Centenas de mães e pais de alunos de escolas particulares do Rio de Janeiro estão pedindo, em um abaixo-assinado, que os colégios se posicionem contra a mensagem divulgada pelo Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado da cidade, em um vídeo publicado nas redes sociais, no fim de semana.
A gravação ataca as medidas de isolamento social para defender o retorno das aulas presenciais, e teve uma repercussão tão negativa que já foi até retirada dos perfis do Sinepe-Rio (Sindicato das Escolas Particulares do Estado do Rio de Janeiro), mas ainda circula na internet e traz a seguinte mensagem:
“Vimos que a ciência é a vacina. Estudos só confundiram. Trancar todos em casa não é ciência. Confinar é desconhecer, ignorar, subtrair vida, fragilizar, debilitar, mexer com o emocional. As crianças precisam voltar a se relacionar, brincar, refazer laços. Rever seus amigos. Hora de reflorir”.
Algumas unidades de ensino se anteciparam ao pedido dos responsáveis. Pelo menos quatro, entre as mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Colégio São Vicente de Paulo, as escolas Sá Pereira e Edem, assim como o Centro Educacional Anísio Teixeira, enviaram comunicados aos pais afirmando que discordam do conteúdo do vídeo.
O psicanalista e professor universitário Fernando Tenório se diz aliviado porque as três filhas estudam em um desses estabelecimentos. O Sinepe defende a voltas às aulas, que foi autorizada pela Prefeitura do Rio de Janeiro para ocorrer no próximo dia 3 de agosto, mas apenas para os 4º, 5º, 8º e 9º anos do ensino fundamental – e somente nas escolas particulares.
Mas há um impasse entre governos, já que a Secretaria Estadual de Educação alega que cabe a ela decidir sobre o ensino particular no Estado, e as aulas não devem voltar até que a cidade esteja em bandeira amarela, a mais branda, de risco para coronavírus.
O Sindicato dos Professores do Município do Rio, que já se posicionou contrário à reabertura, recebeu com indignação o vídeo do Sinepe. O vice-diretor do Sinpro, Afonso Celso Teixeira, afirmou que os professores esperam que o sindicato patronal faça uma retratação.
A mensagem do vídeo também contraria o posicionamento da Fundação Oswaldo Cruz, principal referência científica do país no combate de doenças infecciosas, como o coronavírus. Em dois estudos divulgados na semana passada, a Fiocruz afirma que é precipitado o retorno às aulas sem o controle da pandemia, justamente porque representaria uma quebra significativa no isolamento social das crianças e adolescentes, que podem se tornar vetores do vírus, além de desenvolverem a Covid-19.
O Sinepe foi procurado para comentar a repercussão do vídeo, mas não respondeu até o fechamento da reportagem da Rádio Agência Nacional.