O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reuniu na quarta-feira (1º) para definir os novos caminhos da política monetária do Brasil. O encontro de dois dias, que se encerra nesta quinta-feira (2), definirá a taxa básica de juros do país, a Selic.
A expectativa de analistas é que a taxa não tenha reajuste neste encontro e continue no mesmo patamar do final do ano passado. Caso a previsão se confirme, a Selic seguirá em 13,75% ao ano, maior patamar desde novembro 2016.
Vale destacar que, se o BC manter a taxa Selic no mesmo patamar, essa será a quarta vez que isso acontecerá. Aliás, esta quarta manutenção da taxa Selic nesse nível irá suceder 12 avanços seguidos dos juros no Brasil.
Em resumo, o BC começou a apertar a política monetária no país em março de 2021, quando promoveu a primeira alta da taxa Selic. Daquele mês até agosto de 2022, houve apenas altas nos juros, que corroeram cada vez mais a renda da população brasileira.
Durante esse período de 12 altas consecutivas dos juros, a inflação no país começou a cair com mais intensidade. A saber, a taxa Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta da inflação. E, como a inflação começou a perder força, o BC decidiu estabilizar os juros, até porque os juros já estavam em patamar bastante elevado no país.
Esse resultado foi possível, parte, graças ao governo federal, que sancionou uma lei complementar, limitando a cobrança do ICMS sobre diversos itens, incluindo combustíveis e energia elétrica, que exercem grande impacto na taxa inflacionária do país.
Para quem não conhece, a lei federal limitou a alíquota de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os seguintes produtos e serviços:
Com a entrada da lei em vigor, os produtos e serviços acima passaram a ser considerados essenciais. Assim, a cobrança de uma alíquota acima da regra geral passou a ser inconstitucional.
A saber, antes dessa lei, as taxas superavam 30% em alguns locais do país. No entanto, a lei limitou as alíquotas a 18%, ajudando a reduzir o preço destes produtos e serviços no país.
Como a Selic objetiva limitar a inflação, e a lei complementar ajudou a reduzi-la, o BC optou por manter a taxa de juros estável nas últimas reuniões. Contudo, a taxa Selic não recuo no país, pois a entidade financeira ainda está avaliando as variações da inflação, que pode voltar a subir e impactar a população brasileira.
Na última terça-feira (31), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou ter conversado com o presidente do BC, Roberto Campos Neto. De acordo com ele, a conversa foi sobre medidas para tornar o crédito mais barato no Brasil.
“Conversei com o presidente do BC em São Paulo sobre uma agenda rápida de crédito no Brasil, sistema de garantias, diminuição do spread, e melhoria do ambiente de concorrência para que haja mais crédito barato no Brasil. Isso é um grande impedimento do crescimento econômico. O crédito caro impede os negócios”, disse Haddad.
Vale destacar que Campos Neto seguirá na presidência do BC até 2024, período em que seu mandato chegue ao fim. Aliás, o Banco Central tem autonomia, prevista em lei, desde 2021. No entanto, algumas declarações polêmicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à independência do BC estão preocupando o mercado.
A saber, o principal objetivo do Copom ao elevar a Selic é segurar a inflação do país. Em suma, uma Selic mais alta puxa consigo os juros praticados no país, reduzindo o poder de compra do consumidor. Como consequência, desaquece a economia do país, limitando o avanço da chamada “inflação por demanda”.
Quando a Selic sobe, encarece o crédito, reduzindo a busca das pessoas por empréstimos. Dessa forma, o consumo tende a diminuir, uma vez que a população tem menos dinheiro em mãos.
Como a demanda diminui, os preços também tendem a cair, ou seja, a inflação desacelera, mas isso só acontece com o tempo. Isso explica as constantes altas da Selic desde o ano passado.
Por fim, economistas afirmam que a alta da Selic é um “remédio” amargo, mas necessário para o país. Resta esperar para ver se a população terá que “engolir” mais uma dose de juros.