Rima é a uniformidade ou semelhança sonora entre as palavras, seja no final ou no meio dos versos. O recurso começou a ser estudado a partir do século XX, através dos estudos dos formalistas russos como, por exemplo, Roman Jokobson. Diante disso, surgiram definições e classificações para rima na ciência linguística.
A rima é classificada conforme a fonética, acentuação, posição na estrofe e no verso e de acordo com o valor. Além disso, o recurso pode colaborar com o ritmo, com a expressividade e com a memorização.
As rimas são classificadas em:
Alternada ou cruzada (ABAB): quando o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo com o quarto;
Ex: “O tempo cobre o chão de verde manto, A
Que já coberto foi de neve fria, B
E em mim converte em choro o doce canto.” A (Luís de Camões)
Intercalada ou interpolada (ABBA): frequentemente utilizada em sonetos. O primeiro verso tem som igual ou semelhante com o quarto e o segundo com o terceiro;
Ex: “Mudam-se o tempo, mudam-se as vontades, A
Muda-se o ser, muda-se a confiança, B
Todo mundo é composto de mudança, B
Tomando sempre novas qualidades.” A (Luís de Camões)
Rima emparelhada (AABB): quando o primeiro verso combina com o segundo e o terceira com o quarto;
Ex: “O universo não é uma ideia minha. A
A minha ideia do Universo é que é uma ideia minha. A
A noite não anoitece pelos meus olhos. B
A minha ideia da noite é que anoitece por meus olhos”. B (Fernando Pessoa)
Encadeada: Quando rimam palavras que estão no fim do verso e no interior do verso seguinte;
Ex: “Voai, zéfiros mimosos
Vagarosos, com cautela.” (Silva Alvarenga)
Rima misturada (CDE): não apresentam ordem determinadas entre as rimas.
Ex: “A chuva chove mansamente em resende … como um sono
Que tranquilize, pacifique, resserene…
A chuva chove mansamente… Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine…
E vem-me o sonho de uma véspera solene,
Em certo paço, já sem data e já sem dono…
Véspera triste como a noite, que envenene
…Num velho paço, muito longe, em terra estranha,
Com muita névoa pelos ombros da montanha…
Paço de imensos corredores espectrais,
Onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas,
Enquanto o vento, estrepitando pelas portas,
Revira in-fólios, cancioneiros e missais.” (Manuel Bandeira)
Interna ou coroada: quando a semelhança fonética aparece no interior do verso;
Ex: “[…] Vai! Diz aos anjos que te deem seus cantos,
por estes prantos que meus olhos têm!
e se em mim perdes maternal ternura,
a Virgem pura que te seja mãe!….” (Tomás Ribeiro)
Rima externa: é o tipo mais comum de rima, pois o ocorre no final do verso.
Ex: “Lembranças, que lembrais meu bem passado
Para que sinta mais o mal presente
Deixai-me se quereis viver contente
Não me deixeis morrer neste estado.” (Luís de Camões)
Perfeita: caracteriza-se pela uniformidade absoluta entre os sons, podendo ser formada com as três últimas letras da última palavra no verso;
Ex: “Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!” (Joaquim Osório Duque Estrada)
Rima toante: formada por palavras com terminações coincidentes apenas nas vogais, muito usada na poesia espanhola;
Ex: “Amargura
Amar cura.” (João Batista dos Santos)
Aliterante: quando repetem-se as consoantes;
Imperfeita: quando apenas há identidade apenas entre as vogais finais, correspondendo aos sons finais semelhantes;
Ex: “Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora.” (Caetano Veloso)
Rima pobre: rimas de palavras da mesma classe gramatical (Substantivos e verbos ou verbo e substantivo) e ou quando as palavras terminam em sons corriqueiros (Substantivos e verbos ou adjetivos e substantivos ou pronomes e adjetivos);
Ex: “[…] Minha alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura […]” (Olavo Bilac)
Rica ou consoante: quando rimam palavras raras que surpreendem pela novidade ou são pertencentes às classes gramaticais diferentes;
Ex: “[…] Sei que se um gênio bom me aparecesse
E tronos, glórias, ilusões floridas,
E os tesouros da terra me oferecesse
E as riquezas que o mar tem escondidas.” (Gonçalves Dias)
Rima preciosa: são as rimas artificiais produzidas palavras combinadas.
Ex: “[…]Se amar é sonhar contigo,
Se é pensar, velando, em ti,
Se é ter-te n’alma presente
Todo esquecido de mim! […]” (Gonçalves Dias)
Existem os versos sem rimas, também chamados de versos brancos.
Ex: “[…] Minh’alma é trêmula da revoada dos Arcanjos.
Eu escancaro amplamente as janelas.
Tu vens montada no claro touro da aurora.
Os clarins de ouro dos teus cabelos na luz.” (Mário Quintana)
Aguda: entre palavras oxítonas ou monossílabas;
Ex: “[…] Quero você
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão…
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos.” (Manuel Bandeira)
Rima esdrúxula: acontece entre palavras proparoxítonas;
Ex: “Encontrei na vida uma forma estética
Por amor, esqueci o princípio da ética
Porque o meu ser, meu veio romântico
Canção de amor, torna-se meu cântico.” (Patrícia Resh)
Grave: ocorre entre palavras paroxítonas.
Ex: “É um flamejador, dardânico
Uma explosão de rápidas ideias,
Que com um mar de estranhas odisseias
Saem-lhe do crânio escultural, titânico! […]” (Cruz e Sousa)