Recentemente, o atual presidente Jair Bolsonaro alterou o teto de renda que permite que novos beneficiários participem do Auxílio Brasil. Isto é, o novo programa social do Governo Federal que substituíra o Bolsa Família.
No entanto, a alteração não compensa a perda inflacionária dos últimos anos. Além disso, ela também não leva em consideração o critério internacional de pobreza da Organização das Nações Unidas (ONU).
Nesse sentido, desde o ano de 2018, o Programa Bolsa Família classificava como elegível aqueles cidadãos com renda mensal per capita menor ou igual que R$ 178. Então, durante a última segunda-feira, 08 de novembro, o Governo Federal reajustou o valor para R$ 200 através do decreto que regulamenta o Auxílio Brasil.
O reajuste da linha de pobreza feito pelo líder do país foi de 12,3%, abaixo dos 20,8% que representam o índice de inflação acumulada nos últimos tempos. Assim, caso se considerasse a inflação, a quantia deveria chegar a R$ 215.
De acordo com especialistas, para corrigir os impactos econômicos em razão da alta da inflação nos últimos meses, o valor deveria ter sido reajustado acima da inflação. Ademais, a ONU e o Banco Mundial classificam como extrema pobreza o grupo familiar que possui renda diária de até US$ 1,90 por pessoa, o que representaria cerca de R$ 313, de acordo com as taxas de câmbio atuais.
A ONU vem usando desta classificação com o objetivo de erradicar a extrema pobreza até o ano 2030. Desse modo, ela também é adotada por 193 países que fazem parte da organização.
O que muitos parlamentares e especialistas econômicos vêm criticando é a postura do governo durante o processo de definição do Auxílio Brasil. Segundo eles, a gestão tomou uma série de decisões sobre o benefício mesmo não tendo a certeza sobre qual seria seu orçamento, formato e sua fonte de recursos.
Dessa forma, houve o desrespeito de regas fiscais, como o teto de gastos, aumentando a insegurança do mercado financeiro sobre a implementação do novo programa social.
A Defensoria Pública da União (DPU) deseja que os critérios de classificação de renda se alterem. Assim, o assunto deve passar por análise ainda neste mês.
A DPU pede que a linha de pobreza chegue ao valor de meio salário mínimo, ou seja, R$ 550. Já a linha de extrema pobreza, que o governo redefiniu para R$ 100, seria de um quarto de um salário mínimo por pessoa, ou seja, R$ 275 atualmente.
Os valores que a entidade sugeriu são frutos de um cálculo de levantamentos brasileiros e internacionais sobre o assunto. “O fato é que hoje, o que equivale a um quarto de salário mínimo para a pobreza e meio para a pobreza encontraria ressonância também em critérios do Banco Mundial e estudos do Ipea. Então o nosso pedido é esse”, declarou Ed Fuloni, coordenador do comitê de renda básica da DPU.
Além disso, ele também frisou que os dois valores muitas vezes são aplicados pela gestão no acesso de outros programas sociais.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um exemplo disto. Trata-se de um programa para pessoas que possuem renda per capita de até um quarto do valor do salário mínimo. Já outro benefício foi o próprio Auxílio Emergencial, que durante a pandemia chegou a cidadãos com renda per capita de até meio salário mínimo.
Leandro Ferreira, atual presidente da Rede Brasileira de Renda Básica, defende que o reajuste dos valores da linha da pobreza devem ser frequentes e de acordo com a inflação. Assim, a alteração não se restringiria à vontade do governo.
“Seria importante que o governo fizesse uma demonstração dessa linha de pobreza. Ela não pode ser uma linha apenas administrativa para o programa, precisa ser uma linha de pobreza efetiva. Como a linha da pobreza vai ser o critério de elegibilidade, ao considerar valores muito baixos, um número expressivo de pessoas que eram do Bolsa Família vai deixar de ser incorporado. É uma conta perversa essa”, relatou Ferreira.
A partir deste mês de novembro os cidadãos participantes do Bolsa Família passarão a receber o Auxílio Brasil. Inicialmente, o novo programa social do governo Bolsonaro irá atender o mesmo número de pessoas que o Bolsa Família, cerca de 14,6 milhões de famílias. No entanto, a gestão prometeu conseguir chegar a mais de 17 milhões de famílias a partir de dezembro.
Segundo o Ministério da Cidadania, principal operador do programa social, o objetivo do Governo Federal é de acabar com a fila de espera do programa.
Recentemente, o governo reajustou o valor do tíquete médio do novo benefício. Desse modo, a quantia inicial será de R$ 217,18, o que representa um aumento de 17,84% dos valores anteriores do Bolsa Família. Além disso, os diferentes tipos de benefício ficarão da seguinte maneira: