Os vícios de linguagem empobrecem o texto e a capacidade de diálogo de qualquer profissional. Em alguns casos, podem prejudicar o desempenho no ambiente de trabalho, pela falta de clareza com que as conversas ocorrem ou em função de passarem uma imagem negativa pelo tom adotado, seja em reuniões, seja em apresentações, seja em processos seletivos.
Para quem não sabe o que é vício de linguagem, aí vai à explicação: são erros cometidos de forma frequente e constante pelas pessoas no dia a dia. Por serem tão naturais para quem os escreve ou fala — e, muitas vezes, reforçados pelo uso por parte de outros indivíduos —, esses vícios se repetem sem que sejam percebidos.
Diferentemente de erros de ortografia, concordância ou acentuação, que são mais óbvios e facilmente perceptíveis, os vícios de linguagem são traiçoeiros e comprometem a qualidade de um texto discursivo ou de uma conversa profissional.
O principal problema dos vícios de linguagem é que eles deixam um texto pouco profissional, repetitivo, cansativo e pobre, do ponto de vista da língua culta. Não se trata de ter um texto rebuscado e com termos difíceis, e sim de escrever parágrafos claros e sem erros, por mais que a linguagem utilizada seja simples.
Entre os impactos que os vícios de linguagem trazem para a imagem profissional, estão dificuldades de comunicar o que se deseja, falta de credibilidade por parte de colegas e equipes e, dependendo da gravidade, até mesmo um constrangimento pela necessidade de correções em materiais da empresa.
Na verdade, os problemas podem aparecer bem antes: imagine ter conseguido uma oportunidade de trabalho por meio de um programa de TV e perdê-la por conta de uma linguagem pouco clara e repetitiva durante entrevistas ou na fase inicial de experiência. Não seria bacana, certo?
A vida de todo profissional é feita de erros e acertos. Ainda assim, é bem melhor cometer a menor quantidade possível de equívocos. Concorda? Então, confira os principais vícios de linguagem.
Os barbarismos são comuns na vida de quem escreve. Apesar de essas palavras tecnicamente não existirem, tornam-se corriqueiras justamente por terem uma grafia parecida com termos reais ou por um deslize na hora de colocá-las no plural, por exemplo. Veja alguns barbarismos:
“degrais” — como plural inadequado de “degrau”, sendo que o adequado seria “degraus”;
“comprimentar” — quando o correto é “cumprimentar”;
“concerto” — inadequado em ocasiões nas quais se quer falar em “consertar” algo que está com defeito, já que “concerto” é uma apresentação musical;
“mamãos” — quando o plural adequado da fruta é “mamões”, entre outros.
Os solecismos são erros de sintaxe, que podem ser de concordância, regência ou colocação. Veja um exemplo de cada!
“Haviam muitas pessoas na festa”. O verbo “haver” não deve ser colocado no plural.
“Assisti o filme”. O certo é “assisti ao filme”.
“Pelé foi um jogador grande”, quando o sentido que se quer dar é que “Pelé foi um grande jogador”.
A ambiguidade ocorre quando uma frase pode ter mais de um sentido e não fica claro o que se quer dizer. Por exemplo:
“eu encontrei o presidente com meu amigo” — na frase, não fica claro se o interlocutor foi com seu amigo ao encontro do presidente, ou se o presidente já estava com o amigo quando foi encontrado;
“minha mãe saiu da loja de sandálias” — neste caso, fica ambíguo se a loja é especializada em sandálias ou se a mãe estava calçando sandálias quando saiu;
“podemos nos encontrar no banco” — aqui, a ambiguidade se dá pelo duplo sentido da palavra “banco”, que tanto pode ser um lugar para se sentar em uma praça quanto uma empresa do setor financeiro.
Na língua portuguesa, obscuridade significa uma falta de clareza no texto, o que deixa o leitor na dúvida sobre o que quer dizer. A obscuridade geralmente ocorre em frases muito extensas, com construções complexas, e no uso de termos rebuscados sem necessidade ou fora de contexto. Confira um exemplo abaixo:
“Durante a corrida, o piloto arrojado desviou de acidentes como um rato foge de um gato, chegando ao topo do pódio ao final do percurso, para celebrar sua vitória e ser adorado pelo público.”
O pleonasmo não é proibido, mas é um recurso que deve ser usado com cuidado, para não tornar o texto repetitivo ou exageradamente poluído. É útil quando se quer dar ênfase a determinada ação ou passagem, porém empobrece o conteúdo se usado com muita frequência ou de forma óbvia, como nos exemplos a seguir:
subir para cima / descer para baixo;
rodar em círculos;
noite escura / dia claro;
inverno frio / verão quente, entre outros.
O gerúndio faz parte da língua escrita e falada, mas, se usado de forma constante ou aplicado no momento errado, torna-se gerundismo, um dos vícios de linguagem mais comuns do mercado de trabalho atual. Veja exemplos:
“vamos estar atendendo ao seu pedido”, quando se poderia simplesmente dizer “vamos atender ao seu pedido”;
“aguarde um minuto, estarei lhe ajudando em breve”, quando ficaria bem melhor “aguarde um minuto, vou ajudá-lo em breve”, entre outros.
A cacofonia torna as frases truncadas, geralmente pela repetição de sílabas de forma muito próxima. É dividida em colisão, eco, hiato e cacófato. A seguir, trazemos alguns exemplos.
“Ele deu a comida na boca dela”, que soa desagradável por remeter à palavra “cadela”.
“O frio está leve, mas em breve cairá a neve”. A frase soa mal porque traz uma série de repetições de sílabas responsáveis por fazer o texto rimar sem que haja essa intenção.
“Eu vou à aula hoje”. A repetição de vogais pode soar incômoda, se ocorrer exageradamente.
“Você pode me dar uma mão com a faxina?”, frase que pode ser confundida com “um mamão”.
No preciosismo, termos rebuscados são usados de forma exagerada e fora de contexto. Abaixo, veja o mesmo exemplo usado no item “Obscuridade”, porém com termos diferentes.
“Durante a corrida, o piloto intrépido desviou de acidentes como o roedor escapole do assédio de um felídeo, chegando ao topo do pódio ao final do itinerário, para seus condignos momentos de adulação.”
A leitura é a melhor forma de desenvolver a habilidade de se comunicar de forma precisa, clara e simples. Bons livros, jornais e revistas trazem textos de qualidade que, se consumidos com frequência, deixam o cérebro mais habituado à linguagem sem vícios.
Estudar as regras da língua portuguesa, assistir a programas de TV ou escutar rádio e podcasts — desde que estes contem com comunicadores qualificados — também são boas formas de entender a melhor forma de escrever e falar. A prática, é claro, também não deve ser deixada de lado, para que seus textos melhorem a cada dia: portanto, escreva!
Ao longo do artigo, procuramos falar a respeito dos vícios de linguagem na fala e na escrita, chamando a atenção especialmente para os cuidados a serem tomados no ambiente profissional. Além de afetarem a imagem de quem comete esses deslizes linguísticos, eles podem trazer prejuízos pela incompreensão do que se deseja dizer de fato, com impacto no bom andamento das tarefas em uma organização.