As transformações que as escolas e o que os estudantes, professores e pais aprenderam com o período de isolamento foi tema de um dos debates que aconteceu no Educa Week 2021.
Questionada sobre o desafio do modelo híbrido, Vera Cabral, diretora de Educação da Microsoft Brasil, enfatizou que, em um primeiro momento, as escolas fracassaram ao tentar reproduzir no digital as mesmas aulas que faziam no presencial.
“Tecnologia não serve para fazer exatamente o que se fazia sem ela; se for esse o pensamento, teremos um gasto inútil”, disse.
Vera ressaltou a importância da mudança de cultura nas escolas, em relação à tecnologia, que representou um divisor de águas durante a fase de isolamento, e que trouxe um legado bastante positivo:
“As instituições entenderam que a tecnologia pode ajudar muito; e não só na área acadêmica, mas também na área da gestão (…) a gente foi aprendendo novos jeitos de trabalhar e temos, agora, uma percepção do uso de dados; por exemplo, conseguimos, a cada aula, avaliar o que os alunos aprenderam”, explicou.
A executiva da Microsoft chamou atenção também para os aspectos socioemocionais na mudança para o digital.
“A preocupação com o bem-estar coletivo, antes da pandemia, não era tão abordada no mundo da educação”, disse ela. “Mas a escola tem de ter, sim, espaço para cuidar das pessoas. Isso tudo faz parte do modelo de transformação que estamos passando”, enfatizou ela.
“Quando chegou a pandemia, ficou claro que a tecnologia, que antes servia à educação, passou a ser fundamental, para que a escola continuasse a existir”, contou Emerson Bento Pereira, diretor de Tecnologia Educacional do Colégio Bandeirantes
“Nosso capital digital já estava muito consolidado, em um trabalho que estávamos fazendo desde 2013, mas fomos testados mesmo durante a pandemia”, disse, explicando que já nos primeiros dias do ensino remoto, 98% dos alunos do Band estavam conectados na plataforma da escola.
O executivo do Bandeirantes explicou que o colégio tinha clareza de que, mais do que criar um canal para as aulas acontecerem, era preciso garantir o engajamento dos alunos.
“Para isso enviamos pesquisas e fomos ajustando o modelo remoto; nesse período, mais de 10 mil videoaulas foram criadas com mais de 1,3 milhão de visualizações”, afirmou.
Emerson contou ainda sobre o lançamento do self study, que será oferecido aos alunos a partir do ano que vem. A estratégia foi pensada para dar mais autonomia aos estudantes e individualizar o aprendizado.
“Isso vai ser trazido para a grade, além do que estamos chamando de Bandflix, um grande canal de videoaulas, aproveitando todo o material produzido pelos professores nesses últimos tempos”, disse.
A diretora pedagógica da Somos Educação, Tania Fontolan, acrescentou que a pandemia serviu para que o aluno começasse a ser acompanhado just in time.
“A tecnologia serviu para que a gente utilize dados para fazer ajustes nos nossos processos”, revelou.
O executivo do Bandeirantes trouxe para o debate, ainda, a questão do modelo financeiro do negócio das escolas, que precisa ser revisto para a individualização do ensino passar a ocorrer.
Do ponto de vista da gestão escolar, o diretor executivo da Accenture, Pedro Marques Lopes Pontes, enfatizou a grande oportunidade que a transformação digital trouxe para as instituições de ensino.
Ele lembrou que a covid-19 explicitou a incapacidade das escolas em acompanhar as mudanças que toda a sociedade já vinha passando.
“Conceitos como aprendizagem adaptativa e a personalização do ensino não foram criados durante a pandemia; eles já estavam disponíveis, porém, faltava habilitar esses recursos para que passassem a ser usados”, disse ele.
“Enquanto outros setores da economia já vinham aprendendo a usar recursos tecnológicos há anos, as escolas estavam paradas no tempo”, afirmou. “A pandemia explicitou não só a dificuldade de se atualizar, mas de toda a estrutura”, explica o diretor executivo da Accenture.
O executivo concluiu afirmando que as escolas têm de incorporar a transformação digital em toda a sua plenitude, olhando para uso de dados e para os novos modelos de aprendizagem.
Ele citou o lifelong learning (aprendizagem contínua ao longo da vida) e o rompimento com os muros da escola, com a centralização no estudante e na experiência dele em sua forma de aprender.
“Agora podemos trabalhar em modelos de ecossistema, disruptivos”, disse o diretor executivo da Accenture. “Temos de pensar diferente o mundo da aprendizagem, integrando os diversos atores na vida acadêmica do aluno”.
O diretor acadêmico do Institute of Tecnology and Education (Iteduc) e diretor pedagógico do Educa Week Ismael Rocha concorda com o raciocínio.
“Na atual fase de retomada da vida acadêmica presencial, novos desafios surgiram, trazidas pelo período em que as escolas ficaram fechadas”, afirmou ele.
“O aluno mudou e há agora novas necessidades, que exigem uma readaptação da estrutura escolar. Desde a ampliação de áreas de apoio ao aluno (como o counseling, ou aconselhamento), de tecnologias educacionais até alterações administrativas, a escola está passando por profundas transformações”, conclui.
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