A caderneta de poupança teve uma retirada líquida de R$ 6,3 bilhões em abril deste ano. Isso quer dizer que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta no quarto mês de 2023.
De acordo com o Banco Central (BC), responsável pela divulgação dos dados, os resultados registrados em abril foram os seguintes:
Em resumo, os brasileiros retiraram um volume financeiro bastante expressivo da poupança em abril. Os depósitos também foram significativos, mas não alcançaram o montante das retiradas.
Contudo, vale destacar que, em relação a abril de 2022, o resultado ficou um pouco menos intenso. Isso porque, no quarto mês do ano passado, as saídas líquidas de recursos da poupança totalizaram R$ 9,87 bilhões, ou seja, houve uma queda de 36,7% do volume financeiro retirado.
Na verdade, todos os meses deste ano apresentaram um volume de saques superior ao de depósitos. Confira abaixo o volume de retirada da poupança em cada mês de 2023:
Todos os valores apresentando pelo BC são nominais. Em outras palavras, não há atualização pela inflação, mas apenas a divulgação dos números referentes aos depósitos e saques.
Segundo o BC, a caderneta de poupança encerrou 2022 com uma retirada líquida recorde de R$ 103,237 bilhões. Isso quer dizer que os brasileiros nunca retiraram tanto dinheiro da poupança em 28 anos quanto o fizeram no ano passado. Além disso, os dados de 2023 podem ser ainda maiores.
Com o acréscimo do resultado de abril, a caderneta de poupança registrou uma saída líquida de R$ 57,48 bilhões em 2023. Esse volume é recorde para o período e mostra que os saques superaram significativamente os depósitos no período.
O BC explicou que os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Março ainda pode ficar marcado por pagamento de compras parceladas do final do ano passado ou de viagens de férias.
Portanto, tudo isso ajuda a impulsionar os saques da caderneta, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. Com isso, há uma redução expressiva dos depósitos na caderneta, enquanto os saques aumenta, e isso explica a saída líquida recorde no início deste ano.
O BC revelou que o volume total aplicado na poupança se manteve estável, em R$ 967,5 bilhões. Em síntese, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada nos primeiros meses deste ano, apesar da melhora dos resultados.
Cabe salientar que as retiradas líquidas em janeiro e fevereiro foram bem maiores que as de março e abril. Isso é um indicativo de que os resultados podem mudar, caso as retiradas percam ainda mais força no país.
Os resultados de março refletem o cenário atual do Brasil. Segundo o BC, o endividamento das famílias com bancos chegou a 44,2% em março, no acumulado dos últimos 12 meses. A título de comparação, a taxa ficou 7,6 pontos percentuais superior ao nível registrado no mesmo mês do ano passado.
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 78,3% da população estava endividada no país em abril.
Por sua vez, a taxa de inadimplência atingiu 29,1% das famílias do país no mês passado. Em suma, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
Diante desse cenário, muitas pessoas acaba sacando o dinheiro que tem guardado na poupança para pagar contas e se livrar das dívidas, ou pelo menos reduzi-las.
Ao mesmo tempo, a elevada taxa de juros no país também ajuda a aumentar os saques da poupança. Embora a caderneta esteja rendendo mais devido à taxa Selic elevada, outros investimentos oferecem retornos bem mais interessantes. E isso vem atraindo muitas pessoas, que retiram o dinheiro da poupança e o aplicam em outros fundos.
A caderneta de poupança deixou de ser sinônimo de rentabilidade nos últimos anos. Em resumo, a aplicação financeira mais tradicional do país registrou resultados negativos entre 2019 e 2021, perdendo para a inflação.
Contudo, em 2022, a poupança voltou a ganhar da inflação, registrando rentabilidade de 2%, já descontado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que se refere ao aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços, a temida inflação.
Por isso, muitos brasileiros que desejam investir estão deixando a caderneta de poupança de lado. Os juros altos no país até aumentam o rendimento dos ativos da renda fixa, como a poupança, mas existem outros ativos que rendem bem mais que a caderneta.
De acordo com um levantamento de Einar Rivero, da consultoria TradeMap, o retorno financeiro líquido de alguns investimentos superou o da poupança em 2022:
Por fim, vale destacar que o IHFA, que apresentou a maior rentabilidade em 2022, é um índice do mercado financeiro que calcula a média do desempenho dos fundos de investimento multimercado. As outras três fazem parte do grupo das 13 principais aplicações financeiras do país, cuja maioria perdeu para a inflação.