Junto com o acesso à Internet cada vez mais cedo, as crianças e adolescentes também são impactadas por conteúdo publicitário personalizado. A TIC Kids Online Brasil 2023, pesquisa lançada nesta quarta-feira (25/10), revelou que 78% dos usuários de 11 a 17 anos concordam que empresas pagam pessoas para usar seus produtos nos vídeos e conteúdos que publicam na Internet.
No entanto, não são todos que sabem quando estão vendo uma “publi”. Mais da metade (59%) disseram que assistiram a vídeos de “pessoas ensinando como usar algum produto” e de “pessoas abrindo a embalagem de algum produto”. Significa que elas não classificam esse tipo de conteúdo como publicidade.
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Apesar de crianças e adolescentes concordarem que pessoas são pagas para falar sobre produtos, os pesquisadores do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) afirmam que elas nem sempre reconhecem que estão diante de uma comunicação mercadológica quando veem vídeos, no ambiente online, com pessoas usando ou abrindo embalagens de produtos.
Roupas e sapatos (60%) foi a categoria de produtos mais vista em publicações online, seguida por equipamentos eletrônicos (52%), comidas e bebidas (49%), maquiagens e outros produtos de beleza (45%) e videogames ou jogos (41%).
Publicações com roupas e sapatos foram vistas por 72% das meninas e 48% dos meninos. Já as sobre videogames ou jogos foram vistas por 26% das meninas e 56% dos meninos.
Ainda conforme o levantamento, 46% dos usuários de Internet de 15 a 17 anos reportaram seguir página ou perfil de algum produto ou marca.
O estudo mostra ainda que 50% dos usuários de 11 a 17 anos pediram aos responsáveis a compra de algum produto, após contato com propaganda ou publicidade, e somente 28% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos têm pais, mães ou responsáveis que afirmam utilizar “filtros” ou configurações que restrinjam o contato com propaganda na rede.
Conduzida desde 2012 pelo Cetic.br, do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), a 10ª edição da pesquisa TIC Kids Online Brasil entrevistou presencialmente 2.704 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos, assim como seus pais ou responsáveis, em todo o território nacional. As entrevistas aconteceram entre março e julho de 2023.
O celular foi apontado como um dispositivo de acesso para 97% dos usuários, sendo o único meio de conexão à rede para 20% dos entrevistados. Os dispositivos: telefone celular, televisão, computador e videogame. Considerando-se somente as classes DE, essa proporção chega a 38%.
Os pesquisadores do Cetic.br dizem que as limitações na disponibilidade de dispositivos podem restringir os benefícios e ampliar as desigualdades entre indivíduos em diferentes contextos socioeconômicos. No Brasil, o celular ainda é o único dispositivo para conexão à Internet para parcela importante de crianças e adolescentes, sobretudo das classes DE.
O acesso à Internet pela televisão tem aumentado ano a ano entre crianças e adolescentes de todos os estratos sociais. Neste ano, a porcentagem de conexão à rede pela televisão chegou a 70%, sendo que a proporção é de 88% entre os pertencentes às classes AB, 75% para a classe C, e 54% para as classes DE. Em 2019, 43% se conectavam via TV; em 2022, 63%.
Já o uso de computadores para acesso à rede para esta faixa etária permaneceu estável (38%) em relação a 2022 (43%). Pouco disponível para os usuários das classes DE (15%), segue predominando nas classes AB (71%) – na classe C é utilizado por 41%.
A falta de acesso a outros dispositivos não parece afetar a percepção de crianças e adolescentes sobre habilidades digitais que eles entendem possuir. De acordo com a pesquisa, 76% dos entrevistados disseram ser “verdade” ou “muito verdade” que sabiam escolher que palavras usar para encontrar algo na Internet.
O percentual daqueles que reportaram que sabiam verificar se uma informação encontrada na rede estava correta foi menor (58%).
Quase metade (47%) dos usuários nessa faixa etária concordou que todos encontram as mesmas informações quando pesquisam coisas na Internet e, para 40%, o primeiro resultado da pesquisa na rede é sempre a melhor fonte de informação.