Uma grande mudança foi anunciada nesta semana em relação aos juros no Brasil. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o Banco Central (BC) vai passar a adotar a meta contínua de inflação.
Em outras palavras, o governo federal decidiu mudar o regime de metas de inflação. Assim, o novo modelo irá encerrar o formato atual, que leva em consideração o calendário anual, ou seja, o período compreendido entre janeiro e dezembro de cada ano.
O Conselho Monetário Nacional (CMN), responsável por definir a meta da inflação no país, anunciou a mudança nesta quinta-feira (29).
De acordo com Fernando Haddad, a mudança do regime de inflação em relação ao ano calendário “é uma prerrogativa do presidente da República”. O ministro afirmou simpatizar com o novo padro, “que só se verifica em dois países do mundo, dentre os quais, o Brasil”.
Em primeiro lugar, vale destacar que o CMN é responsável pela projeção de uma meta central para a inflação do Brasil todos os anos. Por sua vez, o Banco Central age para cumprir a meta definida, pois a inflação controlada traz diversos benefícios para o país, como:
Para 2023, o CMN definiu uma meta central de 3,25% para a inflação no país, podendo variar entre 1,75% e 4,75%. Isso acontece porque a entidade também define um intervalo de 1,5 ponto percentual (p.p.) para a taxa inflacionária, para cima e para baixo.
No modelo antigo, a meta da inflação trabalhava com um período fechado, de janeiro a dezembro de cada ano. Por isso, a meta de 3,25% definida para 2023 tinha que ser cumprida entre janeiro e dezembro deste ano.
Contudo, com a meta contínua de inflação, o horizonte de tempo não se refere ao ano-calendário. Na verdade, ainda haverá uma meta definida para a inflação, mas ela não precisará ser cumprida no período de um ano, entre janeiro e dezembro.
Segundo Fernando Haddad, o governo federal tende a optar por um horizonte de 24 meses. Isso se trata apenas de uma projeção, uma vez que a definição do período será definida pelo Banco Central (BC).
O ministro da Fazenda informou que a mudança para a meta contínua de inflação não será imediata. Em suma, o novo modelo só passará a valer a partir de 2025, coincidindo com um novo mandato do presidente do BC.
Por falar nisso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já fez diversas críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, que assumiu o cargo no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Cabe salientar que o presidente Lula ainda precisa editar um decreto formalizando essa mudança no modelo de metas de inflação.
Fernando Haddad informou que a mudança na definição da meta da inflação beneficiará a população brasileira. Em síntese, a meta contínua dará mais possibilidades de controle da inflação no país.
Atualmente, o principal instrumento do Banco Central para controlar a alta da inflação é a taxa Selic, que corresponde à taxa básica de juro da economia brasileira. Quando a inflação está elevada, o BC tende a aumentar os juros no Brasil.
Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano, maior percentual desde novembro d 2016, ou seja, em seis anos e meio. Aliás, essa taxa vem sendo mantida pelo BC desde agosto do ano passado, quando a autarquia promoveu a 12ª alta consecutiva dos juros no país.
O governo federal vem criticando a taxa elevada de juros no país, que acaba limitando o crescimento econômico. Isso acontece porque o BC fica pressionado a agir para controlar a taxa inflacionária no ano-calendário.
No entanto, com a meta contínua de inflação, o BC teria mais tempo para avaliar os impactos da inflação. Por exemplo, caso houvesse alguns períodos de pico de inflação, a autarquia não precisaria elevar os juros de imediato, pois os impactos poderiam ser absorvidos posteriormente.
De todo modo, o mercado financeiro está atento às notícias sobre inflação e crescimento econômico do Brasil. Nas últimas semanas, as projeções ficaram mais positivas, indicando que o país poderá fechar 2023 com taxas bem melhores que o esperado no início deste ano.