os recursos do fundo são utilizados, especialmente no que diz respeito ao fomento de matrículas em tempo integral.
Redução da complementação para tempo integral
Inicialmente, o governo propôs que 20% do total da complementação da União para o Fundeb pudesse ser direcionado para o fomento à manutenção de matrículas em tempo integral. No entanto, o relator da PEC reduziu esse percentual para 10%.
Impacto na economia prevista
Com essa alteração, a economia esperada com as mudanças no Fundeb deve cair pela metade. As projeções iniciais apontavam para uma economia de R$ 4,8 bilhões em 2025, mas com a redução do percentual, esse valor deve ficar em torno de R$ 2,4 bilhões.
Implicações para a educação em tempo integral
A redução do percentual destinado ao fomento de matrículas em tempo integral pode impactar os planos de expansão desse modelo educacional. Será necessário que estados e municípios busquem alternativas para manter e ampliar suas ofertas de educação em tempo integral.
Mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC)
O texto aprovado pela Câmara também traz alterações importantes no Benefício de Prestação Continuada (BPC), um programa de assistência social que atende idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade.
Restrições nas deduções de renda
A PEC proíbe deduções não previstas em lei para fins de comprovação de renda para acesso ao BPC. Essa medida visa evitar que o Poder Judiciário conceda o benefício desconsiderando, por exemplo, rendas informais ou temporárias.
Objetivo da mudança
O governo argumenta que essa alteração busca garantir maior equidade na concessão do benefício, evitando que interpretações judiciais ampliem o escopo de beneficiários além do previsto na legislação.
Novas regras para incentivos fiscais e subsídios
A PEC aprovada também estabelece novas diretrizes para a concessão, ampliação e prorrogação de incentivos fiscais, bem como para a concessão de subsídios.
Lei complementar para incentivos fiscais
O texto determina que uma lei complementar irá dispor sobre as condições e limites para a concessão, ampliação e prorrogação de incentivos fiscais. Essa medida visa criar um marco regulatório mais claro e rigoroso para a concessão desses benefícios.
Limitação de subsídios
A PEC confere ao Poder Executivo a prerrogativa de limitar subsídios e benefícios financeiros durante a execução orçamentária. Essa medida busca dar maior flexibilidade ao governo para ajustar gastos em momentos de restrição fiscal.