Dentro de mais algumas horas, o Banco Central vai definir oficialmente se vai reduzir ou não a taxa Selic, que atualmente se encontra em 13,75% ao ano. Vários setores da sociedade estão aguardando ansiosos por esta definição, mas um em especial está ainda mais interessado nesta discussão: o varejo.
Varejistas brasileiras vêm encampando campanhas pela redução dos juros no Brasil. É fato que a espera pela queda da Selic pode acabar já nesta quarta-feira (2), mas também é fato que os efeitos desta redução podem não ser imediatamente sentidos pelo cidadão. É o que aponta o CEO da C&A, Paulo Correa.
Em entrevista concedida ao site Infomoney, ele disse que é preciso ter calma, e sinaliza que a tendência natural é que todo este segundo semestre seja apertado em relação às contas destas empresas.
“Mesmo aumentando receitas em 3,6% e reduzindo investimentos em 10,3% e despesas operacionais em 12,5%, no primeiro trimestre a empresa ainda teve um prejuízo de R$ 126 milhões. Foi um resultado “menos pior” que o do primeiro trimestre de 2022, mas ainda assim um prejuízo. Com o impacto dos juros, o resultado financeiro piorou 47,2%, de R$ 68,6 milhões no primeiro trimestre de 2022 para R$ 101 milhões”, disse ele.
Correa também disse que as varejistas estão enfrentando ainda outros problemas para além dos juros. Um deles, por exemplo, seria o endividamento das famílias neste momento. Pesquisas mais recentes indicam que pouco mais de 70 milhões de brasileiros estão endividados, o que naturalmente pode comprometer as vendas do varejo nacional.
Ele também citou o endividamento da própria empresa neste sentido. “A gente está em uma jornada em que o principal vilão é o endividamento. Embora tenhamos uma dívida saudável e uma alavancagem controlada, o custo do endividamento é alto”, completou.
A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) foi iniciada ainda na terça-feira (1) e está se estendendo até esta quarta-feira (2). Hoje, o país vai saber o que os diretores deverão decidir em relação ao número da taxa de juros do país. O resultado pode afetar diretamente o varejo nacional.
As apostas do mercado é de que a taxa vai cair, já que o cenário econômico vem se mostrando mais favorável neste momento. A grande dívida é saber qual vai ser o tamanho da queda. Há quem aposte em 0,25 ponto e há quem crave que vai ser em 0,5 ponto. É preciso esperar para saber qual vai ser a decisão.
O outro ponto que preocupa a CeA e outras varejistas brasileiras é o endividamento de boa parte da população. O motivo é óbvio: quanto mais pessoas estão endividadas, menos pessoas poderão gastar dinheiro para realizar novas compras, o que naturalmente compromete o mercado nacional.
Sobre este assunto, o governo federal decidiu agir com o lançamento do Desenrola. Trata-se de um projeto que prevê a negociação de dívidas de pessoas que estão em situação de inadimplência. Dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) apontam que mais de 3,5 milhões de pessoas já saíram da lista de risco.
O último ponto que também preocupa as varejistas brasileiras é a concorrência asiática. Hoje, há uma avaliação de que empresas estrangeiras estariam burlando as regras de taxação para conseguir vender produtos mais baratos no Brasil, o que naturalmente faz com que boa parte dos consumidores acabem escolhendo os produtos importados.
Sobre este assunto, o governo decidiu criar o programa Remessa Conforme, que indica uma série de regras para facilitar o pagamento de taxas pelas empresas internacionais. Tal medida começou a valer já nesta semana, mas está longe de ser unanimidade entre os representantes da varejistas brasileiras. Em sua maioria, eles dizem que o projeto não resolve o problema da “concorrência desleal”.