Direitos do Trabalhador

Quem mais vai sofrer é quem mais ganhou por causa do auxílio, afirma economista

Coordenador de pesquisas sobre os impactos da Covid-19 afirma que impacto maior será para os vulneráveis

A partir de janeiro de 2021, os mais pobres devem passar por “tempos duros”. A partir do ano que vem, os mais vulneráveis não terão mais o pagamento do auxílio emergencial e o programa de suspensão de contratos e redução de jornada e salário chegará ao fim.

Essa é a avaliação de Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social). Neri foi coordenador de dois estudos, um sobre as mudanças nas classes econômicas a partir da Covid-19 e outro sobre a relação da pandemia com o mercado de trabalho brasileiro.

“Apesar de a desigualdade e a extrema pobreza estarem piorando de 2014 a 2019 essa mudança do auxílio emergencial foi tão forte que estamos no melhor momento da série. A pobreza nunca foi tão baixa e ela tinha aumentando no período anterior. Mas é um retrato fugaz, ele não vai se manter, até pelas condições fiscais brasileiras. É um paradoxo. Numa pandemia você espera uma situação social, só que essa situação social virá em 2021″, afirmou o economista para a revista Carta Capital.

Neri sugere a criação de um problema de transferência de rendas, como o Bolsa Família, para o ano que vem. “O Brasil tinha uma situação fiscal das piores da América Latina e fomos mais generosos do que quase a totalidade dos países nas despesas fiscais. Vamos ter que buscar soluções parciais, pois não temos condições [fiscais] de enfrentar a escala do problema. Uma solução é [construir] um Bolsa Família 2.0, que fosse no máximo a 70 bilhões de reais. O pode fazer é, de um lado, fazer esse programa social mais robusto e, por outro, avisar as pessoas que o pior está por vir. O Brasil foi generoso, mas não sei se fomos sábios. Saberemos daqui a um ano”, continuou.

A pesquisa liderada pelo economista concluiu que o auxílio emergencial fez com que 15 milhões de pessoas saíssem da pobreza, representando uma diminuição de 23,7% no índice. Pobreza é definida por quem tem renda domiciliar per capita de até R$ 522,50, meio salário mínimo.