Usando uma fotomontagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nu, nesta segunda (22), a ONG Repórteres Sem Fronteiras lançou uma campanha pelo direito à informação confiável durante a pandemia de Covid-19.
Chamada de “A verdade nua”, a campanha assinada pela agência BETC Paris denuncia a estratégia do governo Bolsonaro em disseminar desinformação sobre a Covid-19, destacando a “importância crucial do jornalismo para garantir o acesso a informações confiáveis sobre a pandemia”.
“Enquanto a covid-19 provoca estragos no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro contribui para aumentar o número de mentiras em circulação e segue atacando a imprensa – numa tentativa de esconder sua incapacidade de administrar a crise sanitária”, diz a nota da Repórteres Sem Fronteiras.
A ONG justifica o uso de uma fotomontagem de Bolsonaro nu como uma forma simbólica de confrontar o presidente com a “realidade nua e crua dos fatos, enquanto ele acusa a imprensa pelo caos instalado no país para desviar a atenção de sua desastrosa gestão da crise sanitária”.
A Repórteres Sem Fronteiras defende que o direito à informação está “intimamente ligado ao direito à saúde” e deve ser defendido no Brasil.
“Essa campanha propositalmente chocante visa despertar as consciências a reagirem aos ataques permanentes do sistema Bolsonaro contra a imprensa”, disse Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.
“Os ataques não são apenas moralmente intoleráveis, mas também perigosos para a população brasileira que se vê privada de informações vitais sobre a pandemia. O trabalho dos jornalistas é fundamental para relatar os fatos e informar as pessoas sobre a realidade da crise sanitária. Mais do que nunca, o direito à informação, intimamente ligado ao direito à saúde, deve ser defendido no Brasil”, analisa Deloire.
Nesta segunda (22), o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em discurso de abertura no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, fez um alerta sobre governantes que disseminam desinformação durante a pandemia de Covid-19.
“O acesso à informação que salva vidas foi ocultado – enquanto que a desinformação mortal foi amplificada – inclusive por aqueles no poder”, disse Guterres sem citar nomes.
Segundo a RSF, o governo Bolsonaro tornou o trabalho da imprensa ainda mais difícil no Brasil. “Insultos, difamação, estigmatização e humilhação de jornalistas passaram a ser a marca registrada do presidente do país”, diz a entidade.
“Sempre que informações contrárias aos seus interesses ou aos de sua administração se tornam públicas, ele não hesita em atacá-los com violência. No final de janeiro, por exemplo, Jair Bolsonaro mandou os jornalistas para ” a puta que o pariu ” e afirmou que a lata de leite condensado era para ” enfiar no rabo […] da imprensa.”
Ao todo, de acordo com a ONG, Bolsonaro fez 580 ataques à imprensa apenas no ano de 2020.
“Essa declaração delirante faz parte de uma estratégia bem azeitada de ataques contra a imprensa coordenados pelo presidente e seus familiares que ocupam cargos eletivos, conforme apresentado pelo relatório da RSF que lista nada menos que 580 ataques apenas em 2020”, completa a entidade.