O Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que cerca de 4,75 milhões de beneficiários do Programa Bolsa Família foram identificados como irregulares até meados deste ano. Esse número representa mais de um quinto do público total do programa, demonstrando a urgência em corrigir as falhas e garantir que o benefício chegue às famílias que realmente necessitam.
Os técnicos do TCU analisaram o Cadastro Único (CadÚnico) e constataram que 22,5% das famílias não atendiam aos requisitos exigidos até maio de 2023, um mês antes das medidas de correção serem implementadas pelo governo. Entre as principais irregularidades encontradas estão inconsistências de endereço, renda e composição familiar. Essas falhas podem gerar um prejuízo de até R$ 34 bilhões aos cofres públicos neste ano, caso nada seja feito.
Além disso, ao cruzar os dados do CadÚnico com informações de estados e municípios, foram encontrados 29,8 mil CPFs inválidos e 283 mil registros com indícios de óbito. Essas inconsistências evidenciam a necessidade de uma revisão e atualização minuciosa do cadastro, a fim de garantir que o benefício seja destinado às famílias realmente necessitadas.
Diante dessas constatações, o governo federal tem adotado medidas para combater as possíveis fraudes no Programa Bolsa Família. Desde o início do ano, foram bloqueados 1,2 milhão de benefícios devido a cadastros desatualizados. Dados mais recentes, de outubro, mostram o desligamento de 297,4 mil famílias do programa por não atenderem às regras estabelecidas.
Os técnicos do TCU apontam que uma das principais falhas do Programa Bolsa Família é a autodeclaração sem os devidos controles, além da falta de supervisão e monitoramento adequados por parte do Ministério do Desenvolvimento Social. Também destacam a necessidade de uma verificação domiciliar mais eficiente, bem como a capacitação adequada dos agentes responsáveis pelo cadastro nos municípios.
O TCU propôs uma série de medidas para solucionar os problemas identificados no Programa Bolsa Família. Entre elas, destaca-se a necessidade de estabelecer sistemas de supervisão e monitoramento das gestões estaduais e municipais no Cadastro Único. Além disso, é fundamental criar uma sistemática de avaliação periódica dos dados.
Os técnicos também sugerem que o governo elabore estratégias mais eficientes de comunicação, capacitação e apoio aos agentes responsáveis pelo cadastro nos municípios. É importante informar ao Congresso Nacional as conclusões da auditoria realizada pelo TCU, a fim de aprimorar a legislação e fortalecer o combate às fraudes.
Caso o relatório seja aprovado, o TCU acompanhará a implementação das medidas propostas, garantindo que as recomendações sejam seguidas e que os problemas sejam efetivamente solucionados.
Embora o governo tenha criado um órgão específico para fiscalizar e combater fraudes no Programa Bolsa Família, a tarefa de revisar e atualizar o Cadastro Único enfrenta desafios. A falta de conhecimento das regras do programa nos municípios e a falta de investimentos na rede de assistência nos últimos anos têm dificultado esse processo.
É crucial identificar com precisão quem tem direito ao benefício e quem está burlando o cadastro, corrigindo as falhas e incluindo aqueles que realmente necessitam do programa. Tudo isso deve ser feito em um contexto de reestruturação da rede Suas (Sistema Único de Assistência Social), que foi negligenciada e sofreu cortes significativos de recursos.
O Ministério do Desenvolvimento Social reconhece as distorções na base de dados dos programas sociais e afirmou que, desde janeiro de 2023, iniciou trabalhos para retomar as ações de qualificação cadastral. Esses esforços já têm apresentado resultados positivos a partir de março.
Além disso, o ministério tem intensificado as ações de busca ativa e identificação de famílias em situação de vulnerabilidade, a fim de garantir que elas sejam incluídas nas estratégias federais de combate à fome e à pobreza. Essas medidas visam assegurar que as famílias que realmente necessitam sejam atendidas pelo Programa Bolsa Família, proporcionando a elas um ponto de partida para alcançar outros direitos e melhorar sua autonomia e desenvolvimento.
A identificação de 4,75 milhões de beneficiários irregulares no Programa Bolsa Família demonstra a necessidade de aprimoramento do sistema de cadastro e monitoramento. É fundamental que sejam implementadas as medidas propostas pelo TCU, como a supervisão e o monitoramento das gestões estaduais e municipais, a revisão periódica dos dados e a capacitação dos agentes responsáveis pelo cadastro.
Somente dessa forma será possível garantir que o benefício chegue às famílias que realmente necessitam, evitando fraudes e prejuízos aos cofres públicos. Além disso, é essencial fortalecer a rede de assistência social, investindo em infraestrutura e capacitando os profissionais que atuam na ponta, a fim de garantir uma gestão eficiente e justa do Programa Bolsa Família.