O trovadorismo surgiu na região de Provença, na França, se espalhou por quase todo território Europeu tendo seu declínio no século XI. Quem escrevia as composições eram chamados de trovadores. Quem cantava ou recitava os poemas era chamado de Jogral.
No trovadorismo, música e a poesia eram extremamente ligadas. Os poemas e os versos que eram recitados estavam sempre seguidos de música e instrumentos musicais (viola, lira, flauta e harpa). Por isso, eram chamados de cantigas trovadorescas. Existiam coletâneas das cantigas que eram chamadas de cancioneiros, as mais conhecidas são: Cancioneiro da Biblioteca de Lisboa e o Cancioneiro da Vaticana.
O trovadorismo era dividido em dois gêneros distintos: o lírico e o satírico. No trovadorismo lírico existiam as cantigas de amor e de amigo, que falavam das sensações e os sentimentos que existia nas relações. As produções do trovadorismo geralmente eram voltadas para temas que envolvessem amor e sofrimento amoroso.
Já o trovadorismo satírico tem como característica o humor ácido e debochado. Ele fazia críticas a sociedade feudal da época. As cantigas satíricas eram divididas em cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.
Ambas as cantigas faziam sátiras ou deboche, porém existia uma diferença em relação como a sátira era feita. A cantiga de escárnio tinha um tom mais leve e a cantiga de maldizer era direta e ácida.
Os trovadores – quem escrevia as cantigas – compunham as cantigas de amor na primeira pessoa, e era comum eles se colocarem em uma posição de inferioridade e submissão em relação à pessoa amada.
Esse tipo de cantiga existia uma grande tendência de veneração e adoração à mulher amada, que geralmente era inalcançável da mesma forma como o amor idealizado.
No trovadorismo o amor descrito tinha muita e cortesia, porém era sofrido e possuía aspecto de um amor inalcançável ou não correspondido.
Veja esse exemplo de cantiga de amor:
“Estes meus olhos nunca perderan,
senhor, gran coyta, mentr’ eu vivo fôr;
e direy-vos, fremosa mia senhor,
d’estes meus olhos a coyta que an:
choran e cegan, quand’alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.
Guisado teen de nunca perder
meus olhos coyta e meu coraçon,
e estas coytas, senhor, mias son:
mays los meus olhos, por alguen veer,
choran e cegan, quand’alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.
E nunca ja poderey aver ben,
poys que amor já non quer nen quer Deus;
mays os cativos d’estes olhos meus
morrerán sempre por veer alguen:
choran e cegan, quand’alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.”
Como o nome já diz, na cantiga de amigo o principal tema tratado era a amizade ou amor-amizade. As cantigas de amigo eram protagonizadas por uma narradora mulher, não idealizada e humilde, que assumia a sua amizade a um amigo ou a um amor platônico.
Estas cantigas tinham como característica um forte sentimento de sofrimento, tristeza e angústia por causa da separação de um amigo ou do homem amado.
Veja um exemplo de cantiga de amigo:
“Ondas do mar de Vigo
Se vires meu namorado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Ondas do mar revolto,
Se vires o meu namorado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Se vires meu namorado,
Aquele por quem eu suspiro!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Se vires meu namorado
Por quem tenho grande temor!
Por Deus, (digam) se virá cedo! ústia pela separação de um amigo ou do homem amado.”
O trovadorismo nasceu na Idade Média, momento que a sociedade vivenciava o feudalismo. Por conta disso, o tema principal eram críticas à sociedade feudal da época.
Trocadilhos e ambiguidades eram comuns nas cantigas de escárnio, que eram mais leves e tinham sátiras de maneira indireta. Essa cantiga tinha como característica frases de duplo sentido e trocadilhos.
Exemplo cantiga de escarnio:
“Num dia que não se advinha,
meus olhos assim estarão:
e há de dizer-se: “Era a expressão
que ela ultimamente tinha.”
Sem que se mova a minha mão
nem se incline a minha cabeça
nem a minha boca estremeça
– toda serei recordação.
Meus pensamentos sem tristeza
de novo se debruçarão
entre o acabado coração
e o horizonte da língua presa.
Tu, que foste a minha paixão,
virás a mim, pelo meu gosto,
e de muito além do meu rosto
meus olhos te percorrerão.
Nem por distante ou distraído
escaparás à invocação
que, de amor e de mansidão,
te eleva o meu sonho perdido.
Mas não verás tua existência
nesse mundo sem sol nem chão,
por onde se derramarão
os mares da minha incoerência.
Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quanto eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito “Não”.
E ondas seguidas de saudade,
sempre na tua direção,
caminharão, caminharão,
sem nenhuma finalidade.”
As cantigas de maldizer, diferente das cantigas de escárnio, eram escritas de maneira direta e as vezes agressivas. Palavrões e nome de pessoas eram citados pelos trovadores, em alguns casos.
“Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!…”
O trovadorismo nasceu na época do feudalismo, então muito conteúdo que foi produzido na literatura e poesia remetia ao modo de vida e costumes da sociedade feudal. Comportamentos da época, relação relações entre os senhores feudais e os seus vassalos viraram temas de cantigas do trovadorismo.