No início de junho, uma das editoras mais renomadas dos EUA, a Penguim, lançou uma nova tradução em inglês da obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. O que ela não esperava é que a edição se esgotaria em apenas um dia nos sites da Amazon e da livraria Barnes & Noble. É a obra de literatura latino-americana mais vendida no momento.
O lançamento se deu no momento em que países do mundo todo, principalmente os EUA, são tomados por protestos contra o racismo. Em suas redes sociais, a tradutora da edição, Flora Thomson-DeVeaux, comemorou o sucesso. “Eu sei perfeitamente que é um momento estranho para celebrar o lançamento de um livro [em referência aos protestos por igualdade racial nos EUA e o movimento #blackouttuesday]. Mas eu não teria dedicado anos da minha vida a traduzir este aqui se não estivesse convencida de que é um romance eterno.”
Em outro comentário no Twitter, Flora disse que a obra de Machado de Assis, que era negro, é uma obra de nosso tempo. “Há ecos – troque a febre amarela por Covid-19. E há continuidade – racismo sistêmico, tão pungente hoje quanto era na década de 1880”.
A revista New Yorker publicou o trecho do prefácio da nova edição o intitulando como “Redescobrindo o livro mais espirituoso já escrito”. A publicação ajudou nas vendas do livro.
Antes do lançamento do livro, a tradutora publicou em fios no Twitter (thread), análises sobre o desafio de traduzir a obra. Por exemplo, a nova edição precisou inserir notas de rodapé para explicar as expressões e lugares brasileiros que não são conhecidos pelos americanos.
“Quando Memórias Póstumas foi lançado, no século 19, o cunhado de Machado precisou consolá-lo porque o livro foi praticamente ignorado: “E se a maioria do público leitor não entendeu seu último livro? Há livros que são para todos, e livro que são para poucos – o seu último é do segundo tipo, e eu sei que ele foi apreciado por aqueles que o entenderam – além disso, como você sabe bem, os melhores livros não são os que estão mais em voga”, escreveu no seu perfil. *Com informações da Super Abril.
O romance escrito por Machado de Assis foi desenvolvido, em princípio, como folhetim de março a dezembro de 1881, na Revista Brasileira. Somente no ano seguinte é que ele foi lançado como livro. A obra retrata o Rio de Janeiro e sua época, com pessimismo, ironia e indiferença – um dos fatores que fizeram com que fosse amplamente considerada a obra que iniciou o Realismo no Brasil.
Machado de Assis expõe a escravidão, as classes sociais, o cientificismo e o positivismo da época. Até hoje a obra tem sido alvo de estudos, interpretações e adaptações para diversas mídias e traduções para outras línguas.