Cerca de 17% dos trabalhadores negros do país tiveram que mudar de emprego pelo menos uma vez para fugir do racismo. Isso não é um fenômeno novo. Tanto é que a pesquisa do Instituto Guetto perguntou se isso aconteceu na vida dessas pessoas alguma vez na vida deles.
De acordo com os dados oficiais da pesquisa, cerca de 44,5% dos trabalhadores que responderam a entrevista disseram que poderiam trocar de emprego se sofressem racismo no ambiente de trabalho. Isso mostra portanto que menos da metade das pessoas não faria a troca.
Em números gerais, isso quer dizer que muito mais do que 17% dessa população trabalhista sofreu ou sofre racismo no trabalho. No entanto, uma parcela importante dessas pessoas decide não trocar de trabalho. A maioria escolhe seguir por medo de não conseguir um emprego novo.
De acordo com os especialistas do Instituto Guetto, boa parte desses casos de racismo no trabalho parte dos próprios colegas ou mesmo dos chefes. Em alguns casos, as vítimas decidem entrar na Justiça do Trabalho para tentar relatar o crime. Nesses casos, no entanto, é muito difícil seguir no mesmo ambiente de trabalho.
“Os profissionais negros precisam se sentir respeitados, ouvidos, pertencentes e capacitados na instituição desde o processo de seleção até cargos de prestígio”, disse Vitor Del Rey, que é o Presidente do Instituto Guetto. “A discriminação contra pessoas negras e pardas aparece no dia a dia da empresa, mas começa nos processos de seleção e promoção de vagas”, completou ele.
A declaração de Vitor vem de encontro com um dos resultados desta pesquisa. É que o instituto perguntou aos trabalhadores o que eles acreditam que as empresas precisam fazer para mudar esta realidade. E para 72% dos entrevistados, elas precisam colocar mais negros no processo de escolha dos empregados.
Até aqui, nenhuma grande pesquisa nacional tentou medir a quantidade de recrutadores negros nas principais empresas do país. No entanto, se entende que eles são uma minoria dentro de um grande universo. E isso pode acabar fazendo toda a diferença nesta questão.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Brasil hoje é de 14,7%. Quando se considera, no entanto, apenas a situação dos trabalhadores negros, essa taxa sobe para o patamar de 18,6%. E de acordo com especialistas, isso não é só uma coincidência.
Como dito, esse não é um problema que passou a existir depois da pandemia do novo coronavírus. No entanto, os últimos meses foram especialmente cruéis para uma determinada parcela da população. De acordo com pesquisas nacionais, negros e pobres estão sofrendo muito mais neste momento quando o assunto é o mercado de trabalho.
É que a grande maioria deles estava trabalhando na informalidade quando a doença chegou por aqui. Por isso, com os fechamentos, muitos deles ficaram sem renda. O Auxílio Emergencial do Governo Federal não passa dos R$ 375 e nem todo mundo está podendo receber.
A morte também está chegando com mais facilidade para eles. Quando se analisa apenas os números do estado de São Paulo, se percebe que os óbitos de trabalhadores por Covid-19 se concentram muito mais nas profissões que costumam ter salários menores. Pedreiros, motoristas de aplicativos e domésticas negras ajudam a engrossar essa lista.