Soneto é um poema de forma fixa que se apresenta com 14 versos e quatro estrofes, sendo dois quartetos e dois tercetos. De acordo com pesquisadores, o soneto foi criado pelo poeta e humanista italiano Francesco Petrarca (1304-1374).
A palavra soneto significa “pequena canção”, ou, de forma literal, “pequeno som”.
A criação do soneto é contestável. Em geral, sua origem é atribuída ao poeta e humanista Francesco Petrarca, do século XIV; no entanto, atualmente sabe-se que essa estrutura lírica já era usada um século antes por Giacomo de Lentino, ele teria criado a partir da poesia popular da Sicília.
O soneto chegou a Portugal através de Sá de Miranda, no ano de 1527, e Luís de Camões foi o responsável por popularizar e levá-lo ao sucesso.
O soneto mais experimentado é o petrarquiano ou italiano. Contudo, Willian Shakespeare (1564-1616) inventou o soneto inglês, formado por três quartetos (estrofes com quatro versos) e um dístico (estrofe com dois versos).
Existe também o soneto monostrófico, composto por apenas uma estrofe com catorze versos.
Normalmente os sonetos são obras literárias de conteúdo lírico formados, nessa ordem, por dois quartetos e dois tercetos.
Na estrutura de um soneto deve-se prestar atenção nos seguintes conceitos:
O soneto de Manuel Bandeira exibe a estrutura de sonetos italianos, ou seja, tem 14 versos que, normalmente, possuem dez sílabas poéticas, isto é, versos decassílabos ou alexandrinos. Esses versos são organizados em duas quadras e dois tercetos. Veja:
Frescura das sereias e do orvalho,
Dos brancos pés dos pequeninos,
Voz das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:
De quem me valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinzas que em pranto ao vento espalho?
Também te vi chorar… Também sofreste
A dor de verem secarem pela estrada
As fontes da esperança… E não cedeste!
Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo, — à vida, que nunca te deu nada!
Sempre que um soneto tiver tercetos que combinem somente duas rimas, eles deveram atender a organização cdc-dcd. Observe o exemplo dos tercetos de Manuel Bandeira:
Também te vi chorar… Também sofreste (C)
A dor de verem secarem pela estrada (D)
As fontes da esperança… E não cedeste! (C)
Antes, pobre, despida e trespassada, (D)
Soubeste dar à vida, em que morreste, (C)
Tudo, — à vida, que nunca te deu nada! (D)
Se o terceto tiver mais de três rimas elas devem ter as combinações a seguir:
Exemplo:
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida: (C)
É preciso cantá-la assim florida, (C)
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! (D)
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada (E)
Que seja a minha noite uma alvorada, (E)
Que me saiba perder… pra me encontrar… (D)
(Florbela Espanca)
Exemplo:
Ser poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito! (C)
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim… (D)
É condensar o mundo num só grito! (C)
E é amar-te, assim, perdidamente… (E)
É seres alma, e sangue, e vida em mim (D)
E dizê-lo cantando a toda a gente! (E)
(Florbela Espanca)
Exemplo:
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto (C)
onde esperança falta, lá me esconde (D)
Amor um mal, que mata e não se vê. (E)
Que dias há que n’alma me tem posto (C)
um não sei quê, que nasce não sei onde, (D)
vem não sei como, e dói não sei porquê. (E)
(Luís de Camões)
Como foi estudado, esse tipo de soneto é formado por estrofes com quatro versos e uma estrofe com dois versos. A combinação rítmica é feita seguindo as seguintes instruções:
Quando a morte cerrar meus olhos duros A
– Duros de tantos vãos padecimentos, B
Que pensarão teus peitos imaturos A
Da minha dor de todos os momentos? B
Vejo-te agora alheia, e tão distante: C
Mais que distante – isenta. E bem prevejo, D
Desde já bem prevejo o exato instante C
Em que de outro será não teu desejo, D
Que o não terás, porém teu abandono, E
Tua nudez! Um dia hei de ir embora F
Adormecer no derradeiro sono. E
Um dia chorarás… Que importa? Chora. F
Então eu sentirei muito mais perto G
De mim feliz, teu coração incerto. G
Esse tipo apresenta apenas uma estrofe, formada pelos 14 versos.
Amar é ter calhado em sorte
De viver abraçado à morte
E em lúdico beneplácito
Envolver-se banhando na lava
E deitando fora o básico
Corroer-se no ácido
Porque o amor não é neutro
E se encontra água gelada
Torna-se ilha vulcânica
Dura, porém orgânica
Que traz latente no ventre
A chama da lava ardente.
Em fase adormecida
Mas em explosão eminente.
Veja a seguir os autores brasileiros que se destacaram na produção de sonetos: